Um dia a ser lembrado

 Jessé Souza

Um dia a ser lembrado

Bolsonaro representa o que há de mais abjeto na espécie humana
22/11/2025 | 14h07



Acordei hoje as 08:30, um pouco mais tarde do que de costume, com uma notícia maravilhosa: Bolsonaro está, finalmente, preso! Quem o ama o ama sem limites racionais, mas quem o odeia também, e me incluo entre estes últimos. 

A alegria que vi nas redes sociais acerca deste dia mostra que ainda somos humanos. Bolsonaro representa o que há de mais abjeto na espécie humana: a ausência de empatia com o sofrimento alheio; e a mentira e a manipulação da vulnerabilidade alheia como moeda.

Eu não sou religioso, mas como sociólogo sei que foi o cristianismo que moldou a gramática moral do Ocidente secular. A primeira e mais importante ideia crista é a empatia com o sofrimento alheio, especialmente daqueles mais frágeis. Todo o processo de civilização secular, como nos ensina o grande Norbert Elias, é um reflexo desta ideia. Ser “civilizado” passa a ser percebido como diminuição da dor e do sofrimento evitável. Bolsonaro representa, sem qualquer intenção retórica, portanto, a barbárie e a canalhice, e o desprezo que tantas vezes ele manifestou em relação aos doentes, aos negros, aos pobres, às mulheres, aos gays, mostram isso sobejamente. Culminando no crime maior de todos de atentar contra a democracia, o bem maior de 3 mil anos de civilização no Ocidente.

Mas Bolsonaro não agiu sozinho. Ele precisou, não nos esqueçamos jamais, que toda a mídia corporativa o blindasse em 2018, apresentando um ladrão contumaz como bastião da honestidade e da antipolítica. As “rachadinhas” históricas de Bolsonaro subiram de nível na Presidência, e ele aprendeu a fazer rachadinhas com sheiks árabes, que ficaram tão contentes em comprar refinarias a preço de banana que inundaram ele e sua esposa em joias. Este é e sempre foi o único projeto político de Bolsonaro: roubar na mão grande. Um canalha medíocre.

Mas a maior ameaça de Bolsonaro é o seu talento de mobilizar a vulnerabilidade dos humilhados e ofendidos por uma ordem social que não compreendem, contra os melhores interesses desta multidão empobrecida. Com isso seu governo ofereceu “base popular” à política mais antipopular que existe:  o roubo grande da elite financeira que garante lucros estratosféricos para o agronegócio e para os “investidores” americanos que ficam com a parte do leão da riqueza produzida por todos.

Paulo Guedes, a melhor corporificação do espírito estreito e voraz de nossa elite financeira, ofereceu de bandeja a seus amigos da Faria Lima empresas estatais subfaturadas – o espólio histórico de uma elite improdutiva depois de cada golpe de Estado – e ajudou os bancos, mas não o povo sofrido na pandemia. O governo brasileiro se negou e adiou o quanto pode qualquer ajuda a um povo abandonado na pior hora. Foi esta política que a sedução demoníaca de Bolsonaro legitimou nas camadas populares. Este é o real risco de gente como Bolsonaro, que criou uma matilha de oportunistas dispostos a confundir deliberadamente o público. Não são os militares que tramaram os golpes o nosso real inimigo, embora também o sejam, já que eles, como o próprio Bolsonaro, são instrumentos e “paus mandados” da elite que saqueia todo mundo. É apenas por conta delas que temos gente como Bolsonaro perturbando vidas e ceifando trajetórias pelo descaso ou violência.

A prisão de Bolsonaro nos devia lembrar do nosso real inimigo: uma elite que existe apenas para organizar o saque da própria população em nome das elites metropolitanas e cobrar o seu pedágio pelo trabalho sujo. Segundo seu próprio dono, o BTG pactual, o maior banco de investimentos do país, tem 19 americanos dentre seus 20 maiores clientes. Precisamos de mais alguma informação para saber em benefício de quem se dá o saque de nossa gente? Por conta disso, o Estadão e todos os jornais da elite protestaram contra Trump e sua interferência aqui. Afinal, se os EUA passarem a mandar diretamente, qual a função social da elite nativa?  Essa é a canalha que nos governa há 500 anos.

Refletir sobre a prisão de Bolsonaro significa, para mim, ou deveria significar, possibilitar que o povo brasileiro saiba quem é seu real inimigo. Posto que, até hoje, ninguém contou isso para ele. Sem isso, os novos “Bolsonaros” irão bater na nossa porta. Aliás, já estão batendo…. 

https://iclnoticias.com.br/um-dia-a-ser-lembrado/

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