Ele defende os ricos e quer “sangrar Lula”: Veja quem é Ciro Nogueira - Série traidores do povo pobre Brasileiro
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Ele defende os ricos e quer “sangrar Lula”: Veja quem é Ciro Nogueira
Fórum buscou cada uma das acusações que pesam contra o senador que “virou bolsonarista” por ocasião e agora trama para derrubar o governo Lula. E tem cada coisa nessa história
Por Henrique Rodrigues
Escrito POLÍTICA 9/7/2025 · 16:21 hs
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) ocupa há décadas um espaço privilegiado na engrenagem da política brasileira, costurando alianças, acumulando influência no Congresso e moldando, a cada mandato, a imagem de um “articulador incansável”, mas também de um veterano envolto em denúncias de corrupção que insistem em acompanhá-lo. Natural do Piauí, um dos maiores redutos eleitorais de Lula, foi justamente sob o manto da popularidade do petista que Ciro viu sua carreira política decolar. Hoje, ironicamente, tenta se apresentar como guardião da moralidade fajuta bolsonarista e crítico implacável do governo de um homem que, no passado, o impulsionou.
Agora, Ciro veste o gibão de agitador profissional, posando de soldado fiel do bolsonarismo enquanto desenrola, nos bastidores, toda sorte de manobra para ver Lula “sangrar”, sua grande meta política. Mesmo agarrado à velha prática fisiológica do Centrão, o senador piauiense encarna sem pudor o discurso raivoso da extrema direita, surfando no radicalismo tosco para tentar sabotar o governo que um dia o fez ir mais longe. Essa guinada, porém, tornou-se piada pronta em Brasília: entre repórteres de bastidores e velhos caciques do Congresso, ele virou sinônimo de oportunista vulgar, um moralista de ocasião que berra contra a corrupção enquanto carrega nos ombros um histórico de denúncias que não cabem em um único palanque.
No novo e conturbado episódio de enfrentamento entre o Executivo e o Legislativo, em que o Judiciário foi acionado como árbitro, Ciro foi escalado nesta quarta-feira (9) pela GloboNews para defender os donos do dinheiro e espalhar seus ataques ao governo, sempre posar de paladino desinteressado, mas dando pitacos que favorecem invariavelmente os interesses da elite. Ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro e figura central no que está sendo chamado de “golpe dos ricaços”, capitaneado pelos presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Ciro Nogueira usou a entrevista para distorcer as mudanças no IOF, alegando, sem pudor, que elas atingiriam “pessoas de baixa renda” e “financiamentos de geladeira”, enquanto ameaçava o Planalto com uma CPI para blindar os privilégios dos mais ricos. Um discurso de moralidade que desaba quando se observa sua própria trajetória: eleito deputado em 1994 com um patrimônio modesto, Ciro viu seus bens saltarem de R$ 746 mil em 1998 para R$ 23,3 milhões em 2018, quando voltou ao Senado, o que o tornou um supercacique do Centrão, agora mascarado de bolsonarista de carteirinha.
Com seu nome novamente em evidência, é inevitável perguntar-se: Mas afinal, nesses anos todos, antes, durante e depois de tornar-se bolsonarista, e sobretudo de assumir a função de sabotador de Lula, em quais e quantos escândalos Ciro Nogueira viu seu nome envolvido? A Fórum foi a campo e fez um levantamento minucioso dessa trajetória para revelar quem é o senador que hoje quer “se crescer” para cima de Lula. Por mais que as histórias sejam múltiplas, ele jamais recebeu qualquer condenação por elas.
1 – Propinas da Odebrecht (Operação Lava Jato)
Na Lava Jato, a Procuradoria-Geral da República acusou o senador de embolsar R$ 7,3 milhões em propinas pagas pela Odebrecht entre 2014 e 2015. O objetivo seria garantir apoio político e facilitar negócios da Braskem, braço petroquímico da empreiteira. De acordo com delações e registros internos da Odebrecht, o dinheiro circulava com codinomes [“Piqui” e “Cerrado”] que faziam referência direta ao senador. Ainda assim, a denúncia acabou barrada no Supremo Tribunal Federal, que invalidou provas da leniência da empreiteira.
2 – Acusação de suborno com a UTC Engenharia
Outro episódio marcante veio à tona com a UTC Engenharia. Em 2014, delatores afirmaram que Ciro pediu R$ 2 milhões em troca de favorecimentos em obras do Ministério das Cidades e do governo piauiense. Também aqui o Supremo encerrou o caso por insuficiência de provas, mas a história alimentou o repertório de acusações que orbitam sua imagem.
3 – Obstrução de Justiça no “Quadrilhão do PP”
Quando se fala no “Quadrilhão do PP”, o nome de Ciro aparece novamente. Em 2018, o senador foi acusado de tentar subornar uma testemunha-chave para alterar o rumo de depoimentos que poderiam comprometer sua posição no suposto esquema de desvios bilionários da Petrobras. No entanto, mais uma vez o STF enterrou a denúncia, com um voto decisivo de um ministro indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
4 – Investigações envolvendo OAS e Engevix
Além desses processos, Nogueira também foi alvo de investigações envolvendo empreiteiras como OAS e Engevix. Segundo apurações jornalísticas da época, ele teria recebido R$ 1 milhão da OAS em troca de apoio a uma medida provisória no Senado e de destravar um financiamento da Caixa Econômica para a Engevix. Embora não tenham gerado denúncias formais, essas investigações permanecem sob sigilo até hoje.
5 – CPI das Bets e relações com o setor de apostas
Mais recentemente, seu nome ganhou destaque na CPI das Bets. Enquanto a comissão investigava a bilionária indústria de apostas online, vieram à tona informações de que o senador teria voado até Mônaco no jatinho de Fernando Oliveira Lima, dono de uma plataforma do famigerado “jogo do tigrinho”. O empresário, conhecido como Fernandin, aparece também em transferências suspeitas: um ex-assessor de Ciro recebeu R$ 625 mil de Fernandin, oficialmente pela venda de um relógio de luxo, transação que não convenceu muita gente, considerando que o mesmo assessor transferiu mais de R$ 30 mil para a conta pessoal do senador no mesmo período, conforme publicações da imprensa.
6 – Orçamento Secreto
A habilidade de Ciro para navegar por diferentes governos se evidencia no episódio do orçamento secreto. Quando assumiu a Casa Civil de Bolsonaro, ele ajudou a coordenar o controverso esquema de emendas parlamentares distribuídas sem transparência, o que turbinou a base de apoio do governo à custa de negociações políticas que ainda hoje levantam dúvidas sobre sua lisura.
7 – Uso de dinheiro público com jatinhos
Fora dos corredores do Congresso, Ciro também foi notícia pelo escandaloso uso de dinheiro público para bancar voos em aeronaves particulares. Reportagens revelaram que, apenas entre janeiro e março de 2023, em pleno recesso, ele gastou mais de R$ 53 mil em combustível para abastecer seu avião, um Beech Aircraft B200 avaliado em alguns milhões. Entre 2019 e 2021, o valor somado com esse tipo de despesa ultrapassou R$ 580 mil. Em 2024 e 2025, as polêmicas se repetiram: ele continuou abastecendo jatinhos em um aeródromo de Teresina pertencente a outro político do Centrão, usando notas fiscais consideradas opacas, sem detalhamento do serviço. Estimativas de redes sociais apontam que os gastos podem ter chegado a R$ 180 mil.
8 – Gastos suspeitos de Eliane Nogueira, sua mãe
A família de Ciro também entrou na lista de gastos questionados. Sua mãe, Eliane Nogueira, que ocupou sua cadeira no Senado quando ele virou ministro, já que ela é sua suplente, usou verba parlamentar também para abastecer aviões mesmo depois de ter declarado ao TSE que não possuía aeronaves. Entre 2021 e 2022, Eliane chegou a desembolsar quase R$ 47 mil em combustível de aviação, além de migrar depois para carros de luxo alugados, mantidos por R$ 15 mil mensais, pagos com dinheiro público.
9 – Negócios familiares sob suspeita
Em meio a tudo isso, surgiram negócios suspeitos de lavagem de dinheiro envolvendo a empresa da família Nogueira, a Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis. Segundo registros do Coaf, a empresa teria vendido imóveis para o empresário Fernandin, esse mesmo, o “homem do tigrinho”. Uma sala comercial comprada por R$ 3,7 milhões, quase dez vezes o valor venal do imóvel, foi revendida em três meses por R$ 7 milhões, uma valorização que chama a atenção de qualquer auditor.
No fim das contas, Ciro Nogueira se sustenta como peça central do jogo político brasileiro, mestre em articulações, mas também expert em sobreviver a denúncias e em se reinventar como paladino da moralidade. Mas, para quem o acompanha de perto, sua imagem continua indelevelmente ligada a um passado, e presente, de supostos e alegados esquemas, manobras e cifras que não harmonizam com o discurso “anticorrupção” que agora ele tenta vender ao eleitor.
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