Silêncio de Cid grita que coronel está zonzo e pode deixar mais gente tonta
Josias de Souza -
Colunista do UOL
Muito já se ouviu sobre a bolsonarição da biografia de Mauro Cid —ou da folha corrida do coronel, que a Polícia Federal já trata como a mesma coisa. Mas nada soou tão desconcertante quanto o barulho do silêncio de Cid durante o que deveria ter sido o seu depoimento à Polícia Federal.
A Constituição assegura aos suspeitos o direito de silenciar para evitar a autoincriminação. Mas imaginou-se que Cid tentaria ao menos atenuar os indícios colecionados pelos investigadores contra ele. De resto, o preso havia sinalizado nos bastidores a propensão de assimilar sozinho as culpas, preservando o ex-chefe.
A mensagem invisível de Cid, expressada pela força do seu silêncio eloquente, é a de que o barulho emitido pelo conteúdo do seu celular tóxico é mais forte do que a sua capacidade de explicar por que um militar com carreira de vitrine meteu-se em encrencas tão vulgares: a falsificação de certificados de vacina, a tentativa de resgatar na carteirada joias sauditas retidas na alfândega, o pagamento em dinheiro vivo das despesas de uma primeira-dama com a imagem já bem rachadinha, as conversas vadias com colegas de farda sobre golpe.
Decorridos 15 dias da sua prisão, Mauro Cid ainda não se sente à vontade nem para se defender nem para matar no peito as responsabilidades alheias. Seu silêncio diz muito sobre o derretimento de uma reputação submetida à radioatividade de Bolsonaro.
O preso trocou de advogado. Substituiu um doutor avesso a delações por outro que é especialista em acordos de colaboração premiada. A despeito do excesso de orientação jurídica, as palavras não-ditas à Polícia Federal gritam que Mauro Cid está zonzo. Dependendo do que disser quando resolver quebrar o silêncio, pode deixar mais gente tonta.
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