Bolsonaro desmonta o país com ajuda da síndrome do boi sonso
Olga Curado
Colunista do UOL
07/07/2022


A síndrome do boi sonso é um cabo eleitoral do ex-capitão.
É um diagnóstico não catalogado oficialmente.
Mas proponho aqui, considerando o conjunto de sintomas que acomete o portador, que ela seja causa para aposentadoria compulsória.
Para ficar mais concreto, um candidato a inaugurar essa nova condição sanitária: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
A síndrome do boi sonso apresenta um tom de voz próprio.
A entonação é meio dormida, meio embolada, meio sonífera para a audiência, e traz um conjunto de palavras igualmente inacessíveis, do ponto de vista do vocabulário mundano do dia a dia, mas revela uma inaudita preocupação em parecer solene.
Portanto, para ser um boi sonso, é preciso, em primeiro lugar, não parecer que é sonso, mas sim que tem compromisso com temas absolutamente superiores.
Um número absurdo de pessoas passando fome, mas o sonso fica focado nas questões comezinhas próximas a seu estômago e ego.
Um exemplo.
O país experimenta a triste e agonia de 33 milhões de pessoas passando fome.
O que ocupa o portador da síndrome?
A organização de empregos para colegas de parlamento.
Corre com velocidade impensável proposta para que senadores e deputados possam ter emprego de parlamentar concomitantemente ao de embaixador.
Ter salário pago com todas as regalias possíveis em países de primeiro mundo - como embaixadores, sem perder igualmente as regalias do próprio mandato.
Claro, no circuito Elisabeth Arden: Paris, Nova York, Londres e Roma ou até Lisboa...
E não basta.
O portador da síndrome do boi sonso senta-se em cima de investigações que podem contar ao Brasil acerca de uso de dinheiro que iria para escolas e que teria sido direcionado para a compra de barras de ouro e de bíblias em lugar de atender às demandas da educação.
Afinal o país do futuro está no futuro, e com esse o portador da síndrome não tem o menor compromisso.
De mãos dadas com parceiros da sua igualha - aquele que garantiu a escadinha para ocupar o cargo de presidente do Senado, o tal Alcolumbre, que não trai a natureza de estar o mais perto possível de onde emana um poderzinho, célere na sua agenda que visa nada mais nada menos que ele mesmo.
Mas a síndrome do boi sonso é complexa.
O diagnóstico diferencial é a maneira intensa e ágil com que garante a própria sobrevivência.
Esse é o mais importante: o boi sonso pensa em si e nos seus.
Voltando ao personagem símbolo de tal síndrome, caso fosse ela reconhecida como mal a ser tratado, tendo apenas como referência o que se verifica no Senado Federal, pela via da sua presidência.
É ela que deixa correr solta uma entusiasmada iniciativa em mudar a Constituição, para jogar dinheiro na economia via benefícios financeiros em auxílios diversos.
Considera menos os ganhos dos que precisam e mais os efeitos para o seu futuro - que quer garantir - de mais dois anos como presidente do Senado.
É o que importa.
Deixa que o conto do vigário iluda aqueles que acreditam que vão se beneficiar.
A PEC (Proposta de Emenda Constitucional) "Kamikaze" - a compra dos votos para garantir a reeleição de Pacheco, de Arthur Lira e do ex-capitão.
O boi sonso, normalmente - sem qualquer identificação com um personagem - é basicamente um covarde.
Geralmente isso aparece nos movimentos do corpo - estudadamente comedidos, no olha esgazeado durante entrevistas coletivas, em uma protuberância mal disfarçada na barriga crescida pela ingestão de banquetes seguidos de negociações em que o bem comum passa longe.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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