Brasileiros vão trocar leite por água com disparada do preço no Brasil
Leonardo Sakamoto
Colunista do UOL
06/07/2022
A riqueza de uma família já pode ser medida pela quantidade de caixinhas longa vida que ela mantém na dispensa.
Depois do óleo de soja, do café e da carne bovina, o leite está se tornando produto de luxo na mesa e na cozinha de muitos brasileiros.
De acordo com o tradicional levantamento mensal de preços do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), divulgado nesta quarta (6), o litro de leite subiu em todas as 17 capitais avaliadas pelo instituto.
Em alguns lugares, já há marcas vendidas a impressionantes R$ 10.
Ironicamente, a capital que apresentou maior alta do preço médio, entre maio e junho, foi a de Minas Gerais, estado que é o maior produtor do país.
Em Belo Horizonte, o litro de leite integral UHT aumentou 23,09% entre maio e junho, seguida por Porto Alegre (14,67%), Campo Grande (12,95%) e Rio de Janeiro (11,09%). Em São Paulo, a subida foi de 9,3%.
No acumulado de 12 meses, BH teve alta de 48,89%, Florianópolis, 46,7%, Porto Alegre, 44,55% e São Paulo, 29,66%.
Há fatores sazonais e climáticos.
Estamos na entressafra de inverno e a estiagem veio mais dura, o que prejudicou a qualidade das pastagens, reduzindo a oferta de leite.
Mas também há o impacto da inflação nos custos de produção, que vão da alimentação das vacas, passando pelo custo de medicamentos e fertilizantes até o combustível usado na produção, processamento e transporte do produto.
Inflação que, segundo pesquisa Genial/Quaest, divulgada também nesta quarta, é apontada como o principal problema econômico, sendo que a economia é, por sua vez, avaliada como o principal problema do país.
Os laticínios importados que ajudam a suprir a demanda nacional também encareceram com o dólar, fazendo com que essa indústria disputasse a matéria-prima.
A manteiga, por exemplo, também subiu 5,69% em Campo Grande, 5,38% em Belém, 3,23% em Recife entre maio e junho. No acumulado de 12 meses, o produto disparou 23,85% na capital do Mato Grosso do Sul. e 10,28%, em Goiânia.
Ou seja, mesmo com o fim da entressafra, o dólar alto (a moeda norte-americana subiu e fechou hoje a R$ 5,42, sob receio de recessão global) deve manter pressão sobre leite e os derivados.
Com a inflação galopante, muitos que comiam carne bovina tiveram que trocá-la por frango, quem comia frango mudou para ovo e quem comia ovo hoje passa fome.
Em menos de dois anos, o número de famintos subiu de 19 milhões para 33,1 milhões.
O mesmo pode acontecer com famílias que trocarão o leite pela água.
O governo Bolsonaro, que negou propostas do Congresso para garantir R$ 600 aos brasileiros mais vulneráveis no ano passado, quando a fome estava escalando, agora corre para pagar esse valor como Auxílio Brasil a fim de comprar votos na eleição de outubro.
Como está atropelando regras fiscais, vai ajudar a fomentar ainda mais a inflação que encarece o leite.
Mas esse alento para as famílias que estão vivendo a ovo e água só dura até o final das eleições.
Em 2023, o aumento desaparece, pois não é mais útil para o governo e seus aliados.
Daí, é cada um por si e Deus acima de todos.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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