Exército já usou helicóptero para levar revista Playboy ao general Villas Bôas na selva, mas burocratizou busca de Bruno e Dom -


"Exército agiu com descaso e inumanidade em relação aos desaparecimentos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips", diz Miola

Por Jeferson Miola

Eduardo Villas Bôas


Na vasta e insondável região amazônica, o “fator tempo” é crucial para encontrar-se pessoas desaparecidas; pode significar a diferença entre a vida e a morte. O Exército conhece muito bem a essencialidade do “fator tempo” em ações de salvamento humano na Amazônia.


Apesar disso, porém, o Exército agiu com descaso e inumanidade em relação aos desaparecimentos do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips.


Após ser cobrado a empregar equipamentos, soldados e helicópteros na busca dos dois desaparecidos, o Comando Militar da Amazônia do Exército [CMA] soltou uma nota infame e burocrática.


Nela, se diz “em condições de cumprir missão humanitária de busca e salvamento”. Mas, no entanto, ressalva: “contudo, as ações serão iniciadas mediante acionamento por parte do Escalão Superior”.


Diante da notória e deliberada negligência do governo, três dias após o desparecimento dos dois profissionais a Justiça Federal determinou “à ré União que efetive imediatamente obrigação de fazer no sentido de viabilizar o uso de helicópteros, embarcações e equipes de buscas [para] localizar Bruno Pereira e Dom Phillips”.


O Exército só se mobilizou de fato, portanto, depois que a justiça o obrigou, por meio de ordem judicial concedida ante o pedido da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari formulado em conjunto com a Defensoria Pública e o MPF.

É escandalosamente cínica a alegação do Comando da Amazônia. 

Para se desmascarar este cinismo institucional, basta se socorrer de ninguém menos que o general Villas Bôas, que fez uma revelação surpreendente no livro “Conversas com o Comandante”, organizado pelo professor Celso Castro [2021].


Para ilustrar com orgulho e rigozijo o espírito da camaradagem corporativa e nada republicana que reina na chamada “família militar”, Villas Bôas relata episódio em que o comandante do 4º Batalhão de Aviação do Exército, subordinado ao CMA, usou um helicóptero do Exército para levar uma revista Playboy a ele, o indefectível Villas Bôas, na selva amazônica.

Villas Bôas assim relata, em tom de galhofa, sem nenhum senso republicano e sem o menor compromisso com a moralidade pública, na página 106 do livro:


Já fiz referência ao coronel Pavanelo, comandante do 4º Batalhão de Aviação do Exército. Lá pelo 20º dia de internação, ouvimos um ronco de helicóptero. Depois de certificar-me de que não havia nenhum apoio aéreo previsto, aproximei-me do local de aterragem. 

Quando o Pantera pousou, o mecânico de bordo correu em minha direção e entregou-me um envelope pardo.

 Aguardei a decolagem para, então, abrir o que imaginei ser um documento. 

Era uma revista Playboy.

É significativo que para levar uma revista Playboy ao general Villas Bôas na selva, o Exército não precisou seguir o protocolo burocrático que agora alegou para se desincumbir das buscas de Bruno e Dom.


Para satisfazer o fetiche sexual o Exército não precisou do tal “acionamento por parte do Escalão Superior” que usou como álibi para retardar a missão humanitária de urgência, diminuindo as chances de Bruno Pereira e Dom Philips serem encontrados ainda com vida.

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