Sóstenes declarou menos de R$ 5 mil em bens em 2022 e teve R$ 400 mil apreendidos
Sóstenes declarou menos de R$ 5 mil em bens em 2022 e teve R$ 400 mil apreendidos
Por Cleber Lourenço
O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que teve mais de R$ 400 mil apreendidos em dinheiro durante a Operação Galho Fraco, declarou à Justiça Eleitoral nas eleições de 2022 possuir apenas R$ 4.926,76 em bens, após uma trajetória de redução abrupta de patrimônio registrada ao longo de três disputas eleitorais.
A informação consta da declaração de bens entregue pelo parlamentar ao Tribunal Superior Eleitoral no momento do registro de sua candidatura. À época, Sóstenes informou patrimônio modesto, sem registro de imóveis ou ativos de valor elevado.
O histórico de declarações patrimoniais do deputado ao TSE mostra oscilações relevantes. Nas eleições de 2014, Sóstenes declarou R$ 67.500, referentes a um veículo Hyundai Tucson. Em 2018, informou patrimônio maior, com o mesmo modelo de veículo avaliado em R$ 122 mil, além de dois depósitos bancários em conta corrente na Caixa Econômica Federal, que somavam R$ 12.689,48.
Já em 2022, o parlamentar declarou apenas saldos bancários, no total de R$ 4.926,76, sem qualquer registro de veículos, imóveis ou outros ativos, o que representa uma redução drástica de patrimônio em relação às eleições anteriores.
A discrepância entre o patrimônio declarado em 2022 e o montante apreendido pela Polícia Federal em 2025 passou a integrar o contexto da investigação que apura suspeitas de desvio de recursos públicos, uso de empresas de fachada e lavagem de dinheiro envolvendo assessores parlamentares e, em tese, deputados federais do PL.
De acordo com a linha do tempo apresentada pelo próprio deputado, Sóstenes Cavalcante declarou à Justiça Eleitoral em 2022 possuir apenas R$ 4.926,76 em bens. Segundo ele, em 2023 teria adquirido um apartamento em Minas Gerais, sem saber precisar a data da compra. Já em 2025, afirmou ter vendido o imóvel por R$ 400 mil, pagos integralmente em dinheiro vivo, valor que teria sido guardado em casa e acabou apreendido durante a operação.
Após a deflagração da operação, Sóstenes afirmou que o dinheiro apreendido teria origem na venda de um apartamento em Minas Gerais. Segundo o deputado, o imóvel teria sido adquirido em 2023 — sem que ele precisasse a data — e vendido em 2025 por cerca de R$ 400 mil, pagos integralmente em dinheiro vivo, que teria sido guardado em sua residência.
A versão, no entanto, levantou questionamentos após vir à tona que os valores estavam acondicionados em pacotes lacrados no momento da apreensão, indicando que o numerário sequer havia sido contado.
Além disso, especialistas apontam que não há exercício de imposto de renda aberto que permita a declaração de uma venda imobiliária realizada dias antes da operação, como alegado pelo parlamentar.
A apreensão do dinheiro ocorreu no mesmo contexto em que a Polícia Federal recolheu os telefones celulares de Sóstenes Cavalcante e do deputado Carlos Jordy (PL-RJ). As medidas foram autorizadas pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, relator da Petição 14.918, que concentra a investigação no STF.
No despacho que embasou a operação, o ministro destacou indícios de movimentações financeiras incompatíveis com a renda ostensiva de assessores ligados aos gabinetes investigados, além de conversas que sugerem pagamentos informais e contratos simulados de locação de veículos custeados com recursos da cota parlamentar.
Procurado, o deputado Sóstenes Cavalcante não apresentou documentos que comprovem a aquisição e a venda do imóvel nem esclareceu como passou de um patrimônio declarado inferior a R$ 5 mil para a posse de centenas de milhares de reais em espécie. O espaço segue aberto.
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