Bolsonaro arrasta com ele para a lama seus mais fiéis servidores |
Metrópoles
Não existe uma régua para medir o grau de fidelidade de servidores públicos a um presidente da República.
Em tese, todos lhe são fiéis, e os que não são acabam afastados.
Mas, sem dúvida, alguns se destacam por serem mais devotados do que os outros.
Se o presidente se dá bem, eles escalam a pirâmide social.
Se o presidente se dá mal, pode arrastá-los para a lama em que se meteu.
É o que se vê agora.
Tocou o alarme de salve-se quem puder entre os que fizeram todos os gostos de Bolsonaro.
O tenente-coronel Mauro Cid, seu ajudante de ordens, que seria recompensado com o comando de uma unidade estratégica do Exército, não só teve sua nomeação cancelada como será obrigado a se explicar em inquérito aberto pela Polícia Federal.
Foi ele, a mando de Bolsonaro, que às vésperas da fuga do ex-presidente para o exílio nos Estados Unidos, despachou o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva à caça do estojo de joias de Michelle, apreendido pela Receita Federal de São Paulo.
Por dois dias, 28 e 29 de dezembro, Moreira da Silva fez tudo ao seu alcance para cumprir a missão, sempre esbarrando na falta de documentos que atestassem o que dizia.
Ou seja: que as joias, de fato, seriam incorporadas ao patrimônio do Estado brasileiro.
No dia 30, uma sexta-feira, baixou o silêncio. Moreira da Silva não procurou mais os agentes da Receita.
Cessaram os telefonemas de autoridades de Brasília, pressionando-os a entregar as joias.
Na tarde daquele dia, Bolsonaro embarcou para os Estados Unidos.
Por que, desde a apreensão das joias em outubro de 2021, o governo não cumpriu as formalidades para liberar as joias que ficariam com o Estado, e não com Michelle ou seu marido?
A Polícia Federal quer saber. O que dirá Mauro Cid a respeito?
O almirante Bento Albuquerque, que como ministro das Minas e Energia foi portador das joias remetidas para Bolsonaro pela ditadura da Arábia Saudita, contou uma história esquisita.
Em meio à sua bagagem, ele trouxe as joias, mas sem saber o que era.
Abriu o pacote no dia seguinte.
E por mais de um ano, as joias foram guardadas no ministério.
Bolsonaro só as recebeu depois de perder as eleições, levando-as com ele.
Devolveu-as porque a Justiça mandou.
Devolveu também outras joias que escondera.
Ministro que retorna de viagem oficial escreve um relatório narrando tudo o que se passou por lá.
O relatório de Albuquerque, obtido pelo Metrópoles, não menciona as joias para Bolsonaro que entraram ilegalmente no país, nem as de Michelle, retidas.
Em pior situação está o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, preso depois que foi encontrada em sua casa uma minuta de golpe.
Ele afirmou que a minuta era “lixo”, e que a recebeu de sua secretária.
A secretária desmentiu-o.
Ao fim do primeiro turno da eleição perdida por Bolsonaro, a delegada Marília Alencar, diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, mapeou as cidades onde Lula teve mais votos.
Na véspera do segundo turno, Torres desembarcou em Salvador.
À seção baiana da Polícia Federal, Torres disse dispor de informações de que o PT havia montado um esquema para aumentar a vantagem de Lula sobre Bolsonaro na Bahia.
E exigiu que ela se juntasse à Polícia Rodoviária Federal para impedir isso.
Como?
Criando barreiras nas estradas no dia do segundo turno e inspecionando com rigor o transporte de eleitores do PT.
A Polícia Rodoviária Federal seguiu a orientação de Torres, a Polícia Federal não, porque esse tipo de serviço não lhe cabe.
Bolsonaro está perto de se tornar inelegível.
Torres está ameaçado de ser condenado e de continuar preso.
A não ser que colabore com a justiça contando tudo o que sabe, e que não é pouca coisa.
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