Depois de 'plantar' Zanin, Lula colhe tempestade
Josias de Souza -
Lula fez uma tempestade num copo de veneno ao declarar no mês passado que "todo mundo entenderia" se ele acomodasse numa poltrona do Supremo Tribunal Federal seu criminalista de estimação Cristiano Zanin, a quem definiu como "grande revelação jurídica dos últimos anos". Ao expressar tão claramente uma preferência, Lula atiçou seus próprios aliados, que pressionam pela indicação de uma mulher, de preferência negra, para a vaga do agora aposentado Ricardo Lewandowski.
"Não adianta ficarem plantando nome, tentando vender candidato pela imprensa", ralhou Lula nesta quinta-feira, ignorando o fato de que foi ele quem inaugurou a plantação. "Não é assim que se escolhe ministro da Suprema Corte", disse ele durante café da manhã com jornalistas. Sob a alegação de que não gostaria de carimbar o futuro escolhido, recusou-se a dizer se será negro, mulher ou homem.
Se for escolhido por Lula, Zanin herdará o gavetão de pendências do gabinete de Lewandowski. Isso inclui processos remanescentes da Lava Jato. Inclui também ação do PCdoB contra a Lei das Estatais. Ao votar, Lewandowski derrubou artigos que impediam políticos de assumir cargos de direção em empresas públicas como a Petrobras. O julgamento foi suspenso por um pedido de vista de André Mendonça. Nomeado, Zanin teria que relatar eventuais recursos. Ele herdaria também o caso de um advogado —Rodrigo Tacla Duran— que acusa Sergio Moro de extorsão durante as investigações do petrolão.
Lula foi devolvido à Presidência pelo voto popular. A Constituição lhe dá poderes para indicar os ministros do Supremo. Ele pode escolher quem bem entender, desde que o preferido seja brasileiro nato, tenha mais de 35 anos e menos de 75, exiba notável saber jurídico e ostente reputação ilibada. A eventual escolha de Zanin seria, em tese, formalmente certa. Em política, porém, não há erro mais comum do que confundir uma certa pessoa com a pessoa certa.
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