Brasil deveria reconhecer 'problema implícito do racismo', diz porta-voz da ONU

 Leonardo Lopes*, da CNN, em São Paulo

24 de novembro de 2020 às 12:39 | Atualizado 24 de novembro de 2020 às 12:43 

O escritório da alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, se pronunciou nesta terça-feira (24) sobre a morte de João Alberto Silveira Freitas, assassinado por dois seguranças em um supermercado da rede Carrefour, em Porto Alegre, na quinta-feira (19).

"É um exemplo extremo, mas infelizmente muito comum, da violência sofrida pelos negros no Brasil. Ele oferece uma ilustração nítida da persistente discriminação estrutural e racismo que as pessoas afrodescendentes enfrentam", afirmou a porta-voz de Bachelet, Ravina Shamdasani, em nota. 

Ela acrescentou que esse "ato deplorável" – que aconteceu na véspera do Dia da Consciência Negra – deveria ser condenado por todos.

Além disso, declarou que os funcionários do governo possuem uma "responsabilidade particular em reconhecer o problema implícito do racismo persistente no país". Para a agência da ONU, o reconhecimento seria um "primeiro passo essencial" para solucionar esse problema. 

Um dia após o assassinato de João Alberto, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), afirmou que "no Brasil, não existe racismo". Para ele, o racismo seria uma problemática que tentam "importar" de outros países, como os Estados Unidos, mas que "não existe aqui".

O escritório da alta comissária da ONU ressaltou que os dados oficiais documentados no país, no entanto, expõem "racismo, discriminação e violência estruturais".  

"O número de vítimas afro-brasileiras de homicídio é desproporcionalmente maior do que outros grupos. Os afro-brasileiros, incluindo as mulheres, também estão super-representados na população carcerária do país", diz o texto.

A porta-voz de Bachelet afirmou que a investigação a respeito da morte de João Alberto deve ser "rápida, completa, independente, imparcial e transparente". Ela também pediu que seja examinada se o preconceito racial desempenhou um papel no episódio. 

A rede de supermercado Carrefour compõe o Pacto Global da ONU – rede de empresas que se comprometem em apoiar os objetivos das Nações Unidas.

Por isso, o escritório da alta comissária da ONU para Direitos Humanos cobrou que seja explicado como e se o Carrefour avaliou os riscos para os Direitos Humanos associados à contratação do Grupo Vector, responsável pela contratação dos seguranças da sucursal gaúcha, e quais medidas tomou para prevenir esse caso.  

O comunicado divulgado à imprensa também solicitou às autoridades brasileiras uma investigação de uso desnecessário e desproporcional da força contra manifestantes em protestos pela morte de João Alberto.

"Este caso e a indignação generalizada que ele provocou destacam a necessidade urgente das autoridades brasileiras de combater o racismo e a discriminação racial em estreita coordenação com todos os grupos da sociedade, especialmente os mais afetados", apontou Shamdasani.  


(*Sob supervisão de Julyanne Jucá)

https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2020/11/24/brasil-deveria-reconhecer-problema-implicito-do-racismo-diz-porta-voz-da-onu


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