MP-SP apura lista de candidaturas e suposto elo com a maior facção criminosa do país -

POR VICTORIA ABEL (victoria.abel@cbn.com.br

As investigações apontam que, nas eleições municipais, pelo menos sete candidaturas estariam ligadas à quadrilha em seis cidades paulistas. 

A partir da interceptação de comunicações, os investigadores identificaram recomendações de voto. Os promotores apuram os objetivos da facção ao tentar entrar no sistema político. 

O Ministério Público de São Paulo investiga a participação da maior facção criminosa do país no sistema eleitoral com o objetivo de conquistar postos no legislativo municipal, estadual e federal. As investigações apontaram que, nas eleições municipais de 2020, pelo menos sete candidaturas estariam ligadas à facção, em seis cidades paulistas.

Com a interceptação de comunicações entre criminosos em investigações de combate ao tráfico, os promotores notaram a participação deles em campanhas eleitorais, inclusive com recomendações de voto.

Os promotores do Gaeco, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, acreditam que a influência política da facção em pequenas e médias cidades paulistas seja apenas o começo de planos de médio e longo prazos.

Para o promotor do Gaeco, Leonardo Romanelli, chamou atenção o número de candidaturas supostamente apoiadas pela facção neste ano:

"A gente percebeu que, nessas eleições, eles estão buscando candidaturas motivadas pela facção criminosa, em vários locais, simultaneamente. Ao alcançar postos políticos nos legislativos, eles poderiam, em um segundo momento, conseguir reverter uma série de leis. É um plano não de curto prazo, mas de médio para longo prazo. Algo que já foi feito na Itália. A máfia italiana não começou gigantesca. Ela começou aos poucos até tomar o poder em uma série de cidades."

Entre os candidatos listados pelo Ministério Público, o atual prefeito de Embu das Artes, Ney Santos, do Republicanos, foi reeleito.

Segundo os promotores, ele é suspeito de ter recebido dinheiro da facção na campanha de 2016. Além disso, já foi denunciado por fraude em licitação, organização criminosa e corrupção.

Em 2020, Ney levou dois aliados para disputas municipais. Jones Donizette foi candidato a prefeito em Itapecerica da Serra, pelo Avante, mas acabou em terceiro lugar. Piter Santos, que já foi acusado por organização criminosa e lavagem de dinheiro, ficou em segundo na disputa pela prefeitura de Vargem Grande Paulista pelo Republicanos.

Na Câmara de Ribeirão Preto, um advogado acusado de prestar serviços para a facção conquistou uma vaga de suplente pelo Partido Progressista. Renan Bortoletto chegou a ser alvo de uma operação do Ministério Público antes da votação.

Em Suzano, na Grande São Paulo, José Carlos de Souza Nascimento, conhecido como Zé Perueiro, obteve uma vaga de suplente de vereador pelo PTB. Hoje, ele já é vereador e investigado em um esquema lavagem de dinheiro envolvendo a facção e a cooperativa de transportes chefiada por ele.

No relatório do MP, ainda aparecem mais duas tentativas de candidaturas, em Ribeirão Preto e Caraguatatuba.

O pesquisador em segurança pública e professor da FGV, Rafael Alcadipani, frisou que o interesse da facção na corrupção estatal não é novo:

"O PCC tem um interesse de entrar e fazer parte da corrupção estatal, é um crime que não precisa das armas. Além disso, a presença do PCC em áreas estatais ajuda o partido do crime a influenciar decisões de governo. Isso é muito sério e tem acontecido no Brasil, não apenas em São Paulo"

Os promotores tentam denunciar os eleitos no âmbito criminal ou eleitoral para impedir a diplomação deles nos cargos. Na área eleitoral, precisaria ser demonstrado o financiamento da facção via caixa 2.

A defesa de Ney Santos afirma que existe uma perseguição contra o prefeito reeleito. O advogado Joel Matos afirma que o Ministério Público não conseguiu, em dez anos de acusações contra Ney, nenhuma prova efetiva de que ele tenha ligações com a facção criminosa. Matos ressalta que os promotores acusam Ney Santos de forma leviana e que todas as contas de campanha dele como candidato foram aprovadas.

A assessoria de Ney ressaltou que "prefeito não tem qualquer envolvimento com facção criminosa. Sobre denúncias por fraude, a assessoria afirma que não existe qualquer tipo de comprovação, muito menos condenação. Trata-se de perseguições e manobras políticas para desqualificar o prefeito Ney Santos, o que é muito comum quando se trata de uma pessoa pública e tão bem quisto pela população".

A defesa de Piter Santos afirma que o Ministério Público o acusou há quatro anos e em nenhum momento foi citado nos processos de denúncia possíveis ligações com a facção criminosa. O advogado Bruno Borragine destaca que o processo por lavagem de dinheiro está parado e que Piter teve apenas uma relação comercial com Ney Santos. A defesa afirma ainda que Piter é um empresário e declara todos os lucros, as contas de campanha também foram aprovadas.

Jones Donizette afirma que "o prefeito Ney Santos não faz parte de nenhuma facção criminosa” e que dizer que ela tem ligações com a facção criminosa somente pelo fato de trabalhar com o prefeito Ney Santos "sensacionalismo barato". Jones diz ainda que "Ney Santos é um cara do bem, trabalhador, amado pela cidade e tem orgulho de levar o nome do prefeito Ney Santos em qualquer lugar que tiver".

Renan Bortoletto, disse que é "advogado criminalista há aproximadamente dez anos e os serviços prestados são essencialmente jurídicos, que não é crime ser advogado criminalista e todos têm direito à defesa, até mesmo os supostos faccionados". O advogado ainda refuta, "categoricamente, qualquer ilação de que minha campanha tenha recebido ajuda financeira ilícita". Renan Bortoletto diz "aguardar a conclusão das investigações para provar inocência".

A defesa do vereador José Carlos de Souza Nascimento, conhecido como Zé Perueiro, disse que o Ministério Público não conseguiu juntar nenhuma prova de que o político faça parte de facção criminosa. O advogado do vereador, Dario Reisinger, destacou que Zé Pirueiro responde às acusações integrar organização criminosa e de lavagem de dinheiro em liberdade depois de um Habeas Corpus do STJ, o que demonstra a falta de provas.

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