Os estragos causados por Gilmar Mendes à Lava Jato O ministro Gilmar Mendes lidera uma corrente no Supremo que resiste à Lava Jato e tem favorecido acusados de corrupção
DÉBORA BERGAMASCO - http://epoca.globo.com
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| GARANTIAS O ministro Gilmar Mendes. Uma profusão de decisões contra o combate à corrupção no final do ano (Foto: Mateus Bonomi/Agif)  | 
Em meio a balões vermelhos e anjos de pano com enfeites dourados, o 
ex-governador Anthony Garotinho celebrou o fim de quase um mês de 
prisão, entre a cadeia de Benfica e a penitenciária de Bangu, no Rio de 
Janeiro. 
Sua mulher, a ex-governadora Rosinha Matheus, e sua filha, a 
deputada Clarissa Garotinho, o aguardavam na chegada, na quinta-feira 
(21), com um prato de sopa leve sobre a mesa de casa. 
Um grupo de oração
 já estava escalado para se reunir durante o fim de semana para 
agradecer a Deus a benesse concedida a Garotinho. 
A reza era endereçada a
 Deus no céu e na Terra ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que proferiu a decisão logo no primeiro dia de seu plantão durante o recesso do Judiciário.
Garotinho
 é acusado de receber cerca de R$ 3 milhões de propina da JBS na eleição
 de 2014. Sua prisão foi feita com base nos depoimentos e dados 
fornecidos pelos delatores do grupo, hoje presos também. 
Natal tranquilo
 e em paz será desfrutado também por seu companheiro de acusação. 
Presidente do partido de Garotinho, o PR, o ex-senador e ex-ministro 
Antonio Carlos Rodrigues também ganhou o benefício de passar o Natal em 
casa, não na penitenciária. 
Acusado de negociar propina de R$ 3 milhões 
da JBS, Rodrigues ficou uma semana foragido antes de se entregar, numa 
afronta à lei.
Nesta
 semana, o ministro Gilmar Mendes garantiu boas-festas a mais oito 
políticos e empresários acusados – ou suspeitos – de cometer crime de 
corrupção. 
A ex-primeira-dama do Rio de Janeiro Adriana Ancelmo foi 
condenada a 18 anos de prisão por lavagem de dinheiro e por ter 
desfrutado de joias, viagens e diversos luxos do esquema de corrupção 
comandado pelo marido, o ex-governador Sérgio Cabral. 
Nesta semana, Adriana foi agraciada pela segunda vez com o direito de 
cumprir prisão domiciliar. 
Trocou a cadeia de Benfica, onde estava 
detida desde 23 de novembro, pelo confortável apartamento no Leblon. 
O 
ministro Gilmar Mendes aceitou os argumentos da defesa, de que ela 
precisa cuidar do filho de 12 anos.
Disse que a condição financeira 
privilegiada de Adriana não poderia “ser usada em seu desfavor”.
 Gilmar
 Mendes é um ministro de perfil “garantista”, que prefere não enviar 
pessoas para a prisão. 
Nos últimos dias, no entanto, sua postura foi 
além do garantismo, para adentrar o terreno do “abolicionismo”, que 
consiste não só em não prender, como em libertar quem for possível da 
cadeia ou de investigações e denúncias.
É notória sua postura contrária à
 Lava Jato e, principalmente, ao ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. 
Na terça-feira (19), Gilmar Mendes lembrou-se do desafeto ao votar no 
caso conhecido como quadrilhão do PMDB, no qual são réus os ex-ministros
 Henrique Alves e Geddel Vieira Lima, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-assessor do presidente Michel Temer Rodrigo Rocha Loures, o homem da corridinha com a mala de R$ 500 mil.
