Temer quer acelerar agenda de reformas, mas base admite risco após lista da Odebrecht

BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto pretende acelerar as articulações nos próximos dias com a base aliada para tentar aprovar as reformas da Previdência e trabalhista no Congresso, que estariam ameaçadas, na avaliação de parlamentares, após a abertura de inquérito contra dezenas de deputados e senadores implicados nas delações de executivos da Odebrecht e a divulgação dos vídeos em que se expôs o esquema de corrupção.
O presidente Michel Temer poderá se reunir com líderes da base para discutir detalhes do texto da reforma da Previdência no domingo. Esse encontro ainda não está certo, mas tem sido discutido como uma demonstração de que o governo e ele pessoalmente não estão parados diante das delações da Odebrecht.
O texto da reforma deve ser apresentado formalmente na comissão especial da Câmara na próxima terça-feira.
A ordem é manter o calendário das reformas e, segundo interlocutores do presidente, somente a melhora do cenário econômico com a aprovação das medidas será capaz de contrabalançar o "estrago" feito pela lista.
As delações atingiram oito ministros (dois deles do núcleo palaciano) e 63 parlamentares, incluindo aí os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
O receio do Planalto é que, se não mostrar reação, poderá ficar refém da Lava Jato e ainda perder credibilidade e a confiança do mercado, que tem respaldado a agenda de reformas.
Por ora, os ministros estão mantidos, uma vez que a "linha de corte" estabelecida por Temer só levaria ao afastamento aqueles que forem alvos de denúncia criminal.
Na linha de rebater acusações, Temer também vai responder a tudo que o envolva, como fez nesta quinta, quando apareceu em um vídeo negando ter tratado de valores e negócios escusos em reunião com executivos da empreiteira.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), pretende defender publicamente o cancelamento do recesso parlamentar do meio do ano a fim de garantir a aprovação, o quanto antes das reformas, principalmente a da Previdência. Por ora, essa é uma iniciativa individual dele.
Mas serve como uma vacina para aliados que já consideravam, antes da lista de inquéritos de Fachin, difícil aprovar as duas reformas até meados de julho.
Dois aliados do Planalto não consideram que haja, por ora, qualquer risco para que Temer complete o mandato.
Primeiro, não há um clamor popular para a queda dele, apesar das acusações pessoais. Avaliam ainda que, com partidos da base e oposição implicados, haverá uma tentativa da atual classe política se autopreservar para as eleições de 2018.
CONGRESSO
Por ora, há uma avaliação reservada de aliados do governo no Congresso de que haverá, sim, um comprometimento do calendário das reformas.
Um auxiliar de um presidente de partido implicado nas delações da Odebrecht afirmou que agora cada um vai cuidar de si e que a votação das reformas ficará em segundo plano.
"Temer quer aprovar as reformas, mas ninguém quer", disse esse auxiliar, sob a condição de anonimato.
Ele relatou que os parlamentares estão preocupados em sobreviver às investigações da Lava Jato no STF --mesmo que a tradição na Corte seja demorar até se chegar a um julgamento-- e ainda conseguir se reeleger, para garantir a manutenção do foro privilegiado.
O deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), o mais antigo em atividade na Câmara, disse que agora vai se "cair na dúvida" sobre a capacidade do governo de aprovar a reforma da Previdência.
"As propostas em si são frágeis", afirmou Miro, que é contrário à reforma apresentada e defensor de novas eleições gerais.
Já o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), mesmo sendo um dos maiores críticos da reforma da Previdência na base, procurou minimizar eventuais prejuízos por conta das delações.
"No processo de impeachment de Dilma, em meio à crise econômica, foi o período em que o Parlamento mais deliberou", disse à Reuters Renan, à época presidente do Senado. Renan disse que suas críticas à proposta de Temer são relativas ao mérito da reforma da Previdência, que considera muito dura.
E no momento em que a Lava Jato avança sobre a classe política, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) pretende colocar em votação na próxima semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado seu parecer que altera a legislação de abuso de autoridade.
Ele negou que a iniciativa tenha por objetivo retaliar a operação, à qual defende, e que o projeto visa a combater eventuais excessos de servidores públicos. A matéria tem sido criticada pela força-tarefa da Lava Jato como uma tentativa de inibir a operação

"Não há que se confundir. Vejo o corporativismo de algumas categorias do funcionalismo tão nocivo quanto à corrupção no Brasil", criticou.
Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu
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