O primeiro contato? - por Cássio Barbosa
O final de semana, para quem está ligado nas
notícias do espaço, foi agitado por uma notícia bombástica: astrônomos
teriam detectado um sinal de rádio com as características esperadas para
um sinal de origem artificial. Um sinal alienígena. Depois do anúncio,
muita especulação, rumores e boatos. Mas a história é a seguinte.
No
fim de semana passado, uma equipe internacional de astrônomos anunciou a
detecção de um sinal de rádio intenso na direção de HD 164595, uma
estrela a uma distância até que pequena, uns 95 anos luz. A detecção se
dera há mais de um ano, em maio de 2015, no radiotelescópio RATAM-600 na
Rússia.
Além do próprio evento, o que deixou todo mundo ouriçado é que a estrela em questão é quase uma gêmea solar! Ela tem o mesmo tipo espectral do nosso Sol, com mesma massa e temperatura, mas tem uma quantidade de elementos químicos um pouco diferente do Sol, o que chamamos de metalicidade e é um pouco mais velha, tipo uns 6-7 bilhões de anos.
Aliás, essa estrela já foi estudada por Gustavo Porto de Mello, um astrônomo do Observatório do Valongo, na UFRJ, um dos maiores especialistas do mundo em gêmeas solares. Ao redor dessa estrela, ao que se sabe até agora, há um planeta com a massa semelhante ao nosso Netuno. Só que nesse caso, o planeta está muito perto da sua estrela, de modo que é muito mais quente. Poderia, é claro, haver outros planetas ainda não identificados e que estudos futuros poderiam apontar, mas o que se sabe por enquanto é isso.
Além do próprio evento, o que deixou todo mundo ouriçado é que a estrela em questão é quase uma gêmea solar! Ela tem o mesmo tipo espectral do nosso Sol, com mesma massa e temperatura, mas tem uma quantidade de elementos químicos um pouco diferente do Sol, o que chamamos de metalicidade e é um pouco mais velha, tipo uns 6-7 bilhões de anos.
Aliás, essa estrela já foi estudada por Gustavo Porto de Mello, um astrônomo do Observatório do Valongo, na UFRJ, um dos maiores especialistas do mundo em gêmeas solares. Ao redor dessa estrela, ao que se sabe até agora, há um planeta com a massa semelhante ao nosso Netuno. Só que nesse caso, o planeta está muito perto da sua estrela, de modo que é muito mais quente. Poderia, é claro, haver outros planetas ainda não identificados e que estudos futuros poderiam apontar, mas o que se sabe por enquanto é isso.
O
sinal vindo de HD 164595 foi muito intenso, a equipe que o detectou
calculou em 0,02% as chances de ser um sinal aleatório, resultado apenas
da variação do ruído de fundo. Ou seja, não estamos dizendo que são
aliens, mas poderia ser... Dá para imaginar (ou querer) que seja uma
civilização que esteja enviando um sinal de rádio ao espaço, marcando
sua presença, dizendo um alô para saber se tem alguém na outra ponta
linha.
Na verdade o
comunicado da equipe não especula tudo isso, claro, mas diz que esse é
um alvo de interesse do projeto SETI, a sigla em inglês para Busca por
Inteligência Extra Terrena, que deveria fazer um monitoramento
subsequente. E estão fazendo!
Só
que apesar de ser uma ideia empolgante, a realidade sempre se mostra
menos favorável. O sinal foi recebido em uma grande janela do espectro
de rádio. Trocando em miúdos, foi como se você ligasse seu rádio e não
importa a frequência que sintonizasse, ouvisse a mesma música. O que se
espera é que a comunicação seja feita em faixas estreitas de frequência,
como fazemos ao sintonizar uma rádio em específico. E é exatamente isso
que o SETI faz. O que chamou a atenção nesse pulso de rádio foi
justamente sua intensidade e é exatamente isso que o coloca sob
suspeita. É que a intensidade de um sinal emitido em tantas frequências
assim consumiria muita energia. Mas muita mesmo!
Se
o sinal foi emitido para que toda a Galáxia pudesse recebe-lo, ou seja,
uma transmissão em todas as direções do espaço, somente esse pulso que
durou 2 segundos teria consumido o equivalente à energia gerada pela sua
própria estrela! Há uma classificação para o grau de avanço para
civilizações que remonta ao ano de 1964 e foi proposta pelo astrofísico
Nikolai Kardashev. Na escala que leva o seu nome, uma civilização
alcança o grau II quando precisa de toda a energia de sua estrela.
Caso
o sinal tivesse sido direcionado para a Terra, imaginando que por algum
motivo os ETs de HD 164595 já soubessem de nós, o gasto de energia
seria menor, mas ainda assim teriam de usar toda a energia gerada por um
planeta como a Terra, por exemplo Essa seria uma civilização tipo I na
escala Kardeshev. Veja que nem a própria Terra poderia ser classificada
como tipo I, pois não há condições de direcionar toda a energia
produzida em todo o planeta para um fim específico.
Mesmo
com esse contra, muito contra por sinal, o pessoal do SETI apontou seus
telescópios na Califórnia e outro projeto de busca por civilizações
alienígenas apontou o grande radiotelescópio de Green Bank na Inglaterra
para tentar captar alguma coisa e não ouviram nada. Mesmo com esse
problema com a energia transmitida, se o sinal fosse detectado de novo,
aí sim teríamos uma chance incrível de termos recebido um sinal
alienígena. Os projetos vão continuar na escuta por algum tempo, mas por
ora, não deve ser nada extraordinário.
Mas o que seria, então?
Um
sinal natural amplificado por um efeito de lente gravitacional, por
exemplo. É isso mesmo que você leu. Segundo a Relatividade Geral de
Einstein, a deformação do espaço causado pela presença de massa pode
gerar um efeito semelhante ao produzido por lentes, amplificando o sinal
de fontes distantes. Em luz visível isso é visto corriqueiramente, mas
em rádio ainda não detectado nada semelhante. Mas o efeito é totalmente
possível.
O suspeito
mais forte é algo mais mundano. Nós mesmos. Sim, a grande faixa de
frequências do sinal e sua intensidade sugerem que tenha sido um sinal
de rádio terrestre. Ainda mais que essas frequências correspondem a um
canal de uso militar, que nunca fizeram questão de divulgar nada a
respeito. Ou seja, mesmo que alguém pergunte se foram eles, nunca
teremos uma resposta.
Essa
não é a primeira vez que um sinal desses causa alvoroço entre os
cientistas. Em 15 de agosto de 1977, um forte sinal de rádio foi
detectado pelo radiotelescópio Big Ear (sim, orelhão em inglês). O sinal
durou 72 segundos e foi tão intenso que o astrônomo que acompanhava a
tomada de dados anotou um Uau! ao lado do código do sinal. Muita gente
já tentou identificar uma possível origem para ele, mas a explicação
mais provável é a de que o 'orelhão' tenha captado alguma transmissão
militar.
Pelo sim,
pelo não, o sinal Uau! não ficou sem resposta! É que em 2012, em
comemoração aos 35 anos de sua detecção, o radiotelescópio de Arecibo
transmitiu um sinal de rádio contendo 10 mil mensagens compiladas do
Twitter na mesma direção. Se foi mesmo um alô interespacial, a resposta
estará chegando algum dia.