Ataque contra hospital incendeia região e abala frágil diplomacia

Jamil Chade

Atualizada em
Policiais da Jordânia disparam gás lacrimogêneo contra manifestantes que tentaranm invadir a embaixada israelense na capital Amã após hospital ser atingido em Gaza
Policiais da Jordânia disparam gás lacrimogêneo contra manifestantes que tentaranm invadir a embaixada israelense na capital Amã após hospital ser atingido em Gaza Imagem: Mussa Hattar - 17.out.23/AFP

ataque contra o hospital Al-Ahly Arab, em Gaza, abriu uma nova fase na crise no Oriente Médio, com protestos a se espalhar por várias capitais da região, pressão sobre governos, abalo nos frágeis canais de diálogos e até o cancelamento de uma cúpula prevista para quarta-feira, na Jordânia.

A explosão que deixou mais de 500 pessoas mortas no hospital foi condenada pela ONU, OMS, Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Se o governo de Israel acusou grupos islâmicos pelo atentado, os embaixadores dos países árabes na ONU se uniram para fazer uma declaração conjunta e responsabilizando Israel pelas mortes.

No gabinete do secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, o temor é que o incidente conduza a região a um ponto de tensão inédito e que o conflito se espalhe.

O impacto da explosão também foi sentido nas ruas das principais cidades do mundo árabe, cobrando os respectivos governos a agir contra Israel. Em Ramallah, protestos foram direcionados contra Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina e altamente impopular. A polícia foi obrigada a reprimir o movimento.

Horas depois, Abbas anunciou o cancelamento de uma cúpula em Amã ao lado do presidente americano Joe Biden, justificando que ele precisava estar "ao lado de seu povo".

O pronunciamento, porém, também serviu para que ele pedisse "calma" à população. "Isso vai beneficiar apenas os inimigos da causa palestina", disse, numa mensagem aos manifestantes que se enfrentavam com a polícia em Ramallah. "Esse é um momento perigoso. Precisamos de unidade", disse Abbas.


Em Beirute, protestos organizados pelo Hezbollah foram registrados contra a embaixada dos EUA e da França.

Gás lacrimogêneo foi disparado contra os manifestantes perto da embaixada americana no Líbano. Mas, para o Hezbollah, o "ataque (contra o hospital) revela a verdadeira face criminosa dessa entidade e de seu patrocinador, os Estados Unidos, que têm responsabilidade direta e total por esse massacre".

Na Tunísia, centenas de manifestantes tomaram as ruas próximas à embaixada da França para se manifestar.


Jordânia e Turquia também presenciaram protestos. Em Istambul, houve uma tentativa de invasão do consultado israelense e a polícia teve de intervir.

No Irã, uma marcha com centenas de pessoas começou na Praça Palestina, em Teerã, e se direcionou até as portas da embaixada da França e do Reino Unido.

Para observadores, as ruas revelam o mal-estar que existe de parte da população desses países em relação a governos que, nos últimos anos, se aproximaram de Israel.

Colapso de canais de diálogo

Outro impacto da explosão no hospital foi o colapso do processo diplomático para a busca de uma solução negociada para a crise, ou pelo menos para permitir que a população civil em Gaza receba ajuda humanitária.

Imediatamente após a morte de mais de 500 pessoas, a cúpula que estava sendo organizada na Jordânia entre EUA, autoridades palestinas e Egito foi cancelada.


"Não podemos ter uma cúpula nessa situação", disse Riyad Manssur, embaixador palestino na ONU. "Só teria sentido se fosse para implementar um cessar-fogo", alertou.

Há ainda o temor na ONU de que o acirramento de posições impeça qualquer negociação para a criação de um corredor humanitário e que, mesmo no Conselho de Segurança da ONU, o palco seja transformado em uma troca de acusações. O órgão se reúne nesta quarta-feira e deve votar um projeto de resolução do Brasil para criar uma "pausa humanitária".

"O Conselho de Segurança precisa condenar esse crime", defendeu o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, acusou Israel pela crise.

Reportagem

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