Bolsonaro não consegue esconder o medo de ser preso e o risco de fugir

Leonardo Sakamoto 
Colunista do UOL

Bolsonaro tem um medo estrutural de passar uma temporada no xilindró.

 Seus comentários sobre isso não são apenas estratégia para deixar seus seguidores prontos para quando ele os chamar às ruas em atos golpistas. É o seu inconsciente gritando que há uma assombração rondando seu sono - e, definitivamente, não é o "fantasma do comunismo".

Não é à toa que, ao longo do seu mandato, tenha se comparado diversas vezes à ex-presidente da Bolívia, Jeanine Añes, condenada por um golpe de Estado em 2019. Ela foi julgada junto com ex-chefes militares. Olha que coincidência.

Bolsonaro poderia ter se comparado a qualquer estadista com grandes feitos. Preferiu uma pessoa acusada e sentenciada por golpe. Pelo menos, temos que admitir que a autocrítica do presidente fala mais alto que seus delírios de grandeza.

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"A turma dela perdeu, voltou a turma do Evo Morales. O que aconteceu um ano atrás? Ela foi presa preventivamente. E agora foi confirmado dez anos de cadeia para ela", disse em junho de 2022.

E foi além: "Qual a acusação? Atos antidemocráticos. Alguém faz alguma correlação com Alexandre de Moraes e os inquéritos por atos antidemocráticos? Ou seja, é uma ameaça para mim quando deixar o governo?"

No dia 27 de abril, a ex-presidente da Bolívia já havia aparecido em um discurso de Bolsonaro no Palácio do Planalto. "Tenham certeza eu jamais serei uma Jeanine, jamais, porque primeiro eu acredito em Deus e depois acredito em cada um de vocês que estão aqui. A nossa liberdade não tem preço, digo mais, como sempre tenho dito: ela é mais importante que a nossa própria vida, porque um homem, uma mulher sem liberdade não tem vida", disse.

Percebam que não é a liberdade dos brasileiros que estava em jogo para ele, mas a dele. E pediu ajuda aos seus aliados presentes: "acredito em cada um de vocês que estão aqui".

Em junho de 2021, quando a ex-presidente já estava presa, Bolsonaro também tratou do assunto a seus seguidores. "O que aconteceu na Bolívia? Voltou a turma do Evo Morales e, mais ainda, a presidente que estava lá no mandato tampão [Jeanine Añez] está presa, acusada de atos antidemocráticos. Estão sentindo alguma semelhança com o Brasil?", disse.

Portanto, o discurso de Bolsonaro não envolve apenas uma questão política, nem tampouco só de caráter criminal. Também é psicanalítica. Seria saudável que o ex-presidente procurasse ajuda. Clínica.

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Para a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal, contudo, o inconsciente do ex-presidente dá uma dica valiosa: "apreendam meu passaporte, depois não digam que eu não avisei".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL


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