Bolsonaristas tentaram comprar equipamentos para hackear e espionar


Jamil Chade
Colunista do UOL
Carlos Bolsonaro e o presidente Jair Bolsonaro durante o debate da Band, em SP
Carlos Bolsonaro e o presidente Jair Bolsonaro durante o debate da Band, em SP Imagem: ANDRé RIBEIRO/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Nos meses que anteciparam à campanha para as eleições presidenciais no Brasil em 2022, membros da cúpula do Palácio do Planalto usaram viagens oficiais para tentar comprar equipamentos para hackear e espionar, com um uso potencial contra opositores, jornalistas ou o próprio sistema de informática do estado.

Conforme o UOL revelou, uma dessas tentativas ocorreu no Dubai AirShow quando, no dia 14 de novembro de 2021, um integrante do chamado "gabinete do ódio" entrou no stand de Israel com o interesse de municiar o grupo paralelo com uma poderosa ferramenta espiã, para ser usada, em especial, naquele ano eleitoral.

A visita ocorria durante a viagem do então presidente, Jair Bolsonaro, para o evento.

No stand de Israel, porém, o integrante do "gabinete do ódio", perito em inteligência e contrainteligência que também fazia parte da comitiva presidencial, conversou com um representante da empresa DarkMatter. O especialista, cujo nome não foi informado, responde extraoficialmente ao vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos).

A empresa era composta por programadores israelenses egressos da Unidade 8200, força de hackers de elite vinculada ao exército de Israel. Sua sede, porém, era em Abu Dhabi e desenvolveu sistemas capazes de invadir computadores e celulares de alvos, inclusive desligados.

Fontes ligadas ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e à Abin (Agência Brasileira de Inteligência) afirmaram que, em outra frente, o "gabinete do ódio" vinha mantendo conversas em paralelo com a empresa Polus Tech com o objetivo também de obter programas espiões.

Aquela não havia sido a única tentativa. Carlos Bolsonaro também tentou emplacar a compra da poderosa ferramenta de espionagem Pegasus, da israelense NSO Group, em uma licitação pública ainda em 2021.

Para tanto, ele articulou junto ao então ministro da Justiça, Anderson Torres, para excluir o GSI da licitação. O órgão, que é responsável pela Abin, era chefiado pelo general Augusto Heleno. De acordo com as mesmas fontes, o objetivo final de Carlos Bolsonaro era usar as estruturas do Ministério da Justiça e da PF (Polícia Federal) para expandir uma "Abin paralela", na qual poderia ter grande influência.

O filho do ex-presidente planejou ainda importar um outro programa, também de Israel, conhecido como Sherlock, informou ao UOL uma fonte ligada ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional). A informação foi confirmada por outras fontes, inclusive por um ex-representante da Candiru, empresa desenvolvedora do sistema. Enquanto o Pegasus funcionaria para alimentar com informações externas ao governo a chamada "Abin paralela" , a Sherlock atuaria dentro do próprio estado.


As reportagens com os detalhes dessas ofensivas foram publicadas no UOL entre 2021 e 2022, e assinadas por Jamil Chade e Lucas Valença. Os envolvidos jamais responderam aos pedidos de esclarecimentos.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.


JAMIL CHADE

Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente. 

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