Laudo aponta indício de rachadinha em gabinete de Carlos Bolsonaro

 

MP pede mais informações e quer saber se pagamento de despesas do vereador com salário de funcionários era recorrente

Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro
Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Leandro Resende da CNN

São Paulo

04/05/2023 às 15:25 | Atualizado 04/05/2023 às 15:39

O Ministério Público do Rio de Janeiro encontrou indícios de que houve prática de “rachadinha” no gabinete do vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos).

Os investigadores obtiveram um laudo que revela 688 depósitos feitos por seis funcionários nomeados por Carlos na conta bancária de seu chefe de gabinete.


No total, R$ 2,014 milhões foram creditados na conta. O laudo foi elaborado pelo Laboratório de Tecnologia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro do Ministério Público do Rio (MP-RJ), entregue à 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada, que apura suspeita de rachadinha no gabinete de Carlos na Câmara de Vereadores.

O documento foi revelado pelo jornal O Globo e as informações foram confirmadas pela CNN.

Parte do dinheiro recolhido pelo chefe de gabinete de Carlos teria sido usado para pagar despesas pessoais do vereador do Rio, mas o MP ainda não conseguiu concluir se isso se deu de maneira pontual ou recorrente — por isso, os investigadores pediram novas análises para que o laboratório indique se Carlos Bolsonaro de fato desfrutou do dinheiro que seria repassado ao seu chefe de gabinete.

CNN confirmou que os maiores repasses foram feitos pela esposa do chefe de gabinete de Carlos. Ela repassou R$ 814 mil em 304 lançamentos entre os anos de 2009 e 2018.

O casal segue nomeado no gabinete de Carlos: ela desde 2005 e ele, desde o primeiro mandato do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2001.

Dos seis funcionários identificados no laudo do MP que teriam repassado dinheiro ao chefe de gabinete de Carlos, três seguem lotados.

Além da esposa dele, seguem lá um assessor nomeado em 2014 e que repassou R$ 212 mil, em 53 lançamentos, e outro funcionário, que depositou R$ 52 mil em 18 lançamentos, segundo reporta o MP.

Não estão mais no gabinete de Carlos um assessor que, entre 2009 e 2018, teria feito 219 depósitos que somaram R$ 647 mil na conta do chefe de gabinete. E mais dois ex-funcionários que tiveram contabilizados R$ 101 mil, em 11 lançamentos, e R$ 185 mil, em 83 lançamentos.

MP adota cautela após não denunciar Flávio Bolsonaro

CNN colheu relatos de integrantes do MP que defendem “mais cautela” com a investigação sobre a suspeita de rachadinha no gabinete de Carlos Bolsonaro.

No retrovisor dos promotores está a denúncia contra o irmão mais velho dele, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), apresentada em novembro de 2020 e que jamais chegou a ser analisada.

O MP terminou três anos de investigação acusando Flávio Bolsonaro e outras 16 pessoas de peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e apropriação indébita — mas as provas usadas foram anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em agosto e pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro de 2021.

O MP trata o caso com cautela: aberta em junho de 2019 após reportagem da revista Época, há preocupação com atropelos. Além dos seis funcionários identificados, outras pessoas que passaram pelo gabinete de Carlos também estão tentando suas movimentações financeiras analisadas.

Em nota, a defesa de Carlos Bolsonaro “esclarece que é preciso apurar se ocorreu, mais uma vez, o lamentável vazamento de possíveis documentos e informações que estão sob sigilo determinado pelo Poder Judiciário”.

A defesa de Carlos diz que “aparentemente, a matéria divulga, de forma seletiva, algumas informações sigilosas com o nítido intuito de promover ataques ao Vereador”.

“A defesa reitera que o vereador Carlos Bolsonaro está totalmente à disposição para prestar esclarecimentos e fornecer qualquer tipo de informação ao Ministério Público.”

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