Como Brasília reagiu à invasão de Putin na Ucrânia

 Redação

Publicada em 24/02/2022 

A viagem de Jair Bolsonaro à Rússia às vésperas de uma guerra era o prenúncio de que, quando a invasão à Ucrânia viesse, coisa boa não sairia de Brasília. Não deu outra. Após os ataques que deflagraram, provavelmente, a mais grave guerra na Europa desde 1945, os políticos brasileiros agiram com a esperada mistura de ignorância geopolítica e indiferença provinciana.

O Bastidor registrou essa reação e outros aspectos da invasão, em especial sob a perspectiva dos principais atores institucionais do Brasil. Leia - ou releia - algumas das principais informações que publicamos hoje:

Silêncio latino

No começo da manhã, boa parte dos líderes da América Latina ainda estava sem se manifestar sobre os ataques, que ocorreram na madrugada, considerando o horário de Brasília. Entre os vizinhos do Brasil, só o presidente da Colômbia condenou a incursão da Rússia.

Itamaraty reticente

Enquanto o silêncio prevalecia, o Itamaraty preparava uma nota para condenar os ataques. Países aliados, como os Estados Unidos, pressionaram por um posicionamento, já que Bolsonaro foi visitar Putin há uma semana, sem nenhuma necessidade. O texto final ficou com tom muito abaixo do prometido, apenas solicitando que os dois países suspendam as hostilidades e retomem o diálogo e o respeito ao Acordo de Minsk.

Braga Netto interveio

O desejo de parte da cúpula do governo e de Jair Bolsonaro era de criticar nominalmente o presidente russo, Vladimir Putin, e tentar se aproximar da posição dos Estados Unidos e da Europa. No entanto, Braga Netto conseguiu convencer os colegas e moderar o tom da nota do Itamaraty. O chanceler Carlos Alberto França também pediu que Bolsonaro evite se manifestar sobre os desdobramentos no Leste Europeu.

Mourão abre o bocão

O único membro do alto escalão governamental que veio a público defender a posição da Ucrânia foi o vice-presidente Hamilton Mourão. Em fala a jornalistas na entrada do Palácio do Planalto, ele afirmou que o governo brasileiro ficaria ao lado do povo ucraniano, o que não se confirmou explicitamente nas movimentações posteriores.

Campanha (quase) calada 

Em ano de eleições, foram poucos os pré-candidatos que marcaram posição contra Vladimir Putin. Apenas João Doria e Sergio Moro falaram abertamente contra o presidente russo. Lula abriu mais o leque de críticas e acusou Putin e os governos dos Estados Unidos e da França de fracassarem nas negociações.

Congresso só quer paz 

Os presidentes da Câmara e do Senado se manifestaram com horas de diferença sobre o tema. Durante a manhã, Arthur Lira defendeu que a diplomacia volte a ser usada para resolver o conflito. O mesmo tom veio da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Casa. No Senado, Rodrigo Pacheco e Kátia Abreu só divulgaram posicionamentos anódinos à tarde.

Deu PT na inteligência

Quem acompanha as movimentações políticas já esperava que o PCO se posicionaria a favor de Vladimir Putin, a exemplo de outras forças de esquerda. O que poucos imaginavam é que algo assim viria da liderança do PT no Senado. Em pleno ano de eleição, o grupo postou uma mensagem no Twitter condenando a “agressão” dos Estados Unidos à Rússia. O caso gerou brigas internas na bancada, que apagou o post.

Não é com a gente

Apenas sete governadores publicaram manifestações nas redes sociais sobre os conflitos no Leste Europeu. Doria foi motivado pela campanha. Eduardo Leite, que é sondado pelo PSD para concorrer à presidência, também. Ratinho Júnior, mais liso que sabão molhado, só pediu paz na região, já que o Paraná possui grandes comunidades de descendentes russos e ucranianos.

Situação segue russa

Enquanto os políticos seguem batendo cabeça, nosso embaixador na Ucrânia, que há 10 dias não acreditava na invasão russa, vai continuar deixando os cidadãos daqui que vivem próximos às áreas de conflito sem assistência. À tarde, em entrevista coletiva, o Itamaraty reconheceu que não tem condições de retirar os brasileiros que estão no meio da zona de conflito e sugeriu que eles tentem deixar o país por conta própria. 

https://obastidor.com.br/politica/como-brasilia-reagiu-a-invasao-de-putin-na-ucrania-2787

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