Estadão: Recursos cada vez mais escassos para o crédito imobiliário

[...] o comportamento dos depósitos de poupança dificultará a retomada do mercado de imóveis, quando as condições forem mais propícias. Ademais, a desova de estoques de imóveis em poder das incorporadoras, ainda muito elevados, pode ser dificultada pela redução de fontes de crédito, num momento de esforço de vendas com leilões e feirões de moradias

Além dos indicadores fracos de produção, vendas e investimentos na construção civil, retratados em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do sindicato da habitação (Secovi-SP) relativas ao primeiro trimestre, persiste a queda rápida dos saldos das cadernetas de poupança. 
 
E estas são – ao lado do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) – as principais fontes de recursos do crédito imobiliário.

Deduzidas as aplicações, em maio saíram R$ 4,1 bilhões das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que destina a maioria dos recursos para financiar a habitação. 
 
O valor é recorde em 21 anos, desde que o Banco Central passou a contabilizá-lo. Os saques líquidos atingiram R$ 31,9 bilhões neste ano, superando os R$ 29 bilhões registrados em igual período de 2015.
 
O saldo final das cadernetas do SBPE, que exclui a poupança verde do Banco do Brasil, diminuiu de R$ 509,2 bilhões em dezembro para R$ 492,9 bilhões em maio.

Com a perda de competitividade das cadernetas em relação a outras modalidades, o comportamento dos depósitos de poupança dificultará a retomada do mercado de imóveis, quando as condições forem mais propícias. 
 
Ademais, a desova de estoques de imóveis em poder das incorporadoras, ainda muito elevados, pode ser dificultada pela redução de fontes de crédito, num momento de esforço de vendas com leilões e feirões de moradias.

A construção tem peso expressivo na economia. Segundo o IBGE, o PIB da construção civil caiu 1% entre o último trimestre de 2015 e o primeiro trimestre deste ano, acima da queda média do PIB (0,3%). 
 
Comparativamente ao primeiro trimestre de 2015, houve recuo de 6,2%, também acima da média (5,4%), e nos últimos quatro trimestres, comparativamente aos quatro trimestres anteriores, o recuo foi de 7,1%. 
 
A construção de residências é uma das principais responsáveis pela queda da taxa de investimento, que diminuiu 17,5% na comparação com o primeiro trimestre de 2015, chegando a 16,9% do PIB.

A falta de recursos para imóveis não se limita ao SBPE, voltado principalmente para a classe média, alcançando também linhas destinadas à habitação popular, como as do programa Minha Casa.

A escassez de crédito já elevou o custo dos empréstimos – o que é desestimulante para compradores já afetados pelo risco do desemprego, da perda de renda e, agora, por novas pressões inflacionárias.

(Estadão - Opinião - Notícias - Geral - 11/06/2016)

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