Brasil foi ultrapassado por 12 países no ranking de participação no comércio internacional, nos últimos 40 anos
Entre eles, estão países em desenvolvimento, como o México, e também integrantes dos BRICS. Mesmo sendo a nona maior economia do mundo, o país amarga hoje a 26ª posição na lista da OMC.
Por: Pedro Durán
Podia ter sido um salto ornamental...
Mas acabou virando um vôo de galinha.
Em
quarenta anos, a participação do Brasil no mercado internacional
praticamente ficou estacionada - isso quando não engatou a marcha ré.
Foi de 1,18% em 1976 para 1,11% no último ranking da Organização Mundial do Comércio, relativo ao ano passado.
![]() |
Evolução da participação dos países no comércio internacional
Crédito: CBN |
Enquanto
isso, vizinhos, amigos distantes e até nações quase anônimas tiveram
desempenho invejável: triplicaram, quadruplicaram e até quintuplicaram a
fatia de participação no mercado global.
Doze desses países
ultrapassaram o Brasil. E nós, só conseguimos driblar a Suécia, que
perdeu metade de sua fatia.
No caso do
México, que multiplicou por cinco a arrecadação no mercado
internacional, o que pesou foram os acordos e tratados multilaterais.
Com eles, o país passou de uma participação de 0,47%, há 40 anos para
2,36% no ano passado.
A
presidente da sede mexicana da Câmara Internacional de Comércio, Maria
Fernanda Garza, explica que as parcerias com outros países já estão na
terceira geração, bem maduras e trazendo muitos frutos.
‘Os
resultados têm sido muito bons. Estamos crescendo em outras áreas, por
exemplo, ‘aeroespacial’.
Esse é um dos novos ‘clusters’ que estamos
desenvolvendo, nos integrando às cadeias produtivas globais. Então o
México começou a encontrar a vocação do comércio internacional e está
aberto a outros países.
Hoje em dia, o México é o país mais aberto do
mundo’, segundo Maria Fernanda.
Assim como
no México, a transformação que fez a Índia quadruplicar a participação
no mercado global começou há mais de 25 anos.
Para Ashok Unmat,
economista indiano especialista em comércio exterior, as atitudes do
governo pela desburocratização fizeram as coisas mudarem da água para o
vinho.
‘A
mentalidade está mudando. Esta é a questão crucial. Basicamente, na
Índia, isso começou em 1991 quando o país estava uma bagunça. E isso
continua.
O governo não está apenas fazendo algo, está fazendo tudo.
Você não pode viver dentro de sua própria concha e achar que tudo virá
para você. Nada virá. Inovação e tecnologia, essa é a chave para o
crescimento no futuro’, diz Unmat.
José
Augusto Coelho Fernandes, diretor de estratégia da Confederação Nacional
da Indústria, tem uma visão mais pessimista. Para ele a economia
brasileira chegou ao fundo do poço e é preciso mudar imediatamente.
‘Não
existe uma bala de prata para fazer essa transformação, são um conjunto
de iniciativas. A primeira naturalmente é a própria estabilidade
macroeconômica.
Se existem muitas incertezas, inseguranças, etc, é
difícil uma empresa operar com eficiência. A segunda é ter uma noção que
os preços, que a rentabilidade do setor exportador vai ser favorável
nos próximos anos, terceiro é desburocratizar o máximo as operações de
comércio exterior’, diz José Augusto.
Para o
consultor em comércio exterior, Roberto Gianetti da Fonseca, fomentar a
exportação é o pulo do gato para tirar o país da crise.
‘O efeito
multiplicador dentro da economia brasileira estimula também o mercado
interno, porque quem ganha dinheiro exportando, o trabalhador que
trabalha na exportação vai acabar comprando casa, comprando automóvel,
trocando a geladeira, fazendo turismo, indo no restaurante, indo no
supermercado...
Essa faísca da exportação é que pode dar a ignição, a
tração pra economia brasileira voltar a crescer’, explica Gianetti.
Quem fez a
aposta de exportar muito antes da crise, começa a despontar no mercado.
![]() |
Em 2015, a GE Celma revisou 393 motores – destes 95% foram para exportação.
Crédito: GE Celma |
Gilberto Peralta, presidente da General Eletric, conta que a unidade de
manutenção de aeronaves de Petrópolis, no Rio de Janeiro, trabalha com
95% da estrutura dedicada a exportação de serviços.
A proposta é fazer o
faturamento com esse mercado dar um pinote e pular do patamar atual de
1,5 bilhão de dólares por ano para 4,5 bilhões com capacidade dobrada,
até o ano de 2020.
‘As
empresas tem que decidir exportar - e elas têm que se preparar para
exportar.
A empresa não pode ser exportadora de crise, ou seja, quando
dá uma crise pro Brasil, ela vai exportar, vai lá pra fora.
Quando o
mercado brasileiro melhora, ela não se estrutura, ela para de atender o
cara lá de fora, ela derruba o mercado, ela faz um mal danado pra ela e
para as outras empresas brasileiras que possam virar exportadoras porque
o cara vai falar assim:
Não, nesses caras a gente não pode confiar’,
diz Peralta.
Dos
membros dos Brics, apenas a África do Sul não superou o Brasil.
A
abertura econômica elevou a participação da China no comércio
internacional de 0,67% para quase 12% nesses 40 anos.