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Por que Dilma desengavetou políticas sociais após pedido de impeachment? (BBC Brasil)
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Reuters imagem
João Fellet e Ricardo Senra
Da BBC Brasil em Washington e São Paulo
Pelo menos até o último domingo.
A uma plateia esvaziada no vale do
Anhangabaú, em São Paulo, a presidente reapareceu e anunciou aumento de
9% no Bolsa Família, construção de 25 mil moradias por cooperativas
populares pelo Minha Casa, Minha Vida, prorrogação do programa Mais
Médicos por mais três anos, ampliação da licença paternidade de cinco
para 20 dias para funcionários públicos, correção de 5% na tabela do
Imposto de Renda e um novo programa de estímulo à agricultura familiar.
Mas
não foi só. Desde março passado, Dilma vem divulgando decretos
aguardados por boa parte de seu eleitorado - para quem a presidente não
vinha cumprindo o programa político que venceu as últimas eleições.
Entre os principais anúncios estão desapropriações para reforma agrária,
demarcação de terras indígenas e quilombolas e políticas afirmativas
para transexuais.
A pergunta que ecoa em redes sociais, corredores do Congresso e
reuniões sociais por todo o país é uma só:
por que isto acontece a esta
altura do campeonato? A BBC Brasil conversou com parlamentares,
entidades, ativistas e cientistas políticos em busca de respostas.
"Libertação",
"desespero", "legado" e "dívida" foram as palavras mais ouvidas pela
reportagem quando o assunto é a suposta guinada tardia à esquerda do
governo.
'Libertação' do Congresso
Parte
dos entrevistados alega que a aprovação do impeachment na Câmara dos
Deputados - com o consequente distanciamento, do governo, de bancadas
conservadoras como as da bala, evangélica e ruralista - teria permitido à
presidente retomar as políticas sociais historicamente defendidas pelo
PT.
É o que defendem deputados petistas como Padre João (MG), que
atua em defesa de povos tradicionais e da reforma agrária, e Erika Kokay
(DF), uma das principais defensoras dos direitos de mulheres e da
população LGBT na Câmara.
"Como o próprio setor ruralista fez a
opção de ruptura, afastando o grupo mais conservador e moralista deste
governo de coalizão, a presidenta ficou mais à vontade, mais livre para
atender a esta dívida social", disse Padre João à BBC Brasil, se
referindo principalmente à desapropriação de terras para reforma agrária
e demarcações para índios e quilombolas.
De janeiro de 2015 a
março de 2016, o número de áreas desapropriadas pelo governo federal
para a reforma agrária foi zero.
Durante todo o primeiro governo Dilma,
de 2011 a 2014, foram desapropriadas 216 terras - menos de 10% do total
realizado no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso (2.223 áreas, de
1995 a 1998).