Ibama autuou 27 empresas de agrotóxicos por dados falsos em 2015 - CBN
Pela primeira vez o Ibama reuniu os dados de auditorias em registros de comercialização dos agrotóxicos no Brasil, que são fornecidos pelos próprios fabricantes. Nos últimos anos foram encontradas 200 informações falsas.
Por Pedro Durán -
Cidades brasileiras com altos índices de câncer e anomalias em bebês.
Números que assustam até os políticos responsáveis por cuidar da saúde da população.
"Eu tô
surpreso com essas informações, essas coisas que você tá passando, pra
você ter uma ideia, não é uma coisa nem questionada."
E a revolta dos defensores públicos.
"É uma questão de saúde pública. Nós estamos enfrentando um genocídio da nossa infância."
Nesta
semana, a CBN apresentou a série de reportagens:
"Agrotóxicos, Perigo
Invisível", em que revelamos a situação de cidades de intensa atividade
agrícola, onde os cidadãos enfrentam problemas de saúde listados como
efeito do uso de agrotóxicos.
Em algumas delas, a prevalência de mortes
por câncer e anomalias em bebês é maior que o triplo da média estadual.
Com base
nos números, o Ministério Público Estadual de São Paulo estuda abrir um
inquérito.
A região de Ribeirão Preto é uma das mais afetadas pelos
altos índices. A promotora Cláudia Habib já acompanha o problema na
região há anos e agora planeja uma nova frente de investigação.
"Agrotóxicos
envolvem vários setores: a empresa que faz uso dele, a empresa que
eventualmente fabrica, a propriedade que recebe, o proprietário que está
fazendo o uso, onde os trabalhadores estão ali empregados. Precisa ser
analisado para verificar a quem cabe essa responsabilidade.
'Todos estão
sujeitos a algum tipo de penalidade?'. Dependendo da conduta de cada
qual, certamente", explica Habib.
De 2000
para 2013, a prevalência de anomalias em bebês em todo estado de São
Paulo dobrou.
De seis a cada mil bebês nascidos com o problema, passaram
a ser 12 a cada mil.
No mesmo período a utilização de agrotóxicos no
estado quase dobrou, passou de 41 mil toneladas utilizadas por ano para
74 mil.
A força-tarefa montada pelo defensor público Marcelo Novaes, acredita que o crescimento paralelo não é mera coincidência.
Eles já
mandaram ofícios para as 645 prefeituras de todo estado de São Paulo
pedindo informações sobre pacientes com câncer.
O próximo passo é pedir
análises da água e exames toxicológicos nas cidades mais afetadas.
"Vamos
oficiar a Secretaria de Saúde para que ela faça exames na água desses
municípios, nos pontos de consumo.
Sem descartar a possibilidade de
avançarmos para a realização de uma bateria de exames toxicológico na
população, no leite materno, no sangue das pessoas.
Temos que
investigar”, diz Novaes.
Mas as
investigações dos impactos dos agrotóxicos na saúde têm enfrentado um
grande obstáculo: as informações falsas.
Nos últimos anos, o Ibama
encontrou 200 dados falsos entre o que foi informado pelas empresas.
Pela primeira vez, o resultado das auditorias foi reunido em um sistema
digital e 27 empresas foram advertidas em 2015, o que acarreta no
impedimento da comercialização de certos produtos.
"É grave,
mas nós temos esse controle. Essa situação de descumprimento, de
desconformidade, ela acontece no mundo inteiro
Nós temos que ter
instrumentos para controlar isso”, explica Freitas.
Especialistas
ouvidos pela CBN apontaram prováveis soluções para os problemas
relacionados aos agrotóxicos no país.
Uma das ideias mais populares é o
aumento da rastreabilidade das frutas e hortaliças.
Na opinião de Anita
Gutierrez, da Seção de Controle de Qualidade Hortigranjeira do Ceagesp,
maior entreposto de alimentos da América Latina, a proposta aumentaria o
vínculo entre produtor e consumidor.
"A gente
investe um monte em rotulagem, o produtor colocar o seu nome na caixa do
produto que vem aqui. E isso muda tudo.
Logo que nós começamos a fazer
isso, a primeira grande questão que foi levantada foi isso: mas eu sei
que eu estou aplicando um agrotóxico não registrado pro meu produto.
E
aí? Mas eu tenho que colocar meu nome lá. Então muda a postura do
produtor em relação à sua responsabilidade para aquele produto”, diz
Gutierrez.
A
reportagem da CBN entrou em contato com o Sindicato Nacional da
Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, que reúne os fabricantes de
agrotóxicos, mas eles não quiseram se manifestar sobre os dados falsos.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secretaria de Saúde Estadual
de São Paulo disse que não há comprovação científica entre os altos
índices e o uso de agrotóxicos.
Eles decidiram não se pronunciar.