Mogi das Cruzes - Entrada dos Palmitos reúne mais de 20 mil em Mogi das Cruzes Charretes, carros-de-boi e cavaleiros tomam as ruas da região central. Cortejo lembra chegada de pessoas da zona rural para a Festa do Divino.

Jenifer Carpani e Douglas PiresDo G1 Mogi das Cruzes e Suzano


Milhares de pessoas participaram da Entrada dos Palmitos em Mogi (Foto: Jenifer Carpani / G1)
Milhares de pessoas participaram da Entrada dos Palmitos em Mogi (Foto: Jenifer Carpani / G1)
Fé, devoção, cantos e orações. Milhares de pessoas fecharam as ruas da região central deMogi das Cruzes (SP) para o tradicional cortejo da Entrada dos Palmitos na manhã deste sábado (7). A manifestação folclórica secular é o ponto alto da Festa do Divino e lembra a chegada de devotos da zona rural de Mogi das Cruzes que vinham para a região central para participar da procissão de Pentecostes.

De acordo com a organização, 2 mil pessoas participaram do cortejo e outras 25 mil estavam no centro de Mogi das Cruzes para assistir ao evento. Por volta das 8h, os participantes se concentraram na Rua Doutor Ricardo Vilela, na altura da Capela de Santa Cruz. As pessoas, que logo cedo abriram suas janelas ou sentaram nas calçadas para ver o cortejo passar, puderam prestigiar a alegria de Maria Aparecida Nascimento, de 62 anos. Ela estava entre os bonecos que abriram o cortejo. "É o 5º ano que participo e é um sonho".
Símbolo de devoção, pomba branca estava presente nas bandeiras do Divino. (Foto: Jenifer Carpani/G1)Símbolo de devoção, pomba branca estava presente
nas bandeiras do Divino. (Foto: Jenifer Carpani/G1)
Logo atrás, os grupos de congada chegaram chamando a atenção com os sons dos tambores. Entre os devotos, a aposentada Helena dos Santos Vieira, de 65 anos, se destacava com sua roupa branca com adereços coloridos. "Sou a capitã da Marujada Nossa Senhora Rosário", diz. "Faz 40 anos que eu participo do cortejo. Recebi uma bênção e todos os anos eu participo [da Entrada dos Palmitos] para agradecer", conta.
A tradição diz que antigamente os devotos agradeciam ao Espírito Santo pela fartura da colheita. Mesmo com a urbanização, a exaltação da vida no campo ainda é feita durante o cortejo com charretes carregando hortaliças e legumes. É por isso que as charretes e os carros-de-boi chamaram a atenção do público que prestigiou. Os cavaleiros e muladeiros também percorreram o trajeto do desfile que passou pela região central da cidade:
Animais participaram da Entrada dos Palmitos em Mogi das Cruzes. (Foto: Jenifer Carpani/G1)Donos enfeitaram animais para evento.
(Foto: Jenifer Carpani/G1)
"Há dez anos eu participo da Entrada dos Palmitos. Eu só tenho a agradecer", diz a aposentada  Maria Helena Gonçalves, de 66 anos. O desfile terminou diante da Catedral de Sant' Anna, perto das 10h.
Festa do Divino
A festa, de origem católica, celebra Pentecostes, que é a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e a Virgem Maria quando estavam reunidos no cenáculo, marcando assim o nascimento da Igreja Católica.
O festejo é realizado 50 dias depois da Páscoa e é muito tradicional em Mogi das Cruzes. Um documento comprova que a devoção ao Divino já existia em Mogi das Cruzes há 400 anos. Já a Entrada dos Palmitos representa a chegada de quem vivia na zona rural de Mogi das Cruzes e vinha para a região central para participar da Festa do Divino. Eles agradeciam ao Espírito Santo pela fartura da colheita.
De acordo com o historiador Jurandyr Ferraz de Campos, embora existam Festas do Divino em todo o Brasil, a Entrada dos Palmitos só acontece em Mogi das Cruzes. Ele explica que o ponto de partida de todas as comemorações é Portugal, mas ao chegar em vários locais do mundo por causa da colonização o festejo tomou forma de acordo com as características de cada localidade. "Defendo a tese que a festa chegou ao Brasil no século XVI e que em Mogi das Cruzes começou no início do século XVII. Além disso, temos uma ata da câmara de 1613 que faz referência ao Dia de Pentecostes. Se havia referência é porque já existia a devoção”, explica.
Carros-de-Boi fizeram sucesso durante o cortejo da Entrada dos Palmitos. (Foto: Jenifer Carpani/G1)Carros-de-Boi são para agradecer a colheita.
(Foto: Jenifer Carpani/G1)
Atualmente apenas as folhas da palmeira juçara enfeitam os postes e mudas da árvore são carregadas por um dos carros-de-boi do cortejo. Até o início da década de 90, o palmito era amarrado aos postes. “A mudança se deu por conta da questão ecológica. Esse foi o ponto básico. Então, para não extrair uma palmeira nativa com risco de extinção, começamos a trazer mudas de palmito”, explica Josemir Ferraz Campos, coordenador do cortejo.
A referência ao palmito é porque antes ele era abundante na Mata Atlântica presente na cidade. Segundo a Prefeitura, atualmente existem no município 18,4 mil hectares remanescentes de Mata Atlântica.
Visitantes ilustres
Campos conta que a festa de Mogi das Cruzes sempre despertou a curiosidade de historiadores e estudiosos da cultura popular. Tanto que em 1936, Mário de Andrade, um dos organizadores da Semana de Arte Moderna e autor do romance Macunaíma, esteve na cidade acompanhado do antropólogo e sociólogo francês Claude Lévi-Strauss.
Segundo o historiador, Mário de Andrade pesquisava o folclore nas cidades que ficavam nos arredores de São Paulo. “Ele também fazia pesquisas musicais e tinha uma aluna de Mogi das Cruzes. Talvez por isso, ele tenha vindo registrar a Festa do Divino”, conclui. A visita rendeu um fruto precioso: um filme com imagens de diferentes momentos da festa como apresentações de grupos folclóricos de congada, moçambique, a cavalhada e a Entrada dos Palmitos feito por Lévi-Strauss e sua esposa Dina para o departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo. No vídeo consta a data de 30 e 31 de maio de 1936.

Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes em 1936

No FInal Deste Vídeo
Curtas-metragens feitos sobre a Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes (SP), em 30 e 31 de maio de 1936, por Claude Lévi-Strauss, Dina Lévi-Strauss e Mário de Andrade. Filmagens retratam cenas da tradicional festa popular, incluindo aspectos religiosos e grupos da cultura tradicional mogiana, como congadas, moçambiques e cavalhadas. Material cedido pelo historiador Jurandyr Ferraz de Campos. Por problemas de áudio, a trilha sonora apenas aparece em partes dos filmes, entre 2:46 e 4:18.

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