OPINIÃO: Bolsonaro admite o sequestro do Brasil Ex-presidente Jair Bolsonaro escancara que condiciona economia e soberania à própria anistia 21/08/2025 |
Por Cleber Lourenço
A gravação da conversa entre Jair Bolsonaro e Silas Malafaia, obtida pela Polícia Federal, é mais do que um registro: é uma confissão pública de sequestro político. Ao dizer que “se não começar votando a anistia, não tem negociação sobre tarifas”, Bolsonaro não apenas expõe sua estratégia. Ele declara, sem rodeios, que o Brasil só pode respirar se pagar o resgate da sua impunidade.
Na íntegra, o ex-presidente afirmou: “Malafaia, o que eu mais tenho feito é conversar com pessoas mais acertadas no tocante que se não começar votando a anistia, não tem negociação sobre tarifas. Não adianta um ou outro governador querer ir para os Estados Unidos, para embaixada, tentar sensibilizar. Não vai conseguir. Da minha parte, é por aí.”
Não se trata de uma fala solta. É a comprovação de que Bolsonaro transformou o país em refém, amarrando interesses nacionais ao destino de seu grupo. Questões centrais como tarifas, comércio exterior e negociações com os Estados Unidos deixam de ser políticas de Estado para virar fichas de barganha pessoal. O ex-presidente ainda reforça: “Resolveu a anistia, resolveu tudo. Não resolveu, já era.” É a voz de quem se coloca como dono de um país, transformando a democracia em refém.
Essa confissão tem peso histórico. Nunca um ex-presidente havia admitido de forma tão escancarada que colocaria a soberania nacional a serviço de seu projeto de sobrevivência. Bolsonaro não esconde que prefere ver governadores correndo atrás de embaixadas sem sucesso a se expor por um tema que atinge milhões de trabalhadores. O silêncio diante do tarifaço não é covardia — é cálculo. Ele só se move quando o prêmio é a sua anistia.
O conteúdo da gravação desmonta qualquer discurso de patriotismo. O líder que se vendia como defensor da pátria se revela um chantagista que usa o sofrimento econômico do povo como arma para obter perdão político. O Brasil, para Bolsonaro, não é um país: é um escudo que deve ser usado para blindá-lo contra as consequências dos seus crimes. Essa lógica é de sequestro, de apropriação privada daquilo que deveria ser público.
O silêncio calculado sobre o tarifaço reforça esse duplo jogo. Bolsonaro admite que não pode “dar uma de machão” porque não adiantaria nada. Tradução: não vale a pena se desgastar pelo país, mas vale a pena articular nos bastidores pela própria salvação. Ele foge das responsabilidades públicas e concentra energia naquilo que realmente importa para si: a anistia.
A contradição é brutal. Enquanto seus seguidores são mantidos na chama da retórica patriótica, Bolsonaro age como quem negocia a liberdade de um país inteiro em troca da própria pele. O suposto amor à pátria se revela fachada; o verdadeiro compromisso é com a blindagem do grupo que tentou subverter a democracia em 8 de janeiro. Não é política, é chantagem.
Essa gravação é uma peça de prova contra o mito do patriotismo bolsonarista. O ex-presidente não fala de empregos, não fala de indústria, não fala de comércio. Fala de anistia. Para ele, a democracia é moeda, a economia é refém e a soberania é secundária. Tudo é sequestrado e reduzido a um único objetivo: garantir que crimes contra o país fiquem sem resposta.
O que está registrado pela PF é a confissão de um homem que tratou a nação como refém. Bolsonaro não apenas governou contra a democracia; ele a tomou como refém para garantir sua impunidade. O Brasil, no diálogo com Malafaia, aparece como um prisioneiro algemado à agenda pessoal de um ex-presidente que não hesita em sacrificar a pátria em nome de si mesmo.
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