Lula dá ministérios a PP e Republicanos, demite Moser e remaneja França


Lucas Borges Teixeira
Do UOL, em Brasília
O presidente Lula fala em primeira reunião ministerial no Palácio do Planalto
O presidente Lula fala em primeira reunião ministerial no Palácio do Planalto Imagem: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Lula (PT) demitiu a ministra do Esporte, Ana Moser, e remanejou o ministro Márcio França (PSB) para uma nova pasta para incluir PP e Republicanos no governo. O anúncio foi feito hoje por meio de nota, após quase dois meses de negociação intensa entre Planalto e centrão.

Como fica o governo

Os novos ministros serão os deputados André Fufuca (PP-MA), em Esporte, e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), em Portos e Aeroportos.


Os dois foram recebidos por Lula no Palácio do Planalto para convite oficial nesta tarde. O governo já havia anunciado desde julho uma reforma ministerial, só faltava decidir quais pastas eles ocupariam.

Ainda foi criado o Ministério de Micro e Pequenas Empresas, como Lula já havia adiantado, que ficará com França. Este foi o jeito de o presidente atender aos pedidos do PSB e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

Com as mudanças anunciadas hoje, as pastas ficam assim:


  1. Silvio Costa Filho vai para Portos e Aeroportos, de Márcio França
  2. França vai para o novo de Micro e Pequenas Empresas
  3. Fufuca vai para Esporte, de Ana Moser
  4. Moser deixa o governo

Trata-se de um arranjo do governo Lula em busca de mais apoio na Congresso, em especial na Câmara. As mudanças foram combinadas diretamente com as bancadas da base dos dois partidos e com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com quem Lula se encontrou com certa frequência, para debater o assunto.

As mudanças forma necessárias para tentar não desagradar (tanto) nem aliados nem novatos. Desde que se propôs a agregar os ex-bolsonaristas, Lula passava por uma sinuca de bico para estabelecer o novo desenho da Esplanada. Ontem (5), Lula chamou Ana Moser para avisá-la que ela deveria deixar o cargo. Ele também almoçou com França e Alckmin para decidir o futuro do paulista, que resistia em deixar a pasta.

Dessa forma, fica salvo o ministro Wellington Dias (PT), do Desenvolvimento Social. O ministério era o mais cobiçado pelo PP, mas houve resistência por parte de Lula entregar a pasta responsável pelo Bolsa Família ao centrão.

Esporte como alternativa pelo Desenvolvimento Social

Lula teve de escolher entre diminuir a participação feminina ou entregar o Bolsa Família. Sob críticas de apoiadores, Lula evitava tirar Moser, depois de já ter trocado uma mulher por um homem no Turismo.


O PP, por sua vez, também resistia à pasta por considerá-la "pequena". Desde que considerou entrar no governo, o partido de Lira lutava pelo Desenvolvimento Social, mas Lula se recusou a entregar o Bolsa Família e tirar Wellington Dias.

A saída foi "turbinar" o Esporte. A ideia é que a pasta concentre parte do orçamento das apostas esportivas, das empresas conhecidas como bets. A secretaria que a gerencia, no entanto, deverá seguir sob a alçada da Fazenda, de Fernando Haddad (PT).

O acerto também deverá incluir a presidência da Caixa Econômica Federal, com a indicação da ex-deputada Margarete Coelho, nome de Lira. O único pedido de Lula foi que a gestão, hoje sob Rita Serrano, seguisse com uma mulher.

Sem desagradar o PSB

Esporte era inicialmente a pasta desejada pelo Republicanos, que acabou aceitando Portos e Aeroportos. O problema é que, sem mandato França não queria perder a vaga e resistia a ir à nova pasta anunciada por Lula em uma live.

Para o PSB, a pasta tinha muitas semelhanças com o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), já comandado por Alckmin, enquanto para França a pasta era estratégia para o seu reduto eleitoral, a Baixada Santista, com o controle do maior porto do país.


O partido que compõe a chapa principal chegou a reclamar publicamente de uma diminuição do número de ministériosApós o almoço com Lula ontem, quando o presidente apresentou a proposta final, Alckmin e França se reuniram com o presidente partidário Carlos Siqueira e o prefeito de Recife, João Campos (PSB), à noite. O vice trouxe a resposta a Lula nesta manhã no Alvorada.

Negociações difíceis

As negociações duraram cerca de dois meses de queda de braço e já estavam irritando o centrão. A entrada dos dois partidos foi confirmada pelo governo há quase um mês e meio, em meados de julho, quando já havia pressão do centrão por mais cargos.

Incomodado, o centrão da Câmara pressionou Lula com na votação de projetos importantes, em especial o arcabouço fiscal. O projeto que substitui o teto de gastos e ajuda a nortear a política econômica do terceiro mandato foi aprovado depois de muito vaivém, mas não da forma que o governo queria: sem a emenda que permitia gastos extraordinários pela União.

O governo dizia que não havia pressa e que Lula ainda estava "desenhando" o novo arco ministerial. A demora, no entanto, se deu em uma mistura entre dificuldade para fechar a nova Esplanada e um cálculo do presidente: conforme o UOL apurou, ele não queria parecer que o governo está refém do Congresso. Como já havia prometido as pastas aos dois partidos — "acordo no fio do bigode", como gosta de repetir —, o presidente argumentava não ver para correr com as indicações.

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2023/09/06/reforma-ministerial-lula-troca-de-ministerios-centrao-aliados.htm

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