Sem correção da tabela, quem ganha R$ 1.941 vai passar a pagar Imposto de Renda


Marcello Casal JrAgência Brasil
Imagem: Marcello Casal JrAgência Brasil

Brasília

13/07/2022 

Com a previsão de um salário mínimo de R$ 1.294 em 2023, os brasileiros que ganharem 1,5 salário mínimo (R$ 1.941) vão ter de pagar o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) a partir do ano que vem se a tabela não for corrigida. 

Isso significa que

 R$ 2,77 devem ser descontados todo mês do contracheque desses trabalhadores. 

Hoje, quem ganha 

1,5 salário mínimo (R$ 1.818) é isento do IR.

O quadro revela uma situação agravada nos últimos anos em que cada vez mais pessoas com renda baixa passaram a pagar o imposto

A razão é o congelamento do limite da faixa de isenção da tabela do IRPF em R$ 1.903.

 Ele é o mesmo desde 2015, quando o salário mínimo era de R$ 788. 

Pagava imposto quem ganhava acima de 2,4 mínimos (hoje, o correspondente a R$ 2.908). 

Quando o Plano Real entrou em vigor, em julho de 1994, a faixa de isenção do IR era de R$ 561,81, o correspondente a oito salários mínimos à época (de R$ 70).


A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovada nesta quarta-feira, 12, pelo Congresso prevê um reajuste do mínimo de R$ 1.212 para R$ 1.294. 

O valor deve subir ainda mais por causa da inflação em alta. 

O próprio Ministério da Economia já revisou para cima as estimativas do reajuste e prevê o mínimo em R$ 1.310 a partir de janeiro do ano que vem. 

Se concretizar, quem ganha 1,5 salário mínimo (R$ 1.965) terá R$ 4,57 descontados todo mês.

Simulações feitas a pedido do Estadão pela tributarista Elisabeth Libertuci, sócia do escritório com o mesmo nome, mostram que quem tem renda menor poderá ter um aumento expressivo de imposto. 

Com o salário em R$ 1.294, o imposto pago sobe 141%. 

Já com o salário em R$ 1.310,17, a mordida do Leão ficará 169% maior para o grupo de pessoas com renda mais baixa. 

Para quem ganha R$ 2 mil de salário, por exemplo, a diferença do imposto a ser pago a mais chega a 10% por mês se o mínimo for de R$ 1.294 - o equivalente ao desconto de R$ 7,20 todo mês. 

O peso do aumento cai à medida que a renda do contribuinte é maior.

"O efeito é avassalador. O problema de não reajustar a tabela para as classes mais baixas é que, no final do dia, quem pagará o Auxílio Brasil adicional é quem ganha menos", ressalta. 

"Quem não trabalha está recebendo limpo no bolso o Auxílio", pondera ela, que defende não só a correção do limite de isenção para um patamar no mínimo próximo de R$ 3 mil, mas também o desconto simplificado mensal calculado no contracheque do trabalhador para a inflação não comer a renda até a devolução do imposto pago a mais.

 Hoje, o desconto é aplicado apenas no ajuste da declaração anual.

Aumento de arrecadação

Quanto mais a tabela fica congelada, mais o governo arrecada com a inflação.

 Segundo o presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco), Mauro Silva, a cada 1 ponto porcentual de inflação não corrigido na tabela são mais R$ 2 bilhões por ano nos cofres do governo.

"É um aumento brutal de carga tributária. Nunca imaginamos uma faixa de isenção tão baixa", diz Silva. Segundo ele, o congelamento da tabela é a razão do aumento exponencial de declarantes.

 Enquanto o Unafisco calculava uma entrega de cerca de 32 milhões de declarações do IRPF neste ano, o número ficou em torno de 36 milhões. 

"É uma delícia para União, Estados e municípios. É só ficar quietinho que há um aumento da arrecadação", critica.

 Para ele, os governadores e prefeitos são "sócios" dessa situação porque compartilham com a União a arrecadação do IR.

"O presidente Bolsonaro não corrigiu nem aquilo que seria de responsabilidade do governo desde 2018, um reajuste de 24,49%", afirmou. 

A correção da tabela foi tema de campanha nas eleições de 2018.

 Bolsonaro prometeu o reajuste, mas o governo optou por usar o aumento de arrecadação para desonerar tributos, como o IPI, e fazer o parcelamento de débitos tributários para micro e pequenas empresas, além do aumento dos benefícios sociais com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) "Kamikaze".

https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2022/07/13/sem-correcao-ir-atingira-quem-recebe-15-salario-minimo.htm

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