A 80 dias da eleição, campanhas seguem caminhos opostos: 1º turno ou golpe?

 

Lula e Bolsonaro tomaram caminhos opostos na reta final da campanha presidencial que deixa o país numa encruzilhada -  O Antagonista
Lula e Bolsonaro tomaram caminhos opostos na reta final da campanha presidencial que deixa o país numa encruzilhada Imagem: O Antagonista
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Ricardo Kotscho

Colunista do UOL

14/07/2022 

Esta semana marcou um divisor de águas na campanha presidencial, com os dois candidatos ainda na disputa assumindo caminhos diametralmente opostos.

De um lado, Lula corre para ampliar suas alianças ao centro, já pensando na governabilidade em caso de vitória, para reconstruir o país, tentando decidir tudo já no primeiro turno.


De outro, Bolsonaro radicaliza cada vez mais o discurso à extrema-direita, ao mobilizar seus seguidores fiéis para enfrentar a guerra contra a volta dos "comunistas" ao poder.

O último comunista brasileiro, o grande arquiteto Oscar Niemeyer, que eu saiba, morreu faz tempo e nunca chegou ao poder.

É nessa encruzilhada que o país se encontra no momento, a 80 dias da eleição, sem nem mesmo saber se haverá eleição no dia marcado, 2 de outubro.

Pensei nisso ao dar uma entrevista hoje para a jornalista Myrian Clark, no seu programa do canal My News, quando um internauta me perguntou como seria o dia seguinte a um golpe de Bolsonaro em caso de derrota.

Respondi-lhe que não acredito nisso e, se houver o golpe, não tem a menor chance de dar certo.

 Bolsonaro e seus generais não têm a menor competência nem apoio na sociedade para levar isso a cabo.

Mas me preocupa o simples fato de estar se discutindo essa possibilidade, com a maior naturalidade.

 A cada dia, cada vez com menos credibilidade, aparece um general do governo para garantir que as Forças Armadas respeitarão o resultado e baterão continência para o eleito. Em que país civilizado isso é necessário?

Ainda hoje, em entrevista ao UOL, o ex-presidenciável tucano João Doria, um liberal, alertou que Bolsonaro planeja adiar as eleições com incentivo à violência. E justificou sua preocupação: "É um doente".

Quanto a isso, estamos de acordo.

 O problema é que nada há na legislação eleitoral para que uma junta médica avalie a saúde mental dos candidatos. 

Se houvesse, em 2018, o capitão ejetado do Exército por planejar atentados terroristas não seria hoje presidente da República.

Assim, Bolsonaro vai tocando sua escalada de ódio, terror e violência, sem que nada aconteça.

O que mais me assusta é isso: as instituições e a sociedade civil não reagem mais para defender a democracia ameaçada diariamente pelo capitão ensandecido e seus generais de pijama.

As milícias digitais bolsonaristas, investigadas pelo Supremo Tribunal Federal faz dois anos, continuam agindo livremente a todo vapor, mentindo, criando fake news, transformando vítimas em culpados, criando uma realidade paralela para justificar a tragédia de Foz do Iguaçu.

O objetivo dos bolsonaristas não é ter razão, mas criar confusão

É semear dúvidas, medo e insegurança na população, como lhes ensinou o marqueteiro de Donald Trump,,Steve Bannon, o guru do falecido guru Olavo de Carvalho, teólogo da seita fundamentalista que uniu o capitão ao Centrão, aos evangélicos neopentecostais, aos agrotrogloditas do Elio Gaspari, ao mercado especulador de Paulo Guedes e a amplos setores militares, aqueles que se locupletam neste governo de fancaria.

É como se tudo isso estivesse acontecendo em outro país, não aqui, como se nada disso afetasse nosso futuro.

Ao liberar o governo, sob o comando do inacreditável Arthur Lira, o presidente da Câmara que nos faz sentir saudades do probo Eduardo Cunha, a distribuir livremente R$ 42 bilhões às vésperas da eleição, incluindo cestas básicas e tratores, para comprar votos dos mais pobres que apoiam Lula, o Congresso Nacional se faz cúmplice desse atentado à Constituição, mais um golpe dentro do golpe de 2016. 

Tudo dentro das quatro linhas, é claro.

Em agosto e setembro, vai chover dinheiro na horta dos miseráveis, mas ainda não se sabe se isso será suficiente para fazer Bolsonaro subir nas pesquisas e desistir de melar as eleições.

Desde a sua posse, o presidente improvável, que não imaginava conquistar o poder pelo voto, joga para nele se manter a qualquer preço (e que preço!), por tempo indeterminado, para completar seu projeto de vingança contra os que lhe tiraram a farda, às custas da destruição do país e do nosso futuro, para satisfazer suas taras sadomasoquistas, que um dia ainda haverão de ser estudadas. 

Mas aí já poderá ser tarde demais.

Nossa única esperança para conter essa insanidade é o voto, mas até essa já está ameaçada. 

Fala-se mais em golpe do que em programa de governo.

Decidir essa eleição no primeiro turno deixou de ser uma "difícil opção", como diria o Estadão, para se tornar uma questão de sobrevivência, goste-se ou não do Lula.

Vocês já pensaram em viver num país com mais 4 anos de governo Bolsonaro e sua corja de inúteis ressentidos, pastores salafrários, corruptos em geral e incompetentes crônicos?

Não é nem pelo meu amigo Lula, que há tempos não fala comigo, por razões que desconheço, mas é que não tem outro no momento para impedir essa desgraça, depois que todas as terceiras vias fracassaram.

A essa altura, não dá mais para ficar em cima do muro. 

É questão de vida ou morte.

Vida que segue.

.https://noticias.uol.com.br/colunas/balaio-do-kotscho/2022/07/14/a-80-dias-da-eleicao-campanhas-seguem-caminhos-opostos-1-turno-ou-golpe.htm  

Campanha de Bolsonaro aposta em sentimentalismo para atrair voto feminino | Ricardo Kotscho



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