Datafolha: Confiança nas urnas eletrônicas avança em meio a ataques de Bolsonaro

 

Após reunião de Bolsonaro com embaixadores, 79% afirmam confiar muito ou um pouco no sistema brasileiro

Carolina Linhares
São Paulo

A confiança do brasileiro no sistema de votação pelas urnas eletrônicas avançou mesmo diante das reiteradas mentiras e teorias conspiratórias repetidas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para colocar em dúvida o processo eleitoral.

De acordo com pesquisa Datafolha feita entre quarta (27) e quinta-feira (28), 47% da população diz confiar muito na urna eletrônica, enquanto 32% afirmam confiar um pouco —o que gera um índice de credibilidade de 79% para o sistema, segundo o instituto.

Outros 20% responderam que não confiam na urna eletrônica, e 1% não soube opinar.

A nova rodada do levantamento ocorre na semana seguinte ao que tem sido considerado o mais emblemático ataque de Bolsonaro ao sistema eleitoral até aqui: a reunião com dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada em que ele desacreditou as urnas, promoveu novas ameaças golpistas e atacou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Bolsonaro fala a embaixadores
Bolsonaro durante reunião com embaixadores em que mentiu sobre a urna eletrônica - Reprodução

Depois desse episódio, que gerou uma série de reveses e respostas de instituições a Bolsonaro, além de cartas em defesa da democracia, o índice de confiança nas urnas acabou subindo.

Em maio, eram 73% aqueles que davam crédito à urna eletrônica —42% disseram confiar muito e 31%, um pouco. 

A parcela dos que não confiavam no sistema eletrônico era de 24%.

Já em março, contudo, o Datafolha registrou o maior nível de confiança nas urnas desde o início da medição, em dezembro de 2020: 82% contra 17% que declararam não confiar no sistema.

A suspeita sobre as urnas prospera no público bolsonarista, segundo a pesquisa. Eleitores de Bolsonaro se dividem entre 25% que dizem confiar muito, 44% que dizem confiar um pouco e 31% que dizem não confiar.

Ao analisar os eleitores do seu principal rival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a situação se inverte.

 No total, 60% declaram confiar muito nas urnas, 26% dizem confiar um pouco e 14% afirmam não confiar.

​Outro público no qual o discurso de Bolsonaro ressoa é o evangélico, que se divide entre 35% que afirmam confiar nas urnas, 38% que dizem confiar um pouco e outros 26% que responderam não confiar.

O índice de alta confiança nas urnas eletrônicas, que é de 47% na média, vai a 51% entre quem tem mais de 60 anos, 54% entre quem tem ensino superior, 58% entre quem tem renda familiar de mais de dez salários mínimos, 50% entre os pretos, 52% entre desempregados e 59% entre funcionários públicos.

A taxa é de 42% para quem tem entre 16 e 24 anos, 39% para moradores da região Norte, 34% para empresários e 41% para donas de casa.

Na outra ponta, a média de desconfiança completa nas urnas, que é de 20%, vai a 16% entre quem tem de 16 a 24 anos, 15% entre funcionários públicos, 13% entre homossexuais e bissexuais , 22% entre aposentados e 30% entre empresários.

Conheça principais dispositivos de segurança das urnas eletrônicas


A pesquisa Datafolha, contratada pela Folha, ouviu 2.556 pessoas em 183 cidades do país. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número BR-01192/2022.

No Brasil, nunca houve registro de fraude nas urnas eletrônicas, em uso desde 1996. 

Apesar disso, Bolsonaro reciclou afirmações falsas e sem comprovação na apresentação aos diplomatas estrangeiros.

Por meio de uma profusão de mentiras, Bolsonaro vem fomentando a descrença nas urnas. No entanto, em vez de ser barrado por aqueles ao seu redor, o mandatário tem contado com o respaldo de militares, membros do alto escalão do governo e seu partido em sua cruzada contra a Justiça Eleitoral.

O discurso golpista aparenta funcionar como um plano B para o caso de perder o pleito. 

O Datafolha também mostrou que o presidente está 18 pontos atrás de Lula, com 29% a 47%. Lula tem 52% das intenções de votos válidos, o que o deixa em condições de ganhar a eleição em primeiro turno.

O avanço na confiança das urnas entre a população é mais um revés para Bolsonaro na esteira da apresentação aos embaixadores

Entre as principais reações ao episódio está a articulação de dois manifestos pela democracia.

Um deles já foi disponibilizado para adesões públicas e teve em sua organização ex-alunos da Faculdade de Direito da USP. Assinaram empresários, banqueiros e ex-ministros do STF.

O outro é de entidades empresariais e associações e conta com o apoio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Ambos devem ser lidos no dia 11 de agosto no Largo do São Francisco, no centro de São Paulo.

O que Bolsonaro já disse sobre urnas e ameaças às eleições e ao TSE


Os dias que se seguiram ao encontro com os embaixadores já tinham sido marcados por reações de repúdio em cadeia, incluindo a cúpula do Judiciário, diferentes setores do Ministério Público, associações de servidores públicos da Polícia Federal, da Abin e do Ministério Público, e até mesmo declarações reiterando a confiança no sistema eleitoral brasileiro por parte de autoridades estrangeiras.

O Datafolha também mostrou que, para 56% dos brasileiros, os ataques de Bolsonaro ao STF, ao TSE e às eleições devem ser levados a sério pelas instituições do país. Outros 36% dizem que as declarações do presidente não terão consequências.

A maioria de 56%, porém, diz que Bolsonaro não vai tentar um golpe de Estado, enquanto 37% responderam acreditar que o presidente vai tentar se manter no poder a qualquer custo.

O presidente aproveitou o convite do TSE para as Forças Armadas integrarem a Comissão de Transparência das Eleições para elevar o tom contra o tribunal.

 Os militares também têm cobrado mudanças no sistema eleitoral.

O TSE vem adotando uma série de medidas para ampliar a transparência do sistema eletrônico de votação na tentativa de esvaziar o discurso do chefe do Executivo.

crise patrocinada por Bolsonaro teve início quando o presidente disse que as eleições de 2022 somente seriam realizadas com a implementação do sistema do voto impresso —apesar de essa proposta já ter sido derrubada pela Câmara.

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/07/datafolha-confianca-nas-urnas-eletronicas-avanca-em-meio-a-ataques-de-bolsonaro.shtml

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