Bolsonaro perde de goleada no STF que Eduardo achava fácil fechar - Condenação do deputado Daniel Silveira irritou o presidente que viu seu filho ser barrado na porta do tribunal
atualizado 21/04/2022 11:32
Bastou um servidor de terceiro escalão para bater, ontem, à tarde, as portas do Supremo Tribunal Federal (STF) na cara do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o Zero Três, que em outubro de 2018, quando seu pai estava apenas há 10 meses na presidência da República, disse a uma plateia de estudantes conservadores que o aplaudiam no Rio com entusiasmo:
“Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo. […] O que é o STF? Tira o poder da caneta da mão de um ministro do STF, o que ele é na rua? Se você prender um ministro do STF, você acha que vai ter manifestação popular a favor dos ministros do STF? Milhões na rua?”
O deputado queria assistir no plenário do tribunal ao julgamento do seu colega Daniel Silveira (PTB-RJ), acusado e, ao fim, condenado a 8 anos e 9 meses de prisão em sistema fechado por incitar agressões a ministros da Corte e atacar a democracia. Eduardo estava acompanhado de Silveira, também barrado. Uma resolução proíbe a presença, ali, de estranhos ao ambiente.
“Se puder levar minha reclamação lá dentro”, choramingou Eduardo ao servidor. O advogado de defesa de Silveira, que não informou se se vacinara contra a Covid-19, foi obrigado a fazer um teste para comprovar que não estava contaminado pelo vírus. Passou no teste e foi admitido no plenário. Do contrário, só poderia defender seu cliente de dentro de uma sala, isolado.
O Supremo não é casa-de-mãe-joana. E se o clã Bolsonaro ainda tinha alguma dúvida quanto a isso, deve tê-la perdido de vez. O pai de Eduardo tinha a expectativa de que algum dos ministros de sua bancada no tribunal pedisse vista do processo, interrompendo o julgamento de modo que Silveira pudesse concorrer às próximas eleições. A expectativa foi para o brejo.
Da bancada de Bolsonaro fazem parte os ministros Kássio Nunes Marques e André Mendonça, o terrivelmente evangélico, os dois nomeados por ele que, se reeleito, nomeará mais dois para vagas que se abrirão até 2026. Marques votou pela absolvição de Silveira, que teria cometido “excessos”, “bravatas” e “aleivosias”. Mendonça votou por dois anos de prisão, o que deixaria Silveira solto.
Na véspera do julgamento, como aqui se publicou, a maioria dos demais ministros esperava que Mendonça não pedisse vista. Ele preferiu ficar de bem com os colegas a satisfazer a vontade de Bolsonaro. Mendonça votou remotamente de Lisboa, onde participou de um seminário promovido pelo instituto de assuntos jurídicos do ministro Gilmar Mendes, que também votou de lá.
À caça de votos ao invés de dar expediente no Palácio do Planalto, desta vez em Goiás onde seus seguidores vaiaram o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), Bolsonaro ficou irritado com o desempenho dos seus pupilos togados. De volta a Brasília, calou-se e foi assistir à noite ao jogo no estádio Mané Garrincha entre o Botafogo e o Ceilândia pela terceira fase da Copa do Brasil.
O Botafogo ganhou por 3 x 0. No Supremo, Bolsonaro perdeu por 10 x 1.
https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/ricardo-noblat/bolsonaro-perde-de-goleada-no-stf-que-eduardo-achava-facil-fechar