Com cinco meses de governo, Mourão supera Bolsonaro em tempo fora de Brasília - O vice-presidente já passou por cinco países, enquanto o presidente visitou quatro. Os compromissos oficiais do general incluem agenda com empresários, estudantes e formadores de opinião, adotando tom mais conciliador.

POR GABRIELA ECHENIQUE (gabriela.echenique@cbn.com.br)

Trinta e cinco dias, 22 viagens e 18 cidades visitadas. Esse é o balanço das viagens feitas pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão. 

Uma média de quatro viagens por mês. 

Em cinco meses de governo, o vice já passou por mais cidades e mais países que o próprio presidente, Jair Bolsonaro. 

Ele, inclusive, já percorreu as cinco regiões do país. 

Bolsonaro fez a primeira viagem ao Nordeste há duas semanas.

Desde o início do governo, Mourão ficou mais tempo fora de Brasília do que o presidente: visitou oito estados e cinco países: Colômbia, Estados Unidos, Líbano, China e Itália. Jair Bolsonaro foi a quatro. 

Os principais compromissos são com empresários. 

Mas ele tem aproveitado as viagens para se reunir com outros setores que nem sempre são atendidos por Jair Bolsonaro. 

Nos Estados Unidos, por exemplo, Mourão fez questão de receber imigrantes brasileiros que vivem no país, uma semana depois que o presidente, em Washington, criticou os brasileiros que vivem ilegalmente nos Estados Unidos.

Lá, o vice conversou também com formadores de opinião e estudantes de Harvard. 

Já foi ao Nordeste duas vezes. Nesta semana, foi ao Recife receber mais um título de cidadão honorário. 

Em abril, já tinha recebido homenagem semelhante no Piauí, onde aproveitou para se reunir com o governador do estado, Wellington Dias, do PT. 

Mourão também ganhou protagonismo ao visitar a China. Para o cientista político, Alexandre Bandeira, com as viagens, Mourão tem ganhado até mais notoriedade que os últimos vice-presidentes. E diz que ele funciona como uma “válvula de panela de pressão” ao tentar amenizar alguns problemas do governo.

“É uma questão de notoriedade maior também do Mourão enquanto vice-presidente. Se a gente observar os últimos presidentes desde FHC, os vice-presidentes eram muito mais ‘low profile’ do que necessariamente o Mourão. Acaba funcionando mais ou menos como uma válvula na panela de pressão, você precisa ter uma área de escape para que não seja uma situação de pressão o tempo todo”, explica. 

Por adotar um tom mais ameno e conciliador dentro do governo, chegou a ser bastante criticado pela ala mais ideológica ligada a Bolsonaro, inclusive pelos filhos do presidente. Mas para o analista da Inteligência Política, Mellilo Diniz, as viagens e compromissos do vice reduzem os desgastes no governo e criam pontes com outros setores:

“Porque o simbolismo dessas agendas acaba trazendo benefícios, mas também tensões que são naturais. Nesse momento, o vice-presidente reduz a quantidade de desgastes, trabalha para que o presidencialismo de colisão adotado por Jair Bolsonaro volte para ser um presidencialismo de coalizão e cria pontes com a sociedade civil, com a oposição e com setores do próprio governo dando um grau de estabilidade que falta muitas vezes em outra parte do governo federal."

Mesmo quando assumiu a Presidência interinamente, Mourão também viajou. Jair Bolsonaro estava em Washington, quando o vice foi para a China. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, chegou a ocupar a Presidência por um dia. 

Nas 22 viagens que fez, Hamilton Mourão também deu prioridade aos militares e ao setor do agronegócio. 

Em quatro delas, falou com produtores rurais. 

Em oito viagens, os compromissos envolveram militares, inclusive fora do país, na Colômbia e nos Estados Unidos.

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