Mesmo em crise política, vereadores fazem piada em propaganda eleitoral Fim das coligações proporcionais pode sepultar candidatos folclóricos caso reforma política avance.
Pedro Durán
A sobrevida deles pode estar perto do fim. As
chances são grandes de as eleições de 2016 serem a despedida de boa
parte dos candidatos que dedicam o programa eleitoral gratuito para
fazer piada.
Isso porque o Congresso Nacional deverá
debater em breve uma nova reforma política, mais ampla que aquela
aprovada no fim do ano passado.
Uma das principais propostas que está na
pauta é o fim das chamadas coligações partidárias proporcionais,
aquelas que permitem que os partidos se unam em grupos e os votos sejam
usados para levar para as casas legislativas os políticos mais votados
de cada bloco.
O coordenador da Academia Brasileira de
Direito Eleitoral e Político, Rodolfo Viana Pereira, diz que a ideia era
unânimidade nos bastidores da criação da minireforma, mas acabou não
passando e agora volta com força.
"Eu não tenho a menor dúvida que neste ano, após as eleições municipais, o Congresso já começará a articulação para a nova reforma política do ano que vem. Essa reforma política foi uma reforma de balão de ensaio, pra estourar agora nas eleições municipais.
"Eu não tenho a menor dúvida que neste ano, após as eleições municipais, o Congresso já começará a articulação para a nova reforma política do ano que vem. Essa reforma política foi uma reforma de balão de ensaio, pra estourar agora nas eleições municipais.
E como agora, o Congresso
Nacional já está sinalizando a ideia de diminuir o número de partidos
representados, inclusive com a adoção das cláusulas de barreiras, eu
acho que tem grandes chances de que o fim das coligações proporcionais
possa finalmente ser adotado no Brasil em nome da reponsabilidade dos
partidos políticos perante o eleitor. Estamos na expectativa", diz.
O ministro do Tribunal Superior
Eleitoral, Henrique Neves, explica que não é possível interferir
diretamente no conteúdo das propagandas que em vez de proposta, trazem
deboche.
"O espaço de propaganda eleitoral ele
tem que ser, por conta da democracia, um espaço livre.
A interferência
no conteúdo da propaganda eleitoral ela só pode ocorrer quando se há uma
ofensa à honra de terceiros - e mesmo assim ela só pode ocorrer depois
da exibição, não se pode haver censura prévia", diz.
Ele também entende que, se aprovado, o fim das coligações proporcionais deve trazer impacto às propagandas.
"O Congresso Nacional tem discutido - e
me parece com uma grande propensão - acabar com as coligações
partidárias. O fim das coligações partidárias terá reflexos obviamente
na propaganda eleitoral, principalmente do rádio e da televisão",
completa.
A concorrência não é desculpa para
apelar.
Ao todo, 463 mil aspirantes a parlamentar disputarão 58 mil
vagas em todo o país. Uma média de 8 candidatos por vaga. Em grandes
cidades, como São Paulo, a média sobe para 24 candidatos por posto de
vereador.
O equivalente a menos da metade da proporção do curso de
medicina da USP, por exemplo, que tem 58 candidatos para cada vaga.
Para o cientista político Albertos
Carlos Almeida, autor do livro "A Cabeça do Eleitor", os piadistas
geralmente não têm base eleitoral.
"Ele tem algum recurso de campanha, ele
tem a ligação com algum tipo de movimento social, igreja... Existe uma
consistência.
Esses candidatos que usam de recursos à la caricatura em
seus programas eleitorais eles provavelmente não têm essa conexão
social, essa conexão com outras estruturas que os candidatos que acabam
sendo eleitos têm.
E aí de novo, vale aquela regra de que 20% dos
candidatos têm 80% dos votos. Esse pessoal não está dentro desses 20%
dos candidatos", diz.
Mais famoso entre os folclóricos, o
deputado Federal Tiririca, eleito com mais de 1 milhão de votos em 2010 e
2014, volta às propagandas eleitorais. Desta vez, pedindo votos em
capitais como Aracajú, Maceió e São Paulo e várias outras cidades.
Candidato novamente, Marquito,
ex-assistente de palco do programa do Ratinho, conseguiu ficar 39 meses
na Câmara dos Vereadores de São Paulo após assumir como suplente uma
vaga do PTB.
Nesse tempo, ele gastou cerca de R$ 6,2 milhões - um gasto
do equivalente a R$ 280 para cada um dos 22 mil eleitores que votaram
nele.
Hoje, Marquito é investigado pelo Ministério Público suspeito de
ter cobrado de volta parte dos salários dos funcionários de seu
gabinete.
Mesmo assim, tenta voltar à Câmara.
"Quero dizer a vossas excelência (sic.)
que desconheço por completo qualquer repasse de dízimo por parte de meus
funcionários", declarou.
O professor de semiótica da Faculdade
Cásper Líbero, Antonio Roberto Chiachiri Filho, destaca que o que pode
parecer confortável, é, no fundo, mentiroso. E pede atenção.
"A vontade de eleger vereadores é tão
grande que eles tentam colocar pessoas que deixam certa marca, mesmo que
essa marca seja uma marca engraçada, uma marca esquisita.
O que é fácil
é entender que esses signos que eles estão colocando são signos
mentirosos. São signos que não contam a verdade, que não dizem a
verdade.
A partir daí se você cai num signo que não é verdadeiro, se é
um signo mentiroso e se ele encaixa em você, você vai achar confortável
isso. E pronto, tá ótimo", diz.
Até agora, os partidos políticos brasileiros transferiram ao todo R$ 80 milhões para as campanhas eleitorais em todo o Brasil.