Desemprego e crise afastam estrangeiros que tinham interesse em trabalhar no Brasil Nos últimos cinco anos, as autorizações de trabalho para estrangeiros caíram 47% e as multinacionais enxugaram em até 80% o quadro de expatriados no Brasil. Os Estados Unidos, as Filipinas e o Reino Unido lideram o ranking dos países de origem.
Autorização de trabalho para estrangeiros no Brasil
Crédito: CBN
Crédito: CBN
Por Pedro Duran
Além do afastamento de estrangeiros que
tinham interesse em vir para o Brasil, a procura de trabalho para
brasileiros no exterior aumentou. O
gerente de operações Abdel Ayubi nasceu no Líbano, mas foi em
Versailles, na França, que construiu sua carreira em uma multinacional.
Até que, um ano atrás, surgiu a proposta para trabalhar no Brasil.
Apesar da crise econômica, ele tinha um grande incentivo para fazer as
malas mais uma vez: a filha Lauren, de um ano e meio, que vive com a mãe
aqui. Abdel gosta do país, mas não aconselha outros estrangeiros a
virem agora.
"Esse é
um país perfeito, mas eu acho que tem uma mudança política. Meu
conselho pra eles é que pelo momento de hoje, não vão. Você fala de
mercado de trabalho, mercado de vendas, é mais difícil hoje".
Histórias
como a de Abdel estão ficando cada vez mais raras pelos dados do
Ministério do Trabalho. De cinco anos para cá, as autorizações para
estrangeiros trabalharem no Brasil caíram quase que pela metade. Em 2011
foram pouco mais de 69 mil permissões. No ano passado, menos de 37
mil.
A
maioria tem boa formação, trabalha com ciências e artes ou são técnicos
de nível médio e tem entre 20 e 49 anos. Proporcionalmente, são sete
homens para cada mulher. Liderando a lista de países de origem, estão os
Estados Unidos, seguidos das Filipinas e o Reino Unido, em terceiro
lugar.
Os estados do Rio de Janeiro e São Paulo se revezam na liderança dos locais mais procurados pelos estrangeiros, somando sempre a maioria dos pedidos. Nos últimos dois anos, o Rio liderou a lista.
Em um
levantamento do portal Vagas.com, comparando os dois primeiros meses de
2015 com o mesmo período de 2016, o volume de currículos de estrangeiros
caiu 17%, enquanto o número de brasileiros procurando emprego aumentou
em 26%. O analista de inteligência de negócios, Rafael Urbano conta que,
apesar da queda, os estrangeiros podem ser mais produtivos em postos de
muita exigência.
"Normalmente
esses profissionais estrangeiros eles miram muito a área de
administração de empresas, engenharia civíl, área de tecnologia. Essas
pessoas elas podem reorganizar grandes processos, ter uma produtividade
melhor, com um quadro mais enxuto acabam produzindo muito mais".
O
coordenador de estatísticas do Observatório das Migrações
Internacionais, Tadeu de Oliveira, monitora o recuo nas solicitações.
"A
migração ela é muito determinada por esses sinais que o país receptor
emite. Se não tem atração, se não tá gerando emprego, se você tá vivendo
um momento político conturbado, se essa crise política se alonga por
muito mais tempo, a pessoa vai pensar duas vezes antes de vir pro
Brasil".
Lucas
Ghiraldi é brasileiro, gerente de uma empresa italiana que vende
máquinas para grandes obras. Ele mora no Brasil, mas trabalha desde 2009
viajando o mundo e fazendo novos negócios.
Ele é
uma das 257 mil pessoas que voaram e ainda não voltaram nos últimos 5
anos. Os dados da Agência Nacional de Aviação Civíl apontam que, de 2011
a 2015, 48 milhões 320 mil pessoas pegaram um avião para fora do país,
mas só 48 milhões e 63 mil pousaram aqui.
Pela primeira vez nos últimos anos, Lucas pode ter que passar mais tempo longe do que em casa.
"O meu
foco era, sim, acompanhar o Brasil, seguir o mercado brasileiro. Isso
em 2009. Foi o que foi feito, em cinco, seis anos anos foi o que foi
feito. Hoje em dia, muitos clientes nossos, muitos deles estão fechando
as portas. Por causa disso, no meu caso pessoal, eu tenho ficado,
infelizmente, cada vez menos no Brasil e tendo que viajar um pouco mais
por outros países ao redor do mundo."
O
encolhimento das equipes de estrangeiros e o retorno dos expatriados é
observado pela maior consultoria em recrutamento e seleção de executivos
do país. O diretor da Michael Page, André Nolasco, calculou o
movimento.
"Eu
vejo que as estruturas diminuíram em cerca de 80%. Só estão ficando
estrangeiros e expatriados que são realmente chave. Agora, interesse dos
profissionais de ir pra fora, eu posso te falar tranquilo que aumentou
mais de 100%. Dobrou! Tranquilo, tranquilo, tranquilo...".
Para
quem trabalha com auxílio de vistos: a saída é compensar a diminuição
dos estrangeiros que chegam com o aumento dos brasileiros que partem,
como explica Denise Marques, da Horizon.
"Nós
notamos uma queda acentuada nos pedidos de solicitação de visto de
trabalho em razão da crise no país. As empresas passaram a demitir
funcionários e não expatriar mais nenhum pra cá. E nós passamos a ter
mais pedidos de solicitações para fora, isso pra qualquer país. De
brasileiros buscando oportunidades em outros países".
Segundo
a Confederação Nacional da Indústria, os indicadores nos níveis de
atividade e emprego da construção civíl ficaram em 35 pontos em
fevereiro. Os índices variam de zero a 100 e quando são menores que 50,
representam expectativa de queda. Para os analistas, o setor foi um dos
que mais perdeu trabalhadores estrangeiros no Brasil nos últimos anos.
Fonte de dados das imagens: OBMigra - Observatório das migrações internacionais (Ministério do Trabalho e Emprego)