Presença de diplomatas em reunião golpista abre mal-estar no Itamaraty


Jamil Chade
Colunista do UOL, em Genebra
Reunião ministerial de Bolsonaro que embasou operação da PF
Reunião ministerial de Bolsonaro que embasou operação da PF Imagem: Reprodução

A presença de embaixadores brasileiros em reunião com Jair Bolsonaro - investigada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) - abre um mal-estar e acusações no Itamaraty, com uma ala dos diplomatas exigindo que a instituição tome distância de qualquer ato ou trama golpista. Parte dos funcionários da instituição ainda questiona o motivo pelo qual os embaixadores, funcionários de estado, não denunciaram o conteúdo antidemocrático do encontro.

A reunião aconteceu no dia 5 de julho de 2022. O vídeo do encontro estava no computador do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Agora, seu conteúdo faz parte das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado. Em vários momentos do encontro, Bolsonaro pede a seus ministros que atuem para impedir a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Um deles na sala era Fernando Simas, naquele momento o secretário-geral do Itamaraty. O encontro deveria ter contado com a presença do chanceler Carlos França. Mas o ministro estava em reuniões do G20. No encontro ainda estava presente o embaixador André Chermont de Lima, chefe do cerimonial da presidência.

As imagens causaram   indignação de uma ala dos diplomatas, em especial por conta de o conteúdo daquela reunião não ter sido denunciado por ninguém naquela sala e por Bolsonaro falar abertamente no caso de Chermont para a organização do encontro dele com embaixadores estrangeiros.

Desde a revelação da presença dos embaixadores brasileiros, alguns dos diplomatas passaram a pressionar para que haja um posicionamento claro da instituição. Parte da indignação de diplomatas se refere ao fato de que o embaixador acabou sendo transferido e hoje é o representante do Brasil em Haia, inclusive para os debates e processos no Tribunal Penal Internacional. O outro é, hoje, cônsul-geral em Tóquio.

A tentativa dos diplomatas é de que haja um movimento para que o Itamaraty - um órgão de estado - possa ficar desassociado de práticas golpistas. Não poderia, segundo eles, haver nenhum gesto de possível silenciamento por parte de diplomatas diante de informações que poderiam representar uma ameaça à democracia.


O movimento é ainda para que não haja anistia a nenhum dos envolvidos, ainda que seja por uma possível prevaricação.

Numa nota publicada nesta quarta-feira, a Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros afirmou seu "repúdio a movimentos destinados a subverter a ordem democrática e os princípios do Estado de Direitos".

O grupo ainda está acompanhando a investigação que apuraria "possível utilização de estruturas de estado para o planejamento de atos antidemocráticos, em cumprimento aos precedentes constitucionais e observado o devido processo legal".


Entre os diplomatas, foi iniciado ainda um movimento para reforçar um código de ética para que esse tipo de situação não seja mais aceito dentro da instituição.

O Itamaraty, como instituição, não se pronunciou oficialmente sobre o caso.

Reportagem

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JAMIL CHADE

Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente. 

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2024/02/15/presenca-de-diplomatas-em-reuniao-golpista-abre-mal-estar-no-itamaraty.htm

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