Empresários pressionaram Bolsonaro a dar golpe, disse Cid em áudio

Aguirre Talento
Colunista do UOL
15/02/2024 12h29 

A investigação da Polícia Federal sobre o plano de golpe articulado por Jair Bolsonaro encontrou diálogos nos quais o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, indicou a pressão de empresários para uma "virada de jogo" no resultado das eleições.

De acordo com Cid, os empresários participaram de uma reunião com Bolsonaro em 7 de novembro de 2022 para tratar do tema —na ocasião, Lula já havia vencido o segundo turno das eleições. Dentre eles estavam o fundador da Tecnisa, Meyer Nigri, e o dono da Havan, Luciano Hang.

Na conversa que ele teve depois com os empresários, ele estava, tava o Hang, estava aquele cara da Centauro, estava o Meyer Nigri. É, estava o cara do Coco Bambu também, ele também. Tipo, quem falou, ó... O governo Lula. Vai, vai, vai, vai cair de podre, né? Pessoal ficou um pouco de moral baixo porque os empresários estavam querendo pressionar o presidente a pressionar o MD a fazer um relatório, né, contundente, duro né? Pra virar jogo, aqueles negócios

Mauro Cid, em áudio obtido pela Polícia Federal

O áudio fazia parte de um diálogo entre Cid e o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes. O ex-ajudante de Ordens mantinha o general Freire Gomes informado das articulações golpistas discutidas no Palácio da Alvorada.

Cid não citou essa reunião com os empresários nos depoimentos de sua delação premiada assinada com a PF.

Esses empresários citados já haviam sido alvo de investigação por disseminarem mensagens golpistas em um grupo de WhatsApp antes das eleições.

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De acordo com a PF, o diálogo de Mauro Cid "revelou que os empresários Meyer Nigri e Luciano Hang, investigados (...) pela prática de atos antidemocráticos, com disseminação de notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro, teriam reiterado a prática de condutas ilícitas, instigando o então presidente para que o Ministério da Defesa fizesse um relatório mais duro, contundente com o objetivo de 'virar o jogo'".

Essa reunião ocorreu dias antes de um encontro no qual o ex-assessor Filipe Martins levou um jurista para apresentar a Bolsonaro uma minuta de decreto golpista. De acordo com as informações levantadas pela PF, essa reunião ocorreu em 19 de novembro de 2022. Depois, em 7 de dezembro de 2022, Bolsonaro apresentou aos comandantes das Forças Armadas a minuta do decreto golpista, conforme informações apuradas pela Polícia Federal.

A defesa de Hang afirmou, em nota, que o empresário "jamais sugeriu ou pediu a quem quer que fosse a adoção de medida destinada a atentar contra o ordenamento jurídico e as instituições democráticas". Citou ainda que no dia seguinte às eleições o empresário se manifestou publicamente apoiando o resultado das urnas.

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As defesas dos demais empresários citados ainda não responderam aos contatos da reportagem.

Reportagem

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