Do cerco à Gaza às chacinas policiais, o Estado quer vingança

 


Leonardo Sakamoto 

Colunista do UOL

12/10/2023 

Um bloqueio de alimentos, medicamentos, combustíveis, eletricidade e água foi imposto por Israel enquanto dezenas de milhares de soldados cercavam o território.

Ao longo desta semana, entrevistei também profissionais de saúde em Gaza que apontaram que esse cerco estava levando os hospitais ao colapso. Com isso, segundo eles, crianças chegavam feridas pelos mísseis, mas não podiam ser salvas.

Uma declaração de Israel Katz, ministro da Energia e Infraestrutura de Israel, legitimou a declaração de Barghouti nesta quinta (12). "Ajuda humanitária a Gaza? Nenhum interruptor elétrico será ligado, nenhuma bomba de água será aberta e nenhum caminhão de combustível entrará até que os raptados regressem", postou no X/Twitter.


Ou seja, "punição coletiva" aos 2,3 milhões de habitantes de Gaza pelo que fez o Hamas. 

Achar que a população tem como se mobilizar para entregar reféns ou membros do grupo armado diante dessa pressão é infantil. 

Pelo contrário, isso provoca ainda mais raiva contra o ocupante estrangeiro.

A declaração de Katz, que respondia às Nações Unidas diante do alerta para que Israel não atropelasse a Convenção de Genebra, reforçou outra anterior do seu colega Yoav Gallant, ministro da Defesa, que ordenou o cerco a Gaza.

 "Estamos impondo um cerco total à Gaza. Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás, tudo bloqueado", disse.

"Estamos lutando contra animais e agimos em conformidade", completou. 

Essa frase foi assimilada por discursos radicais ao redor do mundo. 

No Brasil, o X/Twitter circulou postagens em que brasileiros de extrema direita pediam a Israel "exterminar os animais de Gaza". Lançando bombas atômicas, se possível.


A ação estatal de tratar um território inteiro como inimigo por conta de um punhado de pessoas e o comportamento de extremistas que pedem cerco e extermínio de uma comunidade também ocorrem aqui - com ressalvas às naturezas, às proporções e ao contexto.

Governos estaduais executam civis em comunidades pobres de São Paulo e do Rio, por exemplo, como vingança à morte de policiais, enquanto uma parte da população bate palmas e pede mais. Nas redes, alguns cidadão de bem se referiam às pessoas das comunidades pobres no Guarujá como "animais".

Sabe-se que esse tipo de ação estatal não vai resolver o problema da segurança pública, que passa por políticas estruturais para garantir dignidade no território e de inteligência, para prevenir e evitar ataques. 

Mas a incompetência, a conivência e a agenda própria dos grupos no poder, aqui como lá, afastam isso.

O que nos lembra que a vida tem valor diferente dependendo de onde ela floresça

É inaceitável a morte de civis israelenses tal como é inaceitável a morte de civis palestinos

Mas há um discurso martelado insistentemente que ignora que o segundo grupo também é vítima de extremistas que operam em seu território e de um governo estrangeiro que os trata como "animais". 

E, metonimicamente, acha que a Palestina é Hamas.

Ou que o Jacarezinho é o Comando Vermelho.


Toda morte merece ser igualmente pranteada e não é possível, nem recomendável fazer um "placar da dor".

Mas, daqui a alguns meses, quando a temperatura esfriar, a contagem de corpos estará muitas vezes maior do lado palestino do que do israelense. 

Barghouti me disse que, infelizmente, só após a invasão israelense produzir milhares de mortos que o mundo vai "perceber" que lá tinha gente.

Por aqui, não tenho a mesma esperança quanto ao que ocorre nas favelas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2023/10/12/do-cerco-a-gaza-as-chacinas-policiais-no-brasil-o-estado-quer-vinganca.htm. 


Exército de Israel ataca equipe de imprensa no Líbano e mata jornalista da Reurtes

Após o ataque em uma base libanesa, o país oficializou que Israel é o seu inimigo

(Foto: Reprodução/X)

247 - O exército de Israel teve como alvo um grupo de jornalistas, incluindo a equipa da AlJazeera, e outras agências, incluindo a Reuters, durante o ataque em um base no sul do Líbano. O jornalista da Reuters Issam Alabdallah é declarado morto.

Após o ataque em uma base libanesa, o país oficializou que Israel é o seu inimigo. 

ONE JOURNALIST DEAD AFTER ISRAEL ATTACK

Journalists from Al Jazeera and Reuters were involved in #IsraelFightsTerror attack at Israel/Lebanon border. One journalist has passed away and three others are injured.

[Qatar,Quran,Saudi,Macdonald,Day of rage, Jason,Norway, Elon,Diane] pic.twitter.com/cikrv6WYNH 

🌎🏞️ YOBBY THE FIRST (@Obayobrian1) October 13, 2023 

https://www.brasil247.com/mundo/exercito-de-israel-ataca-equipe-de-imprensa-no-libano-e-mata-jornalista-da-reurtes

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