Silêncio de Bolsonaro e Michelle era esperado. E dias piores virão ao casal
Politicamente, no entanto, o ex-presidente perdeu cacife eleitoral e credibilidade.
Idem para a esposa, já cogitada como futura candidata à presidência de República, em face da inelegibilidade do consorte.
O inquérito policial mencionado versa sobre a apropriação indevida de joias — incluídos relógios pertencentes ao patrimônio do Estado nacional —, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.
O casal Bolsonaro ficou numa espécie de "escolha de Sofia". Poderiam exercitar a garantia constitucional ao silêncio ou enfrentar perguntas embaraçosas e do tipo "xeque-mate".
Nessa segunda hipótese, correriam o risco de ter de recorrer ao silêncio pontual, em face de embaraços. Aí, e na base do respondo só o que me interessa, o comum mortal, politicamente, concluiria pela admissão de culpa.
Para Bolsonaro e Michelle, o clima policial-judicial estava pesado. Policial porque compete à autoridade policial a condução. Judicial pela razão de tramitar no STF (Supremo Tribunal Federal), com o ministro Alexandre de Moraes na supervisão.
Parêntese: o inquérito das joias, por força de conexão probatória, está anexado ao das milícias judiciais, com trâmite no STF.
Com orientação técnica dos advogados, o casal Bolsonaro achou melhor optar pelo pleno silêncio. Efetivamente, era o melhor dos caminhos, para um casal criminalmente encrencado e em fase aguda de desmascaramentos.
Sem possuir esfera de cristal, mas com base na experiência profissional de antigo magistrado, este colunista adiantou durante o UOL News a dupla via que se apresentava ao casal Bolsonaro: o silêncio total ou o risco de desmoralização pelo silêncio parcial.
O clima reinante recomentava ao casal manter-se de boca fechada, apesar das informações de ter Bolsonaro feito "media training" para enfrentar o interrogatório policial.
O medo da desmoralização falou mais alto.
Sobre Mauro Cid e Wassef
A propósito das chuvas e trovoadas. Ex-ajudante de "desordens" presidenciais, o tenente-coronel Mauro Cid virou para Bolsonaro e Michelle uma bomba relógio, com explosões estudadas e programadas.
Seu novo advogado mostrou a Mauro Cid como ele caminhava, sozinho e a passos largos, na direção do precipício, tudo para fazer o jogo interesseiro de Bolsonaro.
No momento, tudo indica, na fase processual em aproximação, para defesas técnicas conflitantes entre Cid e Bolsonaro.
Por outro lado, o anteriormente tratado como "anjo da guarda" Frederick Wassef tornou-se inconfiável. No chamado momento oportuno, aponta o círculo mágico do bolsonarismo, o advogado Wassef, copartícipe da trama das joias, não deverá assumir a culpa sozinho.
Seu ato escoteiro de recompra de um valioso relógio não será confirmado na fase processual criminal. Talvez, nem na policial.
No mais, existe a tempestade de precipitação iminente por parte do pai do ajudante de "desordens": general da reserva do Exército Mauro Lourena Cid.
O general sabe que Bolsonaro não assimilou a ética militar de, numa guerra, não se deixar soldado ferido pelo caminho. Não bastasse, o general já sabe ter sido "laranja" do capitão Bolsonaro.
A tornar o clima mais rigoroso, a polícia judiciária federal preparou um procedimento inusual, mas legal. Ou seja, ouvir todos os suspeitos de envolvimento num mesmo momento temporal, separados e inquiridos os oito suspeitos por delegados diversos. E todos os inquisidores municiados, em tempo real, por informações sobre as versões e fatos declarados.
Pano rápido, não surpreendeu o silêncio do casal Bolsonaro. E pela meteorologia policial, dias piores virão ao casal Jair e Michelle.
Opinião
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Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
https://noticias.uol.com.br/colunas/walter-maierovitch/2023/08/31/silencioera-a-melhor-opcao-para-casal-bolsonaro-criminalmente-encrencado.htm