Discurso do ódio foi à escola e o Brasil não viu
Josias de Souza -
Pesquisa do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp acende uma luz vermelha no painel da política educacional brasileira.
Nos últimos 21 anos, pelo menos 23 escolas sofreram ataques de alunos e ex-alunos.
Desse total, sete ataques aconteceram no segundo semestre do ano passado.
Dois ocorreram neste ano.
Quer dizer: nove dos 23 ataques registrados em duas décadas —ou 39% do total—aconteceram nos últimos nove meses.
O fenômeno merece muito estudo.
É possível intuir de saída que o discurso do ódio foi à escola.
E o Brasil, distraído com a polarização política, nem percebeu.
Os ataques produziram nas escolas 36 cadáveres —24 são de estudantes, cinco de professoras, dois de funcionários das escolas e cinco de autores dos atentados.
Do total de mortos, seis desceram à cova no ano passado.
Dois neste ano, incluindo a professora Elisabeth Tenreiro, morta a facadas nesta segunda-feira por um aluno de 13 anos na escola Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo.
Uma das responsáveis pela pesquisa feita na Unicamp, a professora Telma Vinha, que coordena um grupo sobre Ética, diversidade e democracia na escola pública, enxerga na proliferação dos ataques a escolas uma "situação de emergência gravíssima, de alta complexidade".
Ela disse ao Globo que o perfil de alunos e ex-alunos que atacam escolas exibe perfis machistas e misóginos.
Restringem seus relacionamentos.
Encontram acolhida em comunidades mórbidas das redes sociais.
Qualquer semelhança com a difusão do discurso do nas redes antissociais voltadas à política não há de ser mera coincidência.
A ultrapolarização desuniu famílias, separou amigos, envenenou ambientes de trabalho e de lazer. Seria ingenuidade supor que a raiva não contaminaria as escolas.
No fundo, o propósito da educação é transformar cérebros vazios em mentes abertas.
Fica mais difícil construir um cidadão num menino quando os adultos precisam ser consertados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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