Lula fez o que tinha que ser feito: cortou o mal do golpismo pela raiz

 

Balaio do Kotscho - 

General Sergio Etchegoyen, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI): a sombra do passado - Marco Antonio Teixeira/UOL
General Sergio Etchegoyen, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI): a sombra do passado Imagem: Marco Antonio Teixeira/UOL
só para assinantes


Atualizado às 15h30: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acaba de demitir sumariamente o comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, e no mesmo ato nomeou para o seu lugar o comandante militar do Sudeste, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva.

Lula resolveu cortar o mal pela raiz, após vários episódios de insubordinação, omissão e conivência de Arruda com os atos terroristas de 8 de janeiro. 

Fez o que tinha que ser feito para restabelecer a disciplina e a ordem nas Forças Armadas.

Primeiro, o general demitido permitiu que os sediciosos continuassem acampados em frente ao Quartel Geral do Exército, em Brasília, mesmo depois dos ataques terroristas, desobedecendo às ordens do Ministro da Justiça, Flávio Dino, e do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, que mandaram a Polícia MIlitar do DF prender todos eles na mesma noite.

Por ordem de Arruda, a Polícia do Exército formou fileiras em volta do acampamento, impedindo a ação dos policiais, e blindados foram mandados para as ruas para proteger os golpistas.

Na linha oposta ao bolsonarismo do agora ex-comandante, o general Paiva fez um discurso esta semana em defesa do respeito ao resultado das urnas e do caráter apolítico e apartidário do Exército.

Agora, Lula poderá começar a governar em paz, sem medo de levar um tiro pelas costas (ver noticiário completo aqui no UOL).

Após o golpe fracassado

Bem que eu gostaria de mudar de assunto, mas não está fácil. Tinha prometido a mim mesmo nem escrever mais o nome do indigitado ex-presidente foragido e não falar mais dele.

Já se passaram duas semanas da fracassada tentativa de golpe de Estado e, no entanto, o noticiário todo continua dominado pelas suas consequências trágicas para a vida do país. Ele conseguiu o que queria: tumultuar a vida do país e manter um clima de instabilidade institucional.

Só se fala em novas prisões, operações policiais para caçar terroristas que fogem pela janela, traições nos órgãos de segurança e inteligência, reuniões com militares, desbolsonarização das Forças Armadas. O filme de terror deixado de herança ainda não terminou.

A cada dia aparece uma nova armadilha, outras denúncias de "caixa dois" com cartão corporativo, roubos praticados durante o motim, estragos na residência oficial do presidente que ainda mora em hotel. É um cenário de pós-guerra num conflito entre civis e militares, democratas e golpistas, que ainda está longe de acabar.

Militares ocupam todas as manchetes e colunas em "off", programas de debates e entrevistas. Sobra muito pouco para falar do governo de reconstrução nacional, que precisa apagar incêndios a toda hora e cobrir rombos deixados de herança pelo ex-presidente que declarou guerra ao próprio país.

Ainda hoje, o presidente Lula teve que viajar para Roraima e levar pessoalmente tropas do Exército para acudir povos indígenas abandonados pelo governo anterior, que teima reaparecer como fantasma.

Parece até que quem ganhou a eleição, perdeu; e quem perdeu, ganhou, pois continua ditando a agenda para impedir o governo de governar e começar a reconstruir o país.

Lá do seu auto-exílio em Orlando, na terra do Mickey, onde até já montou seu cercadinho, informa-se que o dito cujo pede mais dinheiro ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para esticar as férias, sabe Deus até quando, enquanto por aqui a Justiça e a Polícia Federal fecham o cerco aos seus comparsas e devotos da seita.

Se eu tenho dificuldade para mudar de assunto, posso imaginar a aflição do presidente Lula para virar a página e dar início a um novo tempo, estabelecendo uma nova pauta sobre as urgências da vida real dos brasileiros.

Mas como fazer isso, se a cada passo que dá, tropeça em escombros da administração pública e na triste realidade das contas do governo detonadas no apagar das luzes da antiga gestão.

***

20 ações em 20 dias

A volta à normalidade ainda vai demorar, mas agora, apesar de tudo, já dá para dizer que temos novamente um governo.

No balanço dos primeiros 20 dias, divulgado hoje, foram listadas 20 ações em todas as áreas da vida nacional. Entre elas, destacam-se:

* Programa de transferência de renda de R$ 600

* Garantia de repasses de R$ 2 bilhões para Santas Casas e hospitais

* Aumento do piso salarial dos professores.

* 6,4 milhões de doses de vacinas contra a covid para as crianças

* Retomada do Fundo Amazônia

* Primeiras ações para fim dos sigilos de 100 anos

* Sanção da lei que equipara injúria racional ao crime de racismo

* Criação da Comissão de Prevenção e Controle do Desmatamento

* Revogação da norma que permitia exploração de madeira em terra indígena

* Reestruturação da Política de Controle de Armas

***

Forças Armadas pedem mais R$ 6 bi

Na primeira reunião dos comandantes militares com o presidente Lula após a tentativa de golpe de 8 de janeiro, os três comandantes das Forças Armadas reivindicaram R$ 6,3 bilhões em investimentos extras do governo federal, sem previsão no orçamento deste ano.

Para o projeto de submarino nuclear, a Marinha pediu mais R$ 2,1 bilhão; a Aeronáutica demanda mais R$ 2,5 bilhões para a compra de aeronaves e o Exército calcula em R$ 1,7 bilhão para a compra de blindados, entre outros armamentos.

Tudo isso, para lutar contra quem? Será para proteger as fronteiras da Amazônia invadidas por organizações criminosas de todo tipo no governo anterior? Sem entrar no mérito das necessidades das Forças Armadas, é o caso de se discutir seriamente, antes de mais nada, a relação custo/benefício dos militares para o país e a reestruturação das carreiras e das escolas militares.

Segundo o ministro da Defesa, José Múcio, não se falou sobre as investigações que apuram o envolvimento de militares nos atos terroristas. Até o momento, só há informações sobre um coronel que foi punido.

***

Quem é covarde

Não deixem de ler a coluna "O general Etchegoyen e a covardia", de Cristina Serra, na Folha, em resposta a declarações dadas esta semana pelo oficial da reserva, que já foi chefe do GSI no governo Temer. Etchegoyen chamou o presidente Lula de "covarde", por criticar setores militares que não podem lhe responder "por respeito à disciplina e à hierarquia", tão desrespeitadas nos últimos anos bolsonaristas. Por isso, corajosamente, só falam em "off" a jornalistas amigos.

Termina assim:

"Covardia, senhor Etchegoyen, foi o que aconteceu na Casa da Morte, em Petrópolis (um centro de torturas na ditadura). Covardia, senhor Etchegoyen, foi deixar faltar oxigênio nas enfermarias de Manaus e estimular a imunidade de rebanho durante a pandemia. Covardia é valer-se dos instrumentos da democracia para apregoar o golpe contra a República. Covardes!"

Disse tudo, minha cara e corajosa colega, que honra a nossa profissão.

Vida que segue. 

https://noticias.uol.com.br/colunas/balaio-do-kotscho/2023/01/21/o-cabeca-da-sedicao-esta-foragido-mas-por-aqui-so-se-fala-dele-e-de-golpe.htm

Postagens mais visitadas deste blog