Roberto Jefferson foi preso em flagrante por tentativa de homicídio, diz PF

Do UOL, em São Paulo

23/10/2022 21h18


A PF (Polícia Federal) divulgou uma nota na noite de hoje informando que o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) foi preso em flagrante por tentativa de homicídio, após ter atirado contra agentes nesta manhã.

Segundo a corporação, "a prisão foi cumprida após intensa negociação entre a Polícia Federal e o investigado, que ofereceu resistência inicial ao cumprimento da decisão judicial com o uso de arma de fogo e explosivos".

O ex-deputado, que estava em regime de prisão domiciliar, reagiu à abordagem de policiais que cumpriam uma decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes de prendê-lo em sua casa, em Comendador Levy Gasparian, a cerca de 140 km do Rio. Segundo a PF, dois policiais federais ficaram feridos por estilhaços de granada lançada por Jefferson — a assessoria dele diz que Jefferson jogou uma bomba de efeito moral.

O ex-parlamentar só se entregou por volta das 19h, quando deixou sua casa em uma viatura preta, escoltada por outras duas, sendo uma caracterizada da Polícia Federal.

"Além da prisão judicial, o investigado também foi preso em flagrante sob a acusação, inicial, de tentativa de homicídio, sem prejuízo de eventuais outros crimes cometidos durante a ação", informou a PF, em nota.

Mesmo depois da saída de Jefferson, policiais federais continuaram na casa do ex-deputado. Segundo a corporação, o local passa por perícia.

Por que Jefferson foi preso? A ordem de prisão aponta o descumprimento de medidas cautelares por parte de Jefferson. No despacho, Moraes pediu prisão, busca e apreensão e proibiu entrevistas.

A decisão ocorreu depois de Jefferson xingar a ministra Cármen Lúcia, do STF, e a comparar com "prostitutas", "vagabundas" e "arrombadas" em uma publicação na internet. Ele estava proibido de usar as redes sociais, justamente por outra ordem de Moraes.

A gravação foi publicada no perfil da filha de Jefferson, a ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB), que teve a conta suspensa hoje.

Uma das medidas que ele deveria cumprir no período da prisão domiciliar é não publicar nas redes sociais.

Hoje, o ex-deputado gravou vídeos em que confirma ter reagido à prisão contra agentes da PF, em sua casa, e chegou a dizer que não iria se entregar.

"Chega de opressão, eles já me humilharam muito, a minha família. Mas eu não estou atirando em cima deles. Eu dei perto, eu não atirei neles. Eu não atirei em ninguém para pegar. Atirei no carro e perto deles. Eram quatro, eles correram, e eu falei: 'sai porque eu vou pegar vocês'. Isso que vocês têm que saber. Eles vão vir forte e eu não vou me entregar. Chega. É muita humilhação", disse ele em um dos vídeos.

Além dos vídeos, Roberto Jefferson divulgou uma nota. No texto, disse que a prisão domiciliar ocorreu por "decisão ilegal" e que "a injustiça todos os dias se renova sobre minha vida e da nossa família".

Veja abaixo a nota na íntegra divulgada pela PF:

A Polícia Federal informa que concluiu na noite deste domingo (23/10) o cumprimento de decisão judicial expedida pelo Supremo Tribunal Federal, no município de Levy Gasparian, no estado do Rio de Janeiro.

A prisão foi cumprida após intensa negociação entre a Polícia Federal e o investigado, que ofereceu resistência inicial ao cumprimento da decisão judicial com o uso de arma de fogo e explosivos.

Durante a diligência, dois policiais federais ficaram feridos por estilhaços de granada lançada pelo alvo. Eles foram prontamente atendidos, tiveram ferimentos leves e seguem sendo acompanhados pela PF.

Além da prisão judicial, o investigado também foi preso em flagrante sob a acusação, inicial, de tentativa de homicídio, sem prejuízo de eventuais outros crimes cometidos durante a ação.

A perícia técnica criminal foi acionada e o local de crime já está sendo periciado, inclusive a residência do alvo. O preso foi conduzido à Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro para lavratura do auto de prisão em flagrante e demais formalidades decorrentes do cumprimento da ordem judicial.

A Polícia Federal reafirma que agiu com toda a técnica e protocolos exigidos para a resolução de crises, culminando com a rendição do preso. 

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/10/23/roberto-jefferson-foi-preso-em-flagrante-por-tentativa-de-homicidio-diz-pf.htm 

Leonardo Sakamoto - Ao atirar na PF, Jefferson pode afastar votos de seu aliado Bolsonaro


Aliado de Jair Bolsonaro e um de seus principais jagunços nas redes sociais, Roberto Jefferson atirou na Polícia Federal, neste domingo (23), ferindo dois agentes. Logo em seguida, o presidente tentou se desvencilhar do ex-deputado, que assumiu parte do serviço sujo de sua campanha na eleição. O problema é que, agora, o capataz pode ter afastado votos da parcela de indecisos que não acredita que os problemas devam ser resolvidos à bala, como defende o capitão.

A polícia foi até à sua casa, em Levy Gasparian (RJ), para cumprir um mandado de prisão do STF. Nesta sexta, ele havia gravado um vídeo atacando a ministra Cármen Lúcia, chamando-a de "prostituta arrombada", entre outras aberrações, por ela ter votado a favor de um direito de resposta para Lula. Como ele cumpre prisão domiciliar, estava impossibilitado de usar redes sociais.


Tão logo surgiu a notícia de que Jefferson havia atirado contra uma equipe da PF, o presidente da República, de forma oportunista, criticou as agressões de Jefferson à Cármen Lúcia (ele poderia ter feito isso na sexta ou no sábado, mas não fez) e, de forma preventiva, repudiou o ataque do aliado à Polícia Federal.


"Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a Ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP", tuitou. Claro, não deixou de jogar ração para o seu rebanho extremista, criticando os inquéritos no STF que levaram à prisão de Roberto Jefferson.


A rapidez com que Bolsonaro postou o seu repúdio é diretamente proporcional à preocupação de seu comitê de campanha com os possíveis impactos do caso. Afinal, Jefferson é um de seus principais aliados e, dado os discursos do presidente incitando a população a pegar em armas para defender aquilo que ele acredita, o ex-deputado poderia muito bem alegar que estava apenas colocando em prática o que aprendeu com o "mito".


No dia 29 de julho, por exemplo, Bolsonaro afirmou que armas de fogo podem garantir ao cidadão sua "liberdade no futuro". No vídeo que postou nas redes neste domingo, Jefferson encenou um teatrinho dizendo que estava defendendo a liberdade. Pediu para que o ato dele inspire outros, ou seja, insurreição.


Jefferson assumiu o serviço sujo bolsonarista contra o STF na campanha

Ao invés de se coligar com o PL, o PP e o Republicanos, partidos que lançaram Bolsonaro à reeleição, o PTB preferiu ir com candidatura própria. E, no dia 1º de agosto, oficializou Roberto Jefferson ao Palácio do Planalto. Presente no evento, o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), afirmou que a candidatura seria para ajudar Bolsonaro.


"Quando as pessoas compreenderem o que o Roberto está buscando fazer em apoio ao presidente, para que ele possa expor aquilo que Bolsonaro não pode sem ser perseguido... O Roberto já está preso, o que mais tem para fazer? Colocar uma guilhotina de cabeça para baixo, pendurada? Não tem mais o que o Alexandre [de Moraes] fazer contra ele. O que ele vai fazer é um serviço à sociedade, entregando a verdade contra alguns ministros da Suprema Corte", disse.


Agora, como seu último ato antes do segundo turno, ele tenta matar policiais federais apresentando-se como mártir. Diz que luta contra a censura, mas, na verdade, a sua batalha é pelo direito de propagar fake news e ignorar a lei.


Resta saber o que os eleitores indecisos mais ao centro vão pensar: concordarão que um dos principais aliados de Bolsonaro pode sair na bala com policiais federais, mandando dois deles para o hospital, pois ficou insatisfeito com uma decisão da Justiça? Ou vão entender que o Brasil como quer Jefferson não tem como dar certo?


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL 

https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2022/10/23/aliado-de-bolsonaro-jefferson-atira-na-pf-e-faz-servico-sujo-na-eleicao.htm

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