Bolsonaro tem razão ao afirmar que sua conversa com Biden foi 'excepcional'

 


Josias de Souza

Colunista do UOL

11/06/2022 12h30

"Foi excepcional, muito melhor do que eu esperava", disse Bolsonaro, na quinta-feira, ao comentar a conversa que acabara de manter com Joe Biden.

 "A experiência foi fantástica, estou maravilhado...", declarou na sexta, ao discursar na Cúpula das Américas.

Bolsonaro tem razão.

 O encontro bilateral foi mesmo excepcional, um acontecimento fantástico. 

Serviu para realçar a beleza da democracia. 

Nesse modelo de organização política, o golpismo e a precariedade, quando avalizados pelas urnas, são obrigados a tolerar um ao outro.

Às vésperas de sua viagem para os Estados Unidos, o capitão havia declarado que continuava com o "pé atrás" em relação à derrota de Donald Trump.

 Insinuara que Biden só prevaleceu porque "teve gente que votou mais de uma vez".

 Tudo isso para entoar sua cantilena: "A gente não quer que aconteça isso no Brasil".

Depois de se avistar com Biden, "numa distância inferior a um metro e sem máscara", Bolsonaro viu-se compelido a constatar que a terra é redonda e "mudou o governo" nos Estados Unidos.

 "Respeitamos, logicamente, e acredito que teremos brevemente mais encontros." Será?

A má notícia é que o encanamento de Bolsonaro com a precariedade de Biden não reduziu a intensidade do seu golpismo. 

O desejo de convulsionar o processo eleitoral brasileiro continua 100% ativado.

A péssima notícia é que um pedaço das Forças Armadas e o centrão continuam batendo palmas para o maluco sapatear sobre as urnas eletrônicas que o elegeram.

O ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira, cutucou o TSE com novo ofício desconexo

O PL de Valdemar Costa Neto emitiu sinais de que se equipa para avacalhar o processo em caso de derrota. 

E Bolsonaro passeia de motocicleta às custas do contribuinte na terra do camundongo Mickey.

A ótima notícia é seguinte: se o encontro de Bolsonaro com Biden serviu para alguma coisa foi para demonstrar que continua atual a tirada de Churchill, sobre a democracia ser o pior regime imaginável com exceção de todos os outros.

Ainda não foi criada nenhuma fórmula melhor para assegurar às pessoas ampla e irrestrita liberdade para exercitar a sua capacidade de fazer besteiras por conta própria. 

Bolsonaro pode dificultar o processo eleitoral, mas não irá impedir que a vontade do eleitorado brasileiro se cumpra.

Mesmo o eleitor que se sente condenado a optar entre o inimaginável e o impensável precisa renovar o equívoco de quatro em quatro anos. 

Nesse moto-contínuo, a melhor hora para escolher um bom presidente é quatro anos atrás. 

A segunda melhor hora é agora.

A passagem de Bolsonaro pela Cúpula das Américas coincidiu com o início da investigação parlamentar sobre a invasão do Capitólio por golpistas insuflados por Donald Trump.

O capitão não ficou alheio ao que se passava ao redor.

 Recebeu de sua assessoria um resumo das notícias, incluindo material traduzido da imprensa americana.

O "respeito" de Bolsonaro pela vontade do povo americano é retórico e chega tarde. 

Mas é alvissareiro mesmo assim, pois revela que a realidade acaba se sobrepondo ao delírio

Quanto ao desejo de obter "mais encontros", isso dependerá da vontade do eleitorado brasileiro.

Ser for reeleito, Bolsonaro pode reivindicar uma nova conversa "excepcional" com Joe Biden. 

Se for derrotado, descobrirá que certos políticos não merecem diálogo, mas interrogatório

https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2022/06/11/bolsonaro-tem-razao-ao-afirmar-que-sua-conversa-com-biden-foi-excepcional.htm

Postagens mais visitadas deste blog