Bolsonarismo semeou armas no país para colher violência se perder eleições... -



Leonardo Sakamoto

Colunista do UOL

30/04/2022 09h19

Ministros do STF e do TSE vieram a público, nesta sexta (29), para se contrapor ao golpismo assanhado do presidente Jair Bolsonaro, que escalou seus ataques às urnas eletrônicas. Alexandre de Moraes, que chefiará a Justiça Eleitoral em outubro, garantiu que quem ganhar vai assumir, "não importa quem". Ou seja, se Lula vencer, governa. 

A questão é que não é necessário um golpe eleitoral ser consumado para termos mortes de brasileiros. A mera tentativa já causaria uma onda de pancadaria e tiroteios. Se a eleição de 2018 já teve seus assassinados e agredidos como resultado de brigas entre eleitores, imagine o que incitará um governo que não quer largar o osso após ter passado os últimos três anos gastando mais tempo combatendo o sistema eleitoral do que a fome e a inflação?. 

Os artífices e participantes, convocados via Telegram e WhatsApp, não chamariam isso de golpe, claro, mas de "levantes populares contra a fraude e em nome da legalidade e da liberdade".

Basta um líder político que, insatisfeito com o resultado das urnas, invente que os tribunais superiores estão mancomunados com seu principal adversário e organize protestos massivos, convocando seus seguidores fanáticos às ruas, muitos dos quais armados até os dentes devido aos decretos que o tal líder emitiu liberando pistolas, rifles e munição, para que tenhamos um rebosteio de magnitude superior àquele de 6 de janeiro de 2021, quando Donald Trump provocou a invasão do Congresso dos Estados Unidos. Reportagem do UOL, deste sábado (30), mostra crescimento espantoso do arsenal privado no país..

Um "Capitólio brasileiro" seria mais violento até porque o Exército do Tio Sam não entrou na brincadeira. Pelo contrário, nos EUA, os militares avisaram que haveria transição pacífica de poder. Enquanto isso, no Brasil, há generais que celebram a guerra deflagrada com a Suprema Corte e fazem ameaças veladas sobre Lula..

E a aderência do bolsonarismo entre soldados, cabos, sargentos e subtenentes nos quarteis das polícias militares é significativa em todo o país, mais até do que nas Forças Armadas...

Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em setembro de 2021, aponta que 51% dos soldados, cabos, sargentos e subtenentes que estão nas redes sociais são bolsonaristas - em 2020, eram 41%. Desses, 30% interagem com conteúdos radicais, como pautas antidemocráticas e de ataque a instituições, como o STF e o Congresso Nacional, contra 25% no ano anterior.

Imaginem o que pode acontecer se Bolsonaro, um presidente com grande influência sobre tropas policiais, resolver afirmar, após uma derrota, que a eleição foi roubada? Não por conta das mentiras sobre fraudes nas urnas, mas pelo seu medo de ser preso por conta das falcatruas que fez no mandato e pela necessidade de gerar um fato que o ajude a manter a influência sobre os seus seguidores....

Quem as Forças Armadas iriam obedecer diante do caos? O Planalto? O Congresso? O STF? Ficariam em silêncio?...

O bolsonarismo tem um componente revolucionário. Mas ele não conta, neste momento, com força para adotar uma mudança através de um processo violento e agudo. Não à toa, ameaça um golpe através da desobediência das ordens judiciais - e, para tanto, ataca o STF.. 

A possibilidade de sucesso de um golpe eleitoral em caso de derrota também é bem pequena, mas isso não deveria produzir segurança junto às instituições uma vez que a tentativa de produzir o caos será o bastante para uma tragédia.... 

Uma parte da sociedade acredita no potencial revolucionário de declarações de repúdio da mesma forma que há outro que crê na indignação das bolhas de Twitter como o coração da transformação social. Jair Bolsonaro deve achar graça no fato que, enquanto ele bombardeia a democracia, há reclamações que precisam de um dicionário para serem integralmente compreendidas..

Se as instituições não emparedarem o comportamento criminoso de Bolsonaro agora, através de decisões judiciais que mostrem que ele não está acima da lei e deixando claro que seu apoio no Congresso Nacional depende dele voltar a agir "dentro das quatro linhas", no final do ano as declarações não serão de repúdio, mas de lamento..

https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2022/04/30/bolsonarismo-semeou-armas-no-pais-para-colher-violencia-se-perder-eleicoes.htm

Postagens mais visitadas deste blog