Jair Bolsonaro contra o tempo

 Diego Escosteguy

Publicada em 03/02/2022 às 06:00 

A volta dos trabalhos em Brasília expôs os chefes do centrão à realidade política que se impõe nos estados: não há como assegurar palanque a Bolsonaro nas regiões em que ele é rejeitado - nem romper acordos firmados antes da filiação do presidente do PL. 

Falta tempo para que o governo e esses líderes possam reverter esse quadro. 

A retomada do ano legislativo deu sentido de urgência a um problema que já estava claro desde o final de 2021.

Parlamentares da legenda de Valdemar Costa Neto e do PP, que compõem a aliança necessária para Bolsonaro ampliar sua base eleitoral, insistem que a prioridade deles é competir por votos - para eles e para seus aliados locais. 

Querem dinheiro para um pleito que promete ser disputado. 

(A maioria dos partidos estão se posicionando regionalmente para formar grandes bancadas na Câmara, algo essencial ao crescimento das legendas e ao acesso a mais grana do fundo partidário.)

Em lugares onde Bolsonaro não tem força, sobretudo no Nordeste, o sacrifício pedido aos parlamentares pelos chefes de PL e PP não faz sentido. 

Alguns até topam, ou fingem topar, não dar palanque a Lula

Mas alertaram que oferecerão, no máximo, neutralidade.

O tom das conversas entre os deputados dos dois partidos e os líderes é tenso. 

Os chefes precisam equilibrar os compromissos com o presidente e as demandas dos parlamentares. 

Entre os que não apoiavam nem apoiam Bolsonaro, prevalece a insatisfação.

 Dependem de dinheiro para fazer campanha.

 Querem que Valdemar, no caso do PL, e Ciro, no caso do PP, cumpram os acordos já firmados de liberação de grana do fundão.

Os chefes partidários que apoiam Bolsonaro pedem paciência e mais tempo - até o começo de abril. 

Seria o período necessário para o presidente reagir nas pesquisas e para os próprios parlamentares descontentes perceberem, na ponta, a melhora da avaliação de Bolsonaro. 

Apostam na retomada do Auxílio-Brasil e em mais investimentos do governo federal em obras.

Valdemar, Ciro Nogueira e Arthur Lira sabem que não conseguirão segurar seus aliados partidários por muito tempo. 

A competição com outras legendas é intensa e, no caso de estados do Norte e Nordeste, a força de Lula amassa compromissos formais com o presidente.

Os articuladores do Planalto, por sua vez, aumentaram a pressão no trio do centrão.

 Exigem que eles segurem as bancadas e ampliem os palanques no Nordeste.

Os deputados rebelam-se porque, em parte dos casos, têm opções.

 Podem trocar de partido para concorrer em condições mais vantajosas.

 Republicanos e PSD, por exemplo, assediam constantemente os descontentes.

As próximas semanas serão decisivas para a candidatura à reeleição do presidente. 

O Planalto e os chefes de PP e PL precisam manter a aparência de união. 

Caso contrário, a aliança eleitoral de Bolsonaro com o centrão será um fiasco antecipado pelas necessidades políticas das lideranças regionais.

https://obastidor.com.br/politica/jair-bolsonaro-contra-o-tempo-2599


Postagens mais visitadas deste blog