Cientista brasileiro explica carta à OMS sobre risco de transmissão pelo ar

Único brasileiro entre os 239 cientistas que assinaram carta aberta à Organização Mundial da Saúde (OMS) pedindo orientações sobre o risco de transmissão da Covid-19 pelo ar, o professor Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, falou à CNN, nesta quinta-feira (9).
Da CNN
09 de julho de 2020 às 11:23
Saldiva explicou que o conhecimento de pequenas partículas na atmosfera se tornou mais abrangente por conta de estudos sobre poluição do ar, que mostraram que esses materiais – cerca 80 vezes menores que a espessura de um fio de cabelo – podem ficar em suspensão no ar durante horas, se não houver dispersão por ação do vento, por exemplo.
"Nelas estão as partículas exaladas por pessoas durante tosses e espirros. Como o vírus é muito pequeno, mesmo nessas partículas você consegue isolar o vírus viável", disse. "Já existem evidências não só para o novo coronavírus, mas também para a Influenza, então o que aconteceu foi que queríamos alertar as pessoas", acrescentou.
Diante do que classificou como "evidências fortes", o pesquisador citou a importância do uso correto e frequente da máscara, em conjunto com as medidas de distanciamento. 
"Se você entra em um elevador e não tem ninguém, você talvez tire a máscara, mas pode ser que estivesse ali alguém que tossiu ou espirrou", exemplificou. "Então, no momento em que o comércio é aberto, as pessoas não podem descuidar da máscara, porque essa distância de 1,5 metro vale para micro-organismos grandes. No caso de um vírus, as partículas podem andar até dez a 12 metros, então temos que ficar cientes", alertou.
Saldiva ainda afirmou que manter portas e janelas abertas – na medida do possível – reduz drasticamente o risco de infecção e frisou o uso do equipamento de proteção facial. "Como a gente vai ser obrigado a ficar junto, é importante que não descuide da proteção, e isso deveria ser enfatizado nas normas de prevenção – o que não estava até aquele momento", concluiu.
O professor informou que o risco de contaminação em ambientes abertos – como parques, por exemplo – ainda está sendo medido, mas que, mesmo nesses locais, a orientação é pelo uso de máscara. "Em espaço aberto, as partículas são transportadas pelo vento, reduzindo o risco. Essa dúvida ainda existe, mas teoricamente tem que usar", finalizou.
Resposta da OMS
Na terça-feira (7), a OMS reconheceu "evidências emergentes" de transmissão pelo ar do novo coronavírus, depois que o grupo de cientistas cobrou do organismo global a atualização de suas orientações sobre como a doença respiratória se espalha.
Em uma entrevista em Genebra, a especialista da OMS Benedetta Allegranzi disse que a organização acredita que a transmissão aérea "é uma possibilidade entre os modos de transmissão" do novo vírus.
Uso correto da máscara
Mulher caminha de máscara em rua de Nova York

Mulher caminha de máscara em rua de Nova York

Foto: Brendan McDermid - 28.fev.2020/ Reuters
O coordenador executivo do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, João Gabbardo, afirmou que a máscara tem um papel fundamental em conter a disseminação da Covid-19. Para ele, ainda houve uma demora em determinar a obrigatoriedade do uso de máscaras. 
“O Brasil e o mundo demoraram muito para ter iniciado [o uso]. Acho que a OMS [Organização Mundial da Saúde] demorou em recomendar a utilização das máscaras”, afirmou. 
“Muitas vezes, as pessoas saem com a máscara, mas não a usam corretamente. A máscara precisa cobrir o nariz e a boca. Essa máscara não poder ficar pendurada no pescoço, ou simplesmente protegendo [somente] a boca. É importante que as pessoas a utilizem adequadamente”, alertou. 

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