BOLSONARO ESTÁ ACUADO PELAS PRÓPRIAS MENTIRAS E POR UMA DUVIDOSA VERDADE

É difícil o presidente negar as fake news que seu entorno produz; para comprovar que está doente, basta que aliados também fiquem.

Nossos avós diziam que mentira tem perna curta. O ditado, que soa hoje politicamente incorreto, cai bem para se falar do presidente da República. 

No discurso de posse, ele prometeu “libertar o povo” do politicamente correto. As próprias mentiras, suas e de seu entorno, são o que mais o ameaçam no momento.

Jair Bolsonaro anunciou na terça 7 ter sido diagnosticado com a Covid-19. Ganhou as manchetes e deixou em segundo plano, no noticiário, a estada do ex-serviçal 01 de sua família, Fabrício Queiroz, no presídio de Bangu 8, no Rio. Queiroz sabe tudo, tudo mesmo, o que o capitão fez nos 36 verões passados.
A paradoxal alegria do presidente – que parecia um contaminado satisfeito – durou apenas um dia. Na quarta 8, o Facebook removeu 88 perfis associados aos Bolsonaros e a seus assessores, parte deles ocupante de cargos públicos. 
Se ficar provado que, além de disseminar calúnias e difamações na campanha de 2018, o pessoal continuou no ramo das fake news utilizando computadores do Palácio do Planalto e da Câmara dos Deputados, mais um tópico se adicionará a um eventual processo de impeachment.
Queiroz foi para a prisão domiciliar graças à generosidade do presidente do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha, por quem Bolsonaro já disse ter sentido “amor à primeira vista”. Mas a notícia foi parar nos pés de página dos jornais (a 14 de “O Globo” de sábado).
Livre temporariamente do risco (muito baixo) de delação de Queiroz, Bolsonaro precisa se defender das acusações de que patrocinava mentiras que eram mesmo mentiras e, ainda, assegurar que uma anunciada verdade é mesmo verdade.
Em março, o presidente liderou uma comitiva de bajulação ao mentiroso mais poderoso do mundo, Donald Trump. Mais de 20 pessoas da delegação testaram positivo para Covid-19. Bolsonaro disse ter feito três testes com resultados negativos, embora tenha ido até à Justiça para não mostrá-los – quando exibiu um deles, estava em nome de outra pessoa, por alegados motivos de segurança.
Agora, o inexpugnável homem “com passado de atleta” afirmou estar com o coronavírus. Encontrou-se, sem usar máscara, com dezenas de pessoas nos dias anteriores. Se ele se curar, talvez possa apregoar que a cloroquina é a luz divina encapsulada. Porém, se ninguém com quem teve contato testar positivo, será um caso a ser estudado pela ciência – se ele acreditasse nela.
Para não deixar dúvidas sobre sua doença, convém que alguns aliados também estejam. Um deles é seu filho Eduardo, que ficou a seu lado no sábado 4, na casa do embaixador americano no Brasil, Todd Chapman. 
Estando realmente doente, terá posto em risco a vida de dezenas de pessoas, inclusive dos admiradores a quem cumprimentou em Santa Catarina, também no sábado 4. Será outro item na sua folha de maus serviços prestados à nação.
Bolsonaro é um voyeur – espera-se que apenas isso – da morte alheia. Já são mais de 70 mil os levados pela Covid-19, e ele permanece ignorando a tragédia. Faz da inoperância uma (necro)política de Estado e, sádico, mantém o Ministério da Saúde como acampamento de militares. O número 2 da pasta já ostentou na lapela broche com uma faca e uma caveira.
O staff do presidente adota, na propagação de mentiras, técnicas da escola Donald Trump com o modus operandi de seus amigos milicianos. É uma espécie de união digital entre o Velho Oeste e a Zona Oeste.
Bolsonaro chegou ao posto máximo do país montado em ódio e mentiras. Assumiu isso ao dizer que o principal responsável por sua vitória tinha sido seu filho Carlos – apontado como líder do chamado “gabinete do ódio”, em atividade no terceiro andar do Palácio do Planalto, e consagrado no Twitter por escrever palavras em português que não apresentam conexões entre si. Agora terá que lutar para não cair do cavalo de infâmias.
Como no texto anterior, encerra-se este com uma citação de letra de música, agora sem adaptação. É um trecho à vera de um fox-trot de Noel Rosa e de seu irmão, Hélio Rosa, composto em 1933: “Você só... mente”.
Invariavelmente, sem ter o menor motivo
Em um tom de voz altivo
Você, quando fala, mente
Mesmo involuntariamente, faço cara de contente
Pois sua maior mentira é dizer à gente que você não mente.
https://epoca.globo.com/artigo-bolsonaro-esta-acuado-pelas-proprias-mentiras-por-uma-duvidosa-verdade-24528983

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