Suzano - MP de SP apura se organização criminosa na 'deep web' incitou assassinos a cometerem massacre em Suzano - Procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, disse ao G1 que Ministério Público apura se Guilherme Monteiro e Luiz Castro integravam grupo de fórum em rede obscura da internet.
O Ministério Público (MP) de São Paulo vai apurar se uma organização
criminosa na internet está por trás do massacre em Suzano, ocorrido na
quarta-feira (13).
Dois assassinos mataram a tiros e machadas uma pessoa numa loja de carros, sete na Escola Estadual Raul Brasil e depois se mataram ao serem cercados por policiais militares. Outras 11 pessoas ficaram feridas, sendo que uma está em estado grave.
Um promotor do júri e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco), ambos do Ministério Público, querem saber se Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25,
foram incitados ao crime por membros do fórum Dogolachan na deep web,
uma internet considerada obscura na qual pessoas anônimas incitam ódio e
intolerância.
“A gente tem notícia de que os assassinos se comunicavam pela deep web
com outras pessoas. Isso portanto precisa ser investigado para se
verificar se há uma organização criminosa atuando por trás da ação que
cometeram”, disse nesta quinta-feira (14) ao G1 o chefe do MP, o procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio.
O Ministério Público atuará diretamente com ao Polícia Civil, que já
investiga o caso e busca saber qual foi a motivação do crime.
Informações preliminares da investigação policial indicam que Guilherme e Luiz premeditaram o crime, planejando ele por mais de um ano,
e ainda pretendiam matar mais pessoas do que as 13 vítimas fatais do
massacre de Columbine, ocorrido em 1999 nos Estados Unidos.
Naquele
crime cometido há 20 anos numa escola, dois assassinos também se mataram em seguida.
No massacre de Suzano, os assassinos eram ex-alunos
da escola. E um dos mortos era um tio de Guilherme, que foi executado
pelo sobrinho porque teria descoberto o plano deles de cometer uma
chacina na Raul Brasil.
Deep web
Computadores usados pelos dois foram apreendidos pela polícia. Segundo
investigadores, eles acessaram a deep web e buscaram informações sobre
massacres cometidos em escolas americanas.
Além disso, foram recolhidos cadernos com anotações deixados por eles no carro alugado e usado no crime.
“A apuração sobre o que aconteceu em Suzano precisa ser a mais completa
possível para se ter maior segurança e evitar que isso não se repita”,
falou o procurador Smanio sobre pessoas nas redes sociais que incitam
crimes. “Há uma comoção social grande para que esse tipo de conduta e
outras pessoas possam praticar a mesma coisa”.
“Muito obrigado pelos conselhos e orientações ... esperamos não cometer
esse ato em vão”, teria escrito um dos assassinos dois dias antes do
massacre em Suzano no fórum Dogolachan na deep web.
Smanio designou o promotor Rafael Ribeiro do Val e membros do Gaeco
para apurarem se alguma organização criminosa colaborou para "eventual
cometimento de crimes relacionados a terrorismo doméstico, como apontam os primeiros indícios".
O termo terrorismo doméstico é usado para definir atentados terroristas
cometidos por cidadãos contra o seu próprio povo ou governo.
Crimes cibernéticos
De acordo com Smanio, o Ministério Público irá contar com o
assessoramento do Cyber Gaeco para tentar esclarecer quem são as outras
pessoas que teriam conversado com Guilherme e Luiz na Deep Web.
“É nosso núcleo de crimes cibernéticos. É preciso fazer essa
investigação para dar segurança as pessoas pois ainda não sabemos a
motivação do crime e como eles tiveram acesso às armas, por exemplo”,
disse o procurador-geral.
Perícias nos computadores usados pelos assassinos poderão informar com
quem eles se relacionavam e conversavam a respeito do cometimento de
crimes.
Os dois também frequentavam uma lan-house onde jogavam games de
tiros.
Guilherme ainda chegou a postar fotos ameaçadoras na internet momentos antes do crime. Ele aparece armado e com uma máscara de caveira numa das imagens.
“Tem que fazer perícia nos computadores que fizeram acesso, se estão
ligados a outras pessoas, se é um grupo ou não. Não dá para descartar
nada disso”, falou Smanio.
Armas
A Polícia já sabe que o revólver calibre 38 usado na chacina estava com
a numeração raspada, o que indica a possibilidade de ele ter sido
obtido com algum outro criminoso.
Um machado, uma besta, espécie de arco
com flecha, e bombas caseiras também estavam com a dupla.
Um dos amigos dos criminosos foi ouvido pela polícia na noite de quarta
e contou que soube da intenção da dupla em fazer o atentado. Só não
sabia quando seria.
Os investigadores já ouviram 20 pessoas no total, entre pessoas próximas aos assassinos e vítimas deles.
Dogolachan
O G1
apurou que promotores paulistas estudam a possibilidade de vir a pedir
colaboração do Ministério Público em Curitiba para tentar falar com um
dos homens apontados como criadores do Dogolochan.
Marcelo Valle Silveira Mello está
preso desde 2018 após ter sido condenado pela Justiça a mais de 40 anos
de prisão por associação criminosa, divulgação de imagens de pedofilia,
racismo, coação, incitação ao cometimento de crimes e terrorismo
cometidos na internet.
O G1 não conseguiu localizar a defesa de Marcelo para comentar o assunto.
Um delegado especializado em crimes cibernéticos afirmou a reportagem
que o Dogolochan ainda existe na deep web porque está sendo moderado por
outro brasileiro, que foi expulso dos Estados Unidos e estaria morando
na Espanha.
O especialista pediu para não ter o nome divulgado.
Dependendo do andamento das investigações, a Polícia Federal (PF) e o
Ministério Público Federal (MPF) poderão ser acionados pela Promotoria
de São Paulo.
“Por enquanto a atribuição da investigação será estadual
porque não tem interesse da União”, explicou Smanio.
Por Kleber Tomaz, Thiago Lavado e Altieres Rohr, G1 SP
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/03/14/mp-de-sp-apura-se-organizacao-criminosa-na-deep-web-incitou-assassinos-a-cometerem-massacre-em-suzano.ghtml