Infraero desliga 1,1 mil, mas despesa com pessoal cresce R$ 34 milhões Após concessões dos aeroportos, a receita da empresa caiu pela metade, mas folha de pagamento continua alta e orçamento está no vermelho. Plano de demissão voluntária está aberto e deve ser revisado depois do leilão de mais quatro aeroportos, marcado para março.
A Infraero reduziu 1.125 pessoas do
quadro de funcionários ao longo de 2016 e mesmo assim não conseguiu
diminuir as despesas com a folha de pagamento. De janeiro a novembro,
último mês com dados já consolidados pela empresa, foram desembolsados
R$ 927,5 milhões para pagar salários e gratificações, 26% do total de
despesas da estatal.
Em 2015 o gasto com empregados foi
responsável por 19% das despesas - R$ 34 milhões a menos na comparação
com o mesmo período de 2016 - de acordo com dados obtidos por meio da
Lei de Acesso à Informação.
Desde que o governo deu início às
concessões de aeroportos, em 2012, a Infraero perdeu metade da receita.
Seis grandes terminais, entre eles Guarulhos, em São Paulo, Galeão, no
Rio, e o JK, em Brasília, passaram para o setor privado e levaram com
eles os lucros.
Para a empresa pública, restou a gestão
de aeroportos menores, que nem sempre são economicamente sustentáveis.
Como o trabalho diminuiu e é preciso reequilibrar as contas, o governo
prometeu enxugar a Infraero.
De lá pra cá, 2.500 funcionários
aderiram ao programa de transferência ou aposentadoria voluntária. Mesmo
assim, as contas não fecham. Em 2015, o prejuízo foi de R$ 3 bilhões.
No ano passado, até novembro, o déficit estava em R$ 1,2 bilhão.
Entre os funcionários o clima é de
insegurança e nos corredores há reclamação do loteamento político na
estatal, hoje nas mãos do PR, partido da base de Michel Temer e
importante na votação do impeachment. Ao assumir o comando da Infraero
Antonio Claret trocou toda a diretoria.
Um mês depois de sua posse, a despesa de
encargos diretos com pessoal mais que dobrou: saiu de R$ 68,4 bilhões
para R$ 183,3 bilhões. Segundo a Infraero, a explosão de gastos não tem a
ver com indicações, mas com as indenizações dos funcionários
desligados. De acordo com a empresa, 339 empregados saíram naquele mês.
O especialista em orçamento e finanças
públicas Paulo Brasil avalia que falta gestão na empresa, já que as
concessões começaram há quase cinco anos e os prejuízos continuam:
'Abriu mão da receita ao administrar os
aeroportos, mas aí você precisa enxugar a empresa. Sem fazer uma análise
detalhada, a impressão é de que falta gerenciamento.'
O presidente do Sindicato Nacional dos
Aeroportuários, Francisco Lemos, diz que o loteamento político sempre
ocorreu na empresa e que os números mostram que a política de concessões
não deu resultado:
'A atividade aérea neste país está
totalmente a reboque de politicagem, e não de política. Se continuar
desse jeito, a Infraero vai quebrar. E aí quem quebra é o país.'
A Infraero diz que as demissões de 2016,
com pagamento de direitos trabalhistas, ainda impactam o orçamento e
por isso as despesas não caem. O plano de demissões voluntárias continua
aberto e deve ser revisado este ano, depois do leilão de mais quatro
aeroportos.
A previsão é de que em março, os
terminais de Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Florianópolis também
passem a ser geridos por empresas privadas.
Por Carolina Martins - http://cbn.globoradio.globo.com/