Desemprego - 90% dos trabalhadores de obras da Olimpíada já foram demitidos
Dos mais de 20 mil trabalhadores das obras de infraestrutura, cerca de 18 mil já foram dispensados. A maior preocupação da categoria é com a ausência de novos projetos.
Por Bárbara Souza (barbara.souza@cbn.com.br)
Com o término da Olimpíada do Rio, 
também chegam ao fim as principais obras que moveram a cidade durante os
 preparativos. 
Dos cerca de 21 mil trabalhadores envolvidos nas maiores 
contruções ligadas aos jogos, sendo 30% de fora do estado, mais de 9,3 
mil foram demitidos apenas este ano. 
O número já ultrapassa as 8,7 mil 
demissões realizadas no setor em 2015, segundo o sindicato da categoria.
Os três mil operários que ainda estão empregados não devem se manter em
 seus empregos por muito tempo, já que mais vagas devem ser fechadas 
assim que os últimos ajustes das obras forem concluídos. 
Diretamente 
afetados, os operários demitidos precisam improvisar para garantir o 
sustento de suas famílias. 
É o caso de Carlos Alberto de Oliveira que, 
após seis meses de trabalho na obra do BRT Transolímpico, ficou 
desempregado.
Carlos Alberto já sabia que a obra tinha data para acabar e
 guardou parte do dinheiro recebido. 
Mas enquanto não encontra um novo 
emprego, improvisa fazendo bicos e pequenos serviços domésticos. 
'Se tivesse outra obra, iam me 
tranferir. 
Mas como está ruim de serviço, acabamos voltando para casa. 
Mas enquanto eu não alcanço meu objetivo, vou explorando outras áreas. 
Não tenho medo de trabalhar: seja capinar ou varrer'.
As obras que geraram mais empregos no 
Rio foram as de infraestrutura de transporte, como o metrô, BRT, 
aeroporto do Galeão e VLT. As arenas olímpicas também empregaram muita 
gente.
No total, mais de 30 mil trabalhadores foram mobilizados. Segundo
 o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil Pesada,
 Nilson Duarte Costa, é normal o operário perder o emprego após o 
término de uma obra.
No entanto, o que mais preocupa no momento é a 
falta de perspectiva de novas construções em meio à crise econômica e 
aos impactos da Operação Lava Jato.
'A gente está muito preocupado. 
Está 
havendo um desemprego muito grande, estão mandando a maioria dos 
trabalhadores embora e não há perspectiva de novos empregos. 
O problema é
 que tudo começou com a Lava-jato'.
De janeiro a junho, a capital fluminense
 perdeu mais de 17 mil postos formais de trabalho no setor da construção
 civil, o maior corte entre as cidades do país, de acordo com o 
Ministério do Trabalho.
Somando os postos perdidos em 2015, são quase 30
 mil vagas formais a menos em 18 meses.
De acordo com Guilherme Póvoas, 
porta-voz do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do Rio, as 
obras ligadas à Olimpíada apenas adiaram os impactos da crise econômica 
sobre o setor no estado.
Ele afirma que, após uma década muito 
movimentada, o que se observa agora é uma grande paralisia. 
'As construtoras diminuíram os 
investimentos, elas tinham empreendimentos para lançar e deixaram de 
fazer isso. 
Estão sofrendo muito com os destratos, que são os 
cancelamentos das compras de apartamentos. A geração de empregos sofre'.
Além dos operários que atuaram nas obras
 de infraestrutura, cerca de 90 mil profissionais foram contratados para
 vagas temporárias no Rio, de acordo com o Comitê Rio 2016. Muitas 
dessas vagas também devem ser fechadas, afetando outros setores como o 
de hotéis, bares e restaurantes.
Para o presidente do sindicato que 
representa a categoria, Pedro de Lamare, o período olímpico serviu para 
aliviar um pouco a crise que já afetava o setor. Mas ele acredita que 
depois dos jogos, a situação voltará à dificuldade de antes.
'A gente tem um estado numa situação 
financeira dificílima. A perspesctiva é continuar com as mesmas 
dificuldades de antes, mas com o caixa melhorado'.
A alta expressiva das demissões também 
se reflete na Justiça do Trabalho.
O juiz Fabio Correia Luiz Soares 
afirma que foi registrado um aumento de 10% nas ações de funcionários 
demitidos contra suas antigas empresas. 
Segundo ele, a maioria dos 
processoe é de trabalhadores da construção civil que buscam o pagamento 
da recessão, do fundo de garantia e de outros direitos.
'Isso preocupa o estado, os 
trabalhadores e a Justiça do Trabalho. As demandas não param de chegar. 
São muitos trabalhadores abrindo processos para tentar receber esses 
valores'.
O economista Gilberto Braga, professor 
de finanças do Ibmec, recomenda que quem não conseguir continuar no 
setor de construção civil, por exemplo, faça cursos profissionalizantes 
para se adaptar às novas demandas do mercado. 
Ainda de acordo com o economista, manter
 o mercado de trabalho da construção civil em alta depende do 
reaquecimento do mercado imobiliário do Rio e da recuperação do setor 
petroleiro, o que pode impulsionar a retomada de obras como as do 
Complexo Petroquímico em Itaboraí, na Região Metropolitana. 
Mas tudo 
isso também está ligado à solução da crise econômica do país.
