As construtoras brasileiras continuam sentindo os efeitos da crise.
Além
das vendas de imóveis continuarem em queda, as compras na planta estão sendo
canceladas (o chamado distrato).
Nenhuma das dez empresas do setor listadas na Bolsa viu seu lucro crescer
no segundo trimestre do ano. Metade registrou prejuízo.
Pressionados pela crise, os bancos elevaram os juros e ficaram mais
rigorosos para conceder financiamento, etapa que acontece em média três anos
após a compra do imóvel na planta, diz Luiz Fernando Moura, diretor da Abrainc,
associação que reúne incorporadoras.
Assim, os distratos que ocorrem agora resultam, em grande medida, de
unidades vendidas em 2013, antes da economia entrar em recessão.
De lá pra cá, esses clientes foram pegos de surpresa pelo aumento do
desemprego e queda na renda. Sem dinheiro e sem conseguir ter o crédito
aprovado no banco, eles desistem da compra.
Outro perfil de cliente que tem impulsionado os distratos são os
investidores, que não têm interesse em ficar com um imóvel que compraram na
planta para lucrar com a revenda da unidade pronta.
Despencando
Na Eztec, enquanto o valor das vendas caiu 78%, o dos distratos cresceu
123% entre o segundo trimestre de 2015 e o de 2016. Sem compradores, a
incorporadora acabou alugando unidades de empreendimentos comerciais para
outras empresas.
Na Cyrela, os distratos estão em torno de 33% do valor geral das vendas,
diz Eric Alencar, diretor financeiro da empresa. "Quando o mercado está
normalizado, o nível é menos da metade disso", afirma o executivo.
Contatada, a empresa não informou a variação em relação ao ano passado.
A desistência ocorre sobretudo nos empreendimentos direcionados para a
classe média, mais dependente de crédito do que a alta renda e sem acesso aos
subsídios das habitações populares, afirma Moura, da Abrainc.
(Folha de São Paulo - Mercado - 16/08/2016)
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