Julian Lemos diz que Bolsonaro é o “bobo da corte” que será jogado na lama pela elite

Julian Lemos diz que Bolsonaro é o “bobo da corte” que será jogado na lama pela elite


Em entrevista a
Joaquim de Carvalho, ex-deputado denuncia corrupção moral e institucional, e afirma ter rompido com Bolsonaro por ciúmes dos filhos

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247 – Em entrevista concedida ao jornalista Joaquim de Carvalho, da TV 247, o ex-deputado federal Julian Lemos, um dos primeiros aliados de Jair Bolsonaro na construção da candidatura presidencial de 2018, fez duras críticas ao ex-presidente, revelando bastidores de bastidores pouco conhecidos da campanha e do governo. Lemos, que foi um dos responsáveis pela segurança de Bolsonaro nas viagens pelo Brasil e atuou como articulador político nos primeiros anos do bolsonarismo, não poupou palavras: “Bolsonaro é um líder decadente, um farsante, o estandarte de tudo aquilo que ele criticava”.

Ao longo da longa e contundente entrevista, Lemos traçou um retrato de bastidores recheado de episódios reveladores, que vão desde a convivência pessoal com Bolsonaro e sua família até suspeitas em torno da facada sofrida em Juiz de Fora. Ao ser questionado sobre sua atual visão sobre o ex-presidente, afirmou: “Ele é hoje sócio do sistema que dizia combater. É um populista de série C, que enriqueceu na política e hoje representa o caos”. E completou: “Bolsonaro é a síntese de um anticristo. Ele corrompeu os valores cristãos, desestabilizou famílias e a própria política brasileira”. 

“Mito do caos”: liderança baseada na manipulação

Julian Lemos afirmou que o discurso moralista de Bolsonaro foi uma construção baseada na hipocrisia. Segundo ele, o ex-presidente manipulou as massas, especialmente os evangélicos, apresentando-se como defensor da família e da fé, mesmo sendo “péssimo marido, pai ausente e homem sem compaixão”. Ele denunciou a simbiose entre o bolsonarismo e segmentos neopentecostais, que segundo ele foram “corrompidos” por interesses políticos e econômicos.

“Bolsonaro usou a Bíblia como um escudo. Citava versículos como João 8:32, mas não respeitava nenhum princípio cristão. Ele é o arquétipo do bezerro de ouro que enganou até os escolhidos”, disparou. 

A facada e as suspeitas: “Foi sorte, não azar”

Sobre o atentado sofrido por Bolsonaro em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora, Lemos foi direto: “A facada existiu, mas há muitas perguntas sem resposta”. Disse que o corte foi pequeno, mas resultou em uma grande operação abdominal. “O estranho é o comportamento de todos ao redor. Ninguém parecia surpreso ou preocupado. Jair, no hospital, já dizia que a eleição estava ganha.”

Lemos lembrou ainda que Carlos Bolsonaro, que raramente participava das campanhas de rua, estava presente justamente naquele dia. “Depois do atentado, ele disse que reconheceu o Adélio e se trancou no carro. Mas por que não acionou os seguranças? Por que todos os agentes envolvidos foram promovidos?”, questionou. “Foi uma investigação frouxa. O documentário do Joaquim escancara isso.”

Ruptura com Bolsonaro: “Foi ciúme dos filhos”

Lemos revelou que seu rompimento com o ex-presidente aconteceu por ciúmes dos filhos, especialmente Carlos Bolsonaro. Após participar ativamente da campanha e indicar nomes para a transição, ele foi sendo afastado. “Carlos não suportava ver ninguém brilhar ao lado do pai. Eles me rifaram por insegurança e vaidade.”

Segundo ele, Bolsonaro sabia do que estava ocorrendo, mas se omitiu. “Disse que não controlava o Carlos. Isso é inadmissível num chefe de Estado. Eu disse para ele: ‘Você precisa me respeitar, não sou babá de menino’.” 

O perfil do clã Bolsonaro: “Família colapsada”

Em seu relato, Julian Lemos detalhou a convivência na casa da família Bolsonaro e descreveu o ambiente como “tenso e denso”. Disse que os filhos de Jair são extensões das suas próprias neuroses e que a primeira-dama Michele Bolsonaro não tinha afeição pelo marido. “O casamento era uma farsa. Aquela cena do hospital, dela massageando o pé dele, foi puro teatro.”

Relatou também o comportamento desequilibrado de Carlos Bolsonaro, a quem descreveu como narcisista, manipulador e agressivo. “Ele destruiu alianças, perseguiu aliados como Gustavo Bebianno, Santos Cruz e até a Joyce Hasselmann, que ele odiava.”

De aliado a crítico feroz: “Votei em Lula”

Após romper com Bolsonaro, Lemos afirma ter votado em Lula em 2022. “Não conheço Lula pessoalmente, mas conheço Bolsonaro. E só isso já basta. O bolsonarismo representa o ódio, a mentira, a destruição. Eu sou um radical antibolsonarista.”

Ele ainda fez críticas ao PT, destacando que a vitória de Lula se deu mais pelo antibolsonarismo do que pelo apoio à esquerda. “O PT precisa se renovar. A direita está se organizando, tem candidatos viáveis e joga pesado. Se Lula não agir, o centrão vai sabotá-lo até o fim.” 

“Bolsonaro não voltará à presidência”

Para Julian Lemos, o sistema político já descartou Bolsonaro. “Ele é apenas o estandarte, o bobo da corte. O sucessor já está pronto: é Tarcísio. Bolsonaro será jogado na lama, sozinho. A elite não o quer mais.”

A entrevista, carregada de informações de bastidores, críticas severas e reflexões políticas, é um documento fundamental para compreender os mecanismos internos do bolsonarismo e suas consequências para o país. Com sua trajetória de aliado íntimo a crítico radical, Julian Lemos se tornou uma das vozes mais potentes a denunciar a farsa que, segundo ele, tomou conta da política brasileira nos últimos anos. Assista:

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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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“Parecia que ele não tinha levado uma facada. Ele disse: ‘ganhamos a eleição’”, conta Julian Lemos sobre Bolsonaro

O ex-deputado e coordenador da campanha bolsonarista em 2018 revelou detalhes intrigantes sobre o episódio em Juiz de Fora

Julian Lemos afirma que a facada existiu, mas revelou profundas dúvidas sobre o cenário do atentado: “Facada eu sei que teve. Eu só não sei se encomendaram na perna ou na barriga, se era pra empurrar a cabecinha ou empurrar o talo todo, eu não sei.”

Ele relata que o comportamento de Adélio Bispo de Oliveira  naquele 6 de setembro chamou sua atenção quando viu as imagens no documentário “Bolsonaro e Adélio - Uma fakeada no coração do Brasil”, mas, acrescenta, que, estranhamente, esse comportamento foi ignorado pelos seguranças. 
“Dificilmente eu, Julian Lemos, não teria percebido o Adélio, porque ele era um corpo estranho no meio daquela multidão. Ele era praticamente um urubu no meio de papagaio.” Julian Lemos é empresário na área de segurança.

“Ele (Adélio) era obstinado. A galera empurrava e ele ali. Ninguém viu, cara? Isso aí me chama atenção. Não sei te explicar. Não é usual, não é assim que funciona.” 

Segundo Lemos, os seguranças falharam de forma inexplicável: “A gente tá falando aqui de homens treinados para fazer segurança. E o cara foi de primeira, amigo. De segunda, pra não dizer de primeira.” E acrescentou: “Não era pra ter acontecido.” O atentado aconteceu na segunda tentativa, depois que Adélio derrubou um segurança ao tentar atingir Bolsonaro.

E ao visitar o então candidato no hospital, três dias depois, notou uma reação completamente fora do esperado:

“Quando eu chego na segunda-feira no hospital, Jair Bolsonaro só não soltou foguetão. Disse: ‘Aí não adianta ninguém fazer mais nada, a gente ganhou a eleição’. Só faltou ele fazer ‘ihu’, como ele faz.”

Perguntas sem resposta
A entrevista e o documentário apresentam uma série de pontos obscuros: 

  • Adélio Bispo fez curso de tiro em junho de 2018 no Clube .38, em Florianópolis — frequentado por Carlos e Eduardo Bolsonaro.

  • Carlos Bolsonaro estava em Florianópolis naquele mesmo dia. Na entrada do clube, está  emoldurado o certificado da medalha que Carlos Bolsonaro concedeu, em nome da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, o que demonstra ligação entre o vereador e a entidade.

  • Uma imagem do documentário mostra Adélio caminhando em direção a Carlos Bolsonaro pouco antes da passeata. Carlos, ao vê-lo, se tranca no carro, evitando contato.

  • Os seguranças de Bolsonaro foram promovidos após o atentado. Três deles fundaram o que a Polícia Federal classificou como a Abin Paralela, uma central de espionagem política do governo bolsonarista.

O documentário também provocou reações entre antigos aliados de Bolsonaro. O ex-deputado Alexandre Frota, ao assisti-lo, afirmou:

“Depois que eu vi o documentário, eu repensei o episódio.”

Questionado se hoje acredita que a facada foi falsa, respondeu: “Do Bolsonaro, eu espero tudo.”

Julian Lemos também fez coro: “Depois que eu vi seu documentário, eu fiquei em dúvida. Você fez um trabalho investigativo.” 

Lemos ainda comentou os bastidores do afastamento do seu grupo:

“A segurança que falhou foi promovida. Carlos Bolsonaro começou a me atacar por ciúmes, porque eu estava próximo demais. Fui afastado depois.”

E criticou a falta de apuração séria: “A investigação foi mal feita. Muita coisa foi ignorada. A mídia engoliu a versão oficial sem fazer perguntas.”

Julian Lemos revela um cenário repleto de contradições. A facada em Bolsonaro está cercada de omissões, conveniências e falhas que desafiam a versão oficial.  

Com declarações como “parecia que ele não tinha levado uma facada” e “só faltou ele soltar foguetão”, Lemos sugeriu que a reação do então candidato já indicava que a facada se transformaria na maior virada política da eleição. 

O que aconteceu depois que o documentário foi ao ar é uma demonstração do que, certamente, ocorrerá com a mídia independente em razão do julgamento do artigo 19 do Marco Civil da internet. A Justiça, provocada, se recusou a censurar, mas o YouTube, que é de uma empresa privada, o retirou da plataforma.

O episódio da facada em Juiz de Fora é um caso em aberto. Que não sejam caladas as vozes que ousam apontar suas contradições e inconsistências. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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